O aumento contínuo do preço dos combustíveis, que já foi designado como o novo choque petrolífero, ameaça dar origem a uma crise que exige novas respostas da esquerda em geral, não apenas em Portugal, mas também a nível europeu e mundial.
O surgimento da crise energética não é da responsabilidade do governo, que tem apostado com sucesso nas energias renováveis, as quais têm conhecido um grande incremento nos últimos anos.
O governo não pode, contudo, deixar de fazer tudo o que for possível para atenuar as consequências sociais da actual crise, que pode atingir amplas camadas sociais, sem enveredar por caminhos que já se revelaram errados no passado, como seria alterar as taxas de impostos sobre os combustíveis. É preciso avaliar porque é que os operadores que actuam em Portugal no mercado dos combustíveis beneficiam de margens que nalguns casos são superiores às dos que actuam noutros países e o que é possível fazer para reduzir essas diferenças.
Torna-se também necessário dar sinais claros em todos os novos projectos de obras públicas, como a travessia Chelas - Barreiro, de que o transporte público é cada vez mais essencial para o futuro face a previsível evolução do mercado dos combustíveis. As medidas anunciadas pelo governo são positivas, mas ainda insuficientes e sem dar resposta a situações específicas como, por exemplo, a da pesca.
O aumento dos combustíveis criou uma crise sem precedentes no mundo da pesca. O peixe é vendido pelos pescadores a um preço muito inferior ao que chega à mesa dos consumidores, o que exige uma reflexão sobre o nosso sistema de distribuição.
O aumento do preço dos cereais vem juntar-se aos problemas decorrentes do aumento do preço dos combustíveis.
Estas crises vieram tornar mais urgente uma reflexão sobre a forma como se está a verificar a globalização, uma análise da formação dos preços e dos processos especulativos em torno da produção de petróleo, da sua refinação e do seu comércio.
Para além de aspectos conjunturais ligados a situações climáticas ou a erradas opções políticas, há um dado que irá marcar cada vez mais a economia mundial, o aumento dos número dos consumidores com poder de compra, à medida em que na Ásia, na América Latina ou em África emergirem da pobreza milhões de cidadãos consumidores. Estas questões vão exigir o aumento da produção de bens alimentares a nível mundial e, uma repartição mais equitativa da riqueza, entre os diferentes países e dentro de cada país. São os mais pobres dentro dos países mais pobres, que são mais ameaçados pela fome. Neste mundo repleto de incertezas, considero que é necessário encontrar respostas novas, que permitam manter a iniciativa política e social em torno das metas sociais consagradas na Constituição da República. Esta é a responsabilidade do governo e dos socialistas, mas também das restantes esquerdas que não se podem limitar a atacar as soluções avançadas pelo governo. O debate político na esquerda tem de ser racional e argumentativo, sem preconceitos, nem ataques pessoais.
Reflectir sobre as desigualdades sociais ou sobre o combate mais eficaz à corrupção tem de fazer parte da agenda das diferentes correntes políticas da esquerda neste momento.
Há um tempo para tudo, um tempo para afirmar diferenças programáticas e estratégias eleitorais; e outro tempo para ouvir outras esquerdas e afirmar a vontade de encontrar respostas necessariamente novas para novos problemas.
É neste contexto que situo a sessão festa que um conjunto de cidadãos, de diferentes sensibilidades de esquerda e independentes, decidiram promover Agora Aqui com referência aos ideais de Abril e Maio, cujo apelo que podem ler aqui, subscrevi.
A sessão só resultará plenamente se não for uma repetição dos mesmos discursos, das mesmas queixas, se representar o reconhecimento de que é necessário procurar, com humildade e determinação, formular novas respostas, e for simultaneamente uma expressão de cidadania exigente contra a insegurança, contra as desigualdades, por mais e melhor democracia, como temos defendido aqui.
domingo, junho 01, 2008
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2 comentários:
O futebol é o ópio do povo.
Enquanto se alienarem com as alegrias e tristezas que os êxitos e fracassos dos jogadores, NÃO PENSAM nas coisas que realmente importam na vida.
É precisamente isso que os dirigentes direitistas e anti-democratas gostam. Assim o povo não os incomoda e deixa-os prosseguir calmamente as suas políticas de asfixia das classes média baixa.
É necessário continuar a pensar e a agir, porque se assim for as coisas movem-se.
Na sequência do que escrevi sobre a globalização li, com muito interesse, o artigo de Teresa de Sousa «As outras faces da globalização», publicado hoje no Público e a referência que faz ao livro de Fareed Zakaria «The Post-American World: The Rise of the Rest».
Com estima
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