domingo, agosto 30, 2009

NÃO PODEMOS ADIAR A ESPERANÇA NUM FUTURO MELHOR

Antes de começar a campanha eleitoral é bom que reflictamos sobre o que está em jogo nas próximas eleições legislativas e a questão é muito clara, ou o PS ganha as eleições legislativas ou ganha o PSD. Aliás, hoje, a opção é ainda mais nítida, a direita, pretende reunir as condições para assegurar uma hegemonia duradoura, assegurando uma maioria na Assembleia da República, um governo, e contando já com um Presidente alinhado com a sua agenda política conservadora.
As consequências de uma ou outra vitória serão enormes para o futuro do Portugal e terão uma tradução directa nas condições de vida dos portugueses e de todos os cidadãos residentes em Portugal.
José Sócrates lançou as bases para uma mudança profunda de Portugal, que permite preparar-se para o novo quadro económico e político internacional emergente no século XXI e enfrentar hoje com possibilidades de sucesso a actual crise económica.
Esta governação não foi isenta de erros, nem seria de esperar que o fosse. Numa altura, em que era mais difícil criticar, subscrevi uma moção crítica com Helena Roseta e disse-o de viva voz perante o Congresso do Partido Socialista, como podem recordar aqui. Continuo a considerar pertinentes as críticas então formuladas.
Não podemos, contudo ignorar, que o activo do Governo do PS, ultrapassa de longe as críticas legítimas que se possam formular a esta ou aquela área da governação.
José Sócrates soube aprender com alguns dos erros cometidos. O último Congresso do Partido Socialista representou um passo decisivo na preparação de novas propostas políticas, que encontraram tradução no programa eleitoral do Partido Socialista, que podem ler aqui, no qual considero que a generalidade dos socialistas, incluindo, os que consideram ter tido motivos legítimos de crítica, se podem reconhecer no essencial.
Não há dúvida que faz sentido votar PS para fazer Avançar Portugal, mas também para que se aplique uma agenda social, que faz parte do programa e que estou certo José Sócrates irá aplicar com a mesma determinação com que aplicou a agenda de modernização tecnológica com evidente sucesso.
A esquerda socialista, sem abdicar do seu espírito crítico e inclusive das suas divergências, só tem uma opção, tudo fazer para que o PS vença o PSD.
Francisco Louçã e o PCP enganam os eleitores de esquerda quando fazem crer que votar PS ou PSD é a mesma coisa, e que, de qualquer forma, a vitória do PS nas eleições legislativas está assegurada.
Os jovens à procura do primeiro emprego, os trabalhadores a braços com empresas em crise, os desempregados, os funcionários públicos, os sobreendividados, os reformados, os idosos empobrecidos, as pessoas que vivem em união de facto, todos os cidadãos vítimas de discriminações, não podem ficar à espera da “esquerda exemplar” que resultará um dia da recomposição da esquerda. Parafraseando Keynes, a longo prazo, pelo menos muitos de nós estaremos mortos.
Francisco Louçã só tem ilusões e muitas confusões para oferecer, como resulta com clareza da sua entrevista ao “Expresso” (29 de Agosto de 2009). O objectivo do BE é aumentar os resultados eleitorais, não é assegurar que Portugal seja governado à esquerda. A recusa do BE em participar de uma alternativa de esquerda com o Partido Socialista na Câmara de Lisboa, mostra que quando está em causa uma batalha decisiva para a esquerda, o BE só tem um objectivo procurar ter mais uns votos, demonstrando que toda a conversa sobre o diálogo à esquerda só tem para o BE como objectivo criar condições para o seu crescimento eleitoral. Se o BE nem sequer está disponível para contribuir para uma esquerda plural a nível local, é justo concluir, que assim será também a nível nacional.
Ora tudo isso é grave porque raramente esteve tão em causa como nestas eleições, a opção entre a esquerda e a direita. Mentem ao povo de esquerda todos os que procuram insinuar que os programas do PS e do PSD são idênticos.
Como alerta Boaventura Sousa Santos aqui, o cidadão comum de esquerda não pode ignorar que “o dano que a direita fará ao já minguado Estado - Providência será desta vez irreversível” (Um cidadão comum de esquerda, Radar Ensaio, Visão n.º860).
O cidadão comum de esquerda não pode por isso abster-se, ou votar apenas por protesto, não deve equivocar-se, terá de votar no PS e em José Sócrates, porque é única forma racional de lutar pela concretização da sua esperança. Não podemos adiar a esperança num futuro melhor.

quinta-feira, agosto 27, 2009

AGENDA CULTURAL (24)

PROGRAMAÇÃO
TODOS – CAMINHADA DE CULTURAS

Texto de Abertura

TODOS…
Não é um festival, é um convite para caminhar,
Passear por um dos bairros mais antigos de Lisboa,
Palmilhar S. Domingos, Martim Moniz, Intendente, Mouraria e Anjos, para passar a conhecê-los como a palma da mão.
Um fim-de-semana para:
cortar o cabelo num cabeleireiro chinês, ou africano,
dançar como em Bollywood, ou na Moldávia,
vestir um sari,
descansar na rua da Palma,
comer carne Halal, muamba, makoufe,
ouvir cânticos ucranianos da antiguidade,
deitar-se a céu aberto e, com roupa usada, desenhar continentes,
calibrar os pneus do carro a preços convidativos…
TODOS propõe ao longo de quatro dias um contacto com as culturas que habitam esta zona da cidade através das músicas, das religiões, das comidas, do comércio e das pessoas. Passeios a pé levam o público a conhecer uma pessoa na sua própria casa, a descobrir uma escadaria de azulejos à luz da vela, uma mesquita onde só os homens poderão entrar, ou lições de culinária com ida prévia às compras.
A substituir a publicidade urbana de grande formato, o fotógrafo francês Georges Dussaud instala nas paredes vazias dos edifícios imagens novas de uma população fulgurante oriunda de vários pontos do mundo, que vive nas sombras do bulício da cidade.
Concertos multiculturais no largo do Intendente e Martim Moniz, uma fanfarra oriental pelas ruas da Palma, Benformoso e ruelas da Mouraria, filmes documentais que falam de realidades "invisíveis" que existem no coração das cidades, pequenas peças de teatro, dança e música instaladas em lojas e associações culturais que se dão a conhecer em salas referenciais do bairro.
TODOS é um momento de uma festa internacional com enfoque nos países das pessoas que vivem nesta zona da cidade. TODOS é um espaço de reconhecimento e celebração
de uma Lisboa outra e nova que devemos incluir definitivamente na nossa identidade urbana.
Um programa que se desenha num jogo informal de diálogos culturais, encontros entre moradores e artistas, vivificação de espaços, trocas entre culturas, encontros entre tradições portuguesas e estrangeiras. Um programa que se faz de eventos maiores de rua e de acontecimentos mais pequenos que ligam o público à comunidade e aos artistas convidados. Lojas, restaurantes, cabeleireiros, lugares de culto e associações tornam-se também protagonistas nesta caminhada que se deseja festiva. Caminhada para o cruzamento dos povos que habitam a cidade e que são também afinal lisboetas.
Para conhecer a programação ver aqui .

domingo, agosto 23, 2009

ANTÓNIO COSTA - AS PESSOAS SÃO O CORAÇÃO DE LISBOA

As próximas eleições são uma escolha entre competência e incompetência, entre rigor e irresponsabilidade, mas também entre uma política que considera que as pessoas são o coração de Lisboa e a que continua a privilegiar a realização de obras que apenas encham o olho, em suma entre António Costa e a Coligação de Direita.
António Costa procurou assegurar a mais alargada colaboração que foi possível e as listas do Partido Socialista para a Câmara e para a Assembleia Municipal integram independentes e cidadãos identificados com os movimentos Cidadãos por Lisboa que podem conhecer melhor aqui e Lisboa é Muita Gente, que podem conhecer melhor aqui. Três listas do Partido Socialista para as Freguesias englobam também cidadãos identificados com o movimento Cidadãos por Lisboa, como por exemplo, a de Benfica aqui.
É uma iniciativa política inédita, portadora de um futuro melhor, que tem um grande denominador comum considerar que as pessoas são o coração de Lisboa.
A gestão de António Costa tem privilegiando a resolução de questões que contribuem de forma decisiva para melhorar a qualidade de vida dos Lisboetas, desde a recuperação de pavimentos e calçadas e da prioridade dada ao saneamento, à reabilitação urbana e às questões ambientais.
È muito significativo que na apresentação dos candidatos aos diferentes órgãos do Município; António Costa, considerando que as pessoas são o coração de Lisboa, tenha sublinhado compromissos para o próximo mandato, particularmente direccionados paras os seniores e para as crianças, como podem ver aqui.
Constatando a falta em Lisboa de 1100 camas para cuidados continuados, a Câmara já assegurou a criação de condições para a disponibilização de 80 camas e compromete-se a instalar mais 750 camas através da celebração de mais 15 parcerias com IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social).
A criação de condições para que as famílias jovens possam assegurar a educação dos seus filhos e ter ao seu dispor creches, jardins de infância e escolas, com qualidade, o que não acontecia há muito, tem sido uma das suas preocupações centrais. Na sequência do que foi realizado ou iniciado neste mandato: pequenas obras de beneficiação em 63 escolas; obras de grande beneficiação em três escolas: início de construção da nova escola no bairro do Armador; adjudicação de mais 5 novas escolas e de 2 jardins-de-infância; 16 grandes obras de beneficiação em curso; intervenção em 67 escolas até final de 2011; realização do projecto 5 escolas/5 Designers, assegurar que 6.000 alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico tivessem acesso a aulas gratuitas de natação; conclusão do estudo para a implementação do transporte escolar, que se reveste de importância crucial para as crianças, as famílias e a fluidez do trânsito de Lisboa.
António Costa assumiu como compromissos para o próximo mandato, designadamente: a instalação de 76 novas creches para mais 2712 crianças; a abertura de no ano lectivo de 2009/2010 de mais 250 novas vagas em jardins-de-infância, e no ano lectivo 2010/2011 de mais 250 novas vagas, para que até 2011 se criem 36 novas salas para mil crianças.
São apenas algumas das medidas do programa para o próximo mandato, que exemplificam um estilo de governação marcado pela preocupação de que os Lisboetas, que têm um custo de vida mais elevado do que os habitantes dos concelhos limítrofes, possam, em contrapartida, beneficiar de serviços públicos que lhes permitam viver com qualidade.
O nosso voto nas próximas eleições determina escolhas radicais, como escrevemos aqui.
António Costa é, como referiu Boaventura Sousa Santos aquium dos mais brilhantes políticos da nova geração de políticos de esquerda (…) Se ele sair derrotado nas próximas eleições, obviamente a esquerda é burra. Espero vivamente que não seja o caso.”
Lisboa não pode ser encarada como um negócio, económico ou político
As pessoas são o coração de Lisboa. Não podemos ficar à margem da escolha decisiva entre António Costa e Pedro Santana Lopes. Pela nossa parte, escolhemos reeleger António Costa como Presidente da Câmara de Lisboa.

domingo, agosto 16, 2009

«O SAL NA TERRA» DE PEDRO ADÃO E SILVA

"O Sal na Terra” de Pedro Adão e Silva é um livro muito interessante que nos desafia a pensar e sentir para lá dos nossos próprios limites, desorganiza os nossos hábitos de catalogação, o que é óptimo porque nos torna mais livres e despertos para o mistério das pessoas e das coisas
José Tolentino de Mendonça pegou-lhe pelo mar, situou-o no quadro de ler o mar, e concluiu de forma salutarmente provocante que este “não é apenas um manual para surfistas. É um dos mais belos livros de poesia”.
Não tendo o privilégio de ser um iniciado no surf não me cabe, aliás, avaliar a utilidade do livro como manual, apenas direi que se o tivesse lido há alguns anos teria estado muito atento a tudo o que me pudesse proporcionar uma iniciação ao surf.
Li-o apenas pelo prazer que a sua leitura proporciona. Esperei pelas férias para estar junto ao mar, para ter condições de contemplação, para ter o prazer de o ler e não fiquei decepcionado. É um livro muito bem escrito, que deixa transparecer a cultura e a sensibilidade do autor, e no qual encontro muitas referência culturais que nos são comuns, como Ruy Belo, Sophia, François Truffaut, Fellini, Ítalo Calvino, Fernando Pessoa/Bernardo Soares/Alberto Caeiro.
O título do livro é muito adequado e não deixa de ser curioso que um ateu confesso, como afirma ser Pedro Adão e Silva, se tenha inspirado numa expressão “atribuída a Cristo no Evangelho segundo São Mateus (o «Sal da Terra» - capítulo 5, versículo 13)”.
O livro, independentemente de qualquer preocupação classificatória, é sobretudo uma reflexão profunda e poética sobre o viver.
Pedro Adão e Silva afirma na introdução: “Quem faz surf sabe que a experiência das ondas não se limita ao mar, contamina toda a vida quotidiana e leva a que passemos a olhar com outros olhos as coisas terrestres. Para além do mais, para um surfista, a ideia de um mundo perfeito confunde-se com o prazer de deslizar sobre as ondas, o sal frio na cara, as paredes de água que se abrem à nossa frente. O essencial destes textos é essencialmente sobre essas marcas.”
É por isso que não é apenas um livro para surfistas e que um não surfista pode tirar prazer e proveito da leitura quer da primeira parte, “ O surf no mundo”, quer da segunda “O mundo do surf”.
Ao ler, por exemplo, a crónica intitulada “ A vantagem de surfar ao contrário” aprende-se alguma coisa sobre surf, mas muito mais sobre o viver, a partir da experiência desse surfista Mark Occhilupo, conhecido por Occy, baixo, corpulento, pesado, que depois de ter caído numa vida desregrada, conseguiu um regresso ao sucesso tardio e improvável.
O livro deixa perceber o prazer físico incomparável que experimentam os surfistas, e que o surf é uma actividade espiritual e não apenas um desporto. Pedro Adão e Silva parafraseando Nat Young, refere: “Ao surfar, vivemos a concretização de uma vida alternativa ou, pelo menos, a abertura a dimensões diferentes das do quotidiano”.
O livro é enriquecido por belíssimas fotos, adequadas aos textos que ilustram.
Diria que este é o livro deste Verão, a ler de preferência antes do fim de Agosto, para poder reler calmamente no Inverno quando houver melhores ondas.

sábado, agosto 01, 2009

SARA TAVARES – MÚSICA, INTELIGÊNCIA E ALEGRIA

Sara Tavares, a quem já nos referimos aqui, tem um percurso singular na vida cultural portuguesa, conjugando sabiamente a sua condição de compositora, cantora percussionista, com a sua extraordinária sensibilidade musical e com a inteligência e dignidade, que tem testemunhado. Vale a pena ouvir o seu disco “Xinti, a sua mais recente criação, em que interpreta “canções memoráveis”, como escreveu o crítico do Financial Times. Podem conhecer melhor a sua discografia aqui e começar por ouvir aqui “Ponto de Luz”, uma das canções do seu último disco.
Para perceber melhor de que é feita a sua música podem ver aqui o excelente programa Câmara Clara da RTP2, de 26 de Julho, em que Sara Tavares foi entrevistada por Paula Moura Pinheiro. É um prazer e alimenta “a sede de largura e altura” do nosso coração para citar versos de “Xinti”.
A música de Sara Tavares alimenta-se de uma grande sensibilidade e bom gosto e tem as suas raízes no gospel, na música litúrgica que cantava nos coros da Igreja Cristã em que se formou, mas abriu-se a muitas outras influências da música cabo-verdiana, africana e não só.
Sara Tavares, uma portuguesa com fundas raízes cabo-verdianas, pertence a uma geração de jovens criadores, que podemos qualificar como portugueses globais ou cosmopolitas. Não mistura apenas o português e o crioulo de Cabo Verde nas suas letras, é uma lusófona cidadã do mundo, que conjuga diversas influências musicais, que participa da crioulização cultural, que é hoje uma das dimensões da modernidade cultural.
Uma das coisas que dá gosto ver é a inteligência e a alegria da pessoa e da artista que é Sara Tavares.
Como refere Paula Moura Pinheiro, Sara Tavares “é um exemplo de inteligência, aplicada ao seu talento natural”. É também o que demonstra a forma como se refere neste programa de Câmara Clara a músicos como Boy Gê Mendes, Buika, Celina Pereira, Stevie Wonder, Lady Smith Black Mambazo, Buraka Som Sistema, Nittin Sawhney ou James Taylor.
O que nos agarra também em Sara Tavares é a alegria, que tem raízes na sua espiritualidade, como acontece com grupos de gospel como Lady Smith Black Mambazo da África do Sul. Respondendo questão colocada com delicadeza por Paula Moura Pinheiro sobre a fonte maior da sua alegria, Sara Tavares confirmou, que, de facto, a sua espiritualidade é a fonte da sua esperança, que assenta muito na fé, no seu mundo interior, na pátria interior que é grande e vasta.
As suas canções ouvem-se com júbilo. É uma música que, parafraseando alguns versos da sua canção “Sumanai”, ajuda-nos a descobrir que temos sede da “Água viva que me refresca e lava/Tudo, tudo cá dentro.”
Paula Moura Pinheiro deu-nos nesta Câmara Clara mais um dos seus excelentes programas, que neste caso ajuda a conhecer melhor Sara Tavares, um dos rostos da grande Nação que é a Língua Portuguesa.