domingo, agosto 13, 2006

BRASIL E PORTUGAL - NOVO ACHAMENTO

A recente visita do primeiro-ministro português José Sócrates ao Brasil reveste-se de grande oportunidade e significado político. Sendo uma visita com uma agenda centrada no estreitamente dos laços económicos entre os dois países e subsidiariamente a dar mais alguns (tímidos) passos na cooperação cultural, revestiu-se de um significado político que transcendeu o inicialmente previsto. Ainda bem que assim foi
As relações entre Portugal e o Brasil são de importância capital para Portugal, mas podem ser também muito mais vantajosas para o Brasil do que é normalmente percebido pela sua diplomacia.
José Sócrates disse-o de forma rigorosa aos empresários brasileiro “Portugal pode significar para o Brasil o mesmo que a Irlanda significou para os Estados Unidos”. Esta frase subentende o não-dito de que o Brasil pode significar para Portugal o que os Estados Unidos significaram para o desenvolvimento da Irlanda.
Além disso, a cooperação empenhada dos dois países em projectos, como a CPLP, é essencial para o seu sucesso.
Os portugueses re-descobriram o Brasil depois do 25 de Abril, primeiro através das telenovelas. Quem não recorda a importância que teve a telenovela “Gabriela, Cravo e Canela”, a partir do livro de Jorge Amado, com Sónia Braga O novo achamento, permitam-me que use esta antiga e bela palavra portuguesa, prosseguiu em todas as áreas e sectores do futebol, à informática, à cultura, aos dicionários de português, à imigração e ao turismo. Com os governos de António Guterres passou a ser uma opção política estimular o investimento português no Brasil, que hoje é de grande significado em sectores estratégicos. É a hora de estimular o novo achamento de Portugal pelo povo brasileiro, que apesar de tudo o vai descobrindo, privilegiando Portugal como destino de imigração, mas também pelas novas elites emergentes económicas, culturais e políticas.
Temos que partir de uma análise objectiva de situação para a alterarmos e não ignorar as resistências da tradicional doutrina diplomática brasileira.
Não podemos ignorar o que afirmou o Embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa; diplomata de grande cultura e inteligência, que na entrevista concedeu a Maria João Avillez (Única, Expresso, nº1762,5 de Agosto2006) refere ser um leitor de blogues com regularidade, cuja leitura completa é imprescindível. Registo a afirmação: «A nossa relação política [Portugal e Brasil] será sempre desigual e assimétrica. Porquê? Porque para nós, a lusofonia é um elemento axial da nossa afirmação externa». Outra constatação a reter: «está a desaparecer no Brasil a geração, política e cultural, que tinha uma relação de afectividade profunda com Portugal».
Isto significa que temos de promover um novo achamento recíproco, que para ser possível exige determinação e persistência política. Pessoalmente nunca esquecerei a homenagem que organizei com Dulce Pereira, então responsável máxima da CPLP, em Durban (África do Sul) durante “A Conferência Mundial Contra o Racismo”, a Fernando Pessoa, em cuja estátua depusemos flores, depois de uma marcha, na qual a maioria dos participantes para além de alguns emigrantes portugueses (poucos) eram sobretudo políticos brasileiros, mulheres e homens, próximos do Movimento Negro Brasileiro, o qual é uma realidade que a diplomacia portuguesa não pode ignorar.
Outra constatação pessoal, metade das visitas a este blogue vêm do Brasil. Penso que algo de semelhante acontecerá com outros.
O facto do maior número de imigrantes em Portugal ser constituído por brasileiros é uma oportunidade estratégica para esse novo achamento de Portugal pelo Brasil. É preciso, como para todos os imigrantes sem excepção criar condições para uma integração de qualidade.
É positivo que José Sócrates tenha anunciado a legalização de seis mil e quinhentos brasileiros, durante a visita ao Brasil. Alguma imprensa portuguesa considerou este facto como um apoio à reeleição de Lula da Silva, estimulando o voto dos imigrantes na sua re-candidatura. Se tiver esse efeito, como socialista, não deixarei de me regozijar, mas foi sobretudo um acto de justiça que abrangerá também outros milhares de imigrantes de outras nacionalidades que tinham ficado a meio dos burocráticos processos de legalização promovidos pelo governo de Durão Barroso. Foi também um acto de eminente interesse nacional, já que só imigrantes legalizados, podem ter uma boa integração e contribuir para um bom relacionamento de Portugal e os seus países de origem.

PS. 1- Uma breve nota para saudar o facto da nova proposta de lei do Governo sobre a entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros ter tido em conta sugestões e críticas, designadamente, de associações de imigrantes, durante o período de discussão pública. Esperemos que a Assembleia da República não se deixe impressionar pelo CDS e pelo BE, que «acusam o Governo de fazer um convite à imigração ilegal», segundo o Público de 12.08.2006. Diremos detalhadamente, em Setembro, porque não é verdade.
Nesta semana Francis Obikwelo brindou-nos com mais duas medalhas de ouro, e João Vieira com uma medalha de bronze.
Saudamos os dois atletas portugueses pelas suas vitórias. Só com o esforço de todos os portugueses, quer os que aqui nasceram, quer os que se nos juntaram por decisão livre e consciente, é que podemos estar à altura dos desafios em todos os campos. Portugal, quando se não fecha sobre si mesmo, descobre que terá de ser cada vez mais uma Nação cosmopolita.

PS. 2- A prova de que os blogues podem, contribuir para desenvolver o melhor conhecimento entre os países de língua oficial portuguesa, actuando espontaneamente em rede, foi ilustrado esta semana pela sinergia que se estabeleceu entre o que escrevemos sobre S. Tomé e Príncipe e textos e imagens que dois excelentes blogues decidiram também editar sobre S.Tomé e Príncipe no passado dia 7 de Agosto de 2006. Referimo-nos aos blogues OS DOIS PILARES DA CRIAÇÃO e RELIGARE.
Seria muito interessante que pudéssemos criar uma rede de cumplicidade com blogues de S.Tomé e Príncipe, do Brasil, de Portugal e dos outros Estados-Membros da CPLP. Existe uma enorme riqueza cultural que vale a pena divulgar e partilhar, bem como boas práticas em matéria de inclusão e cidadania em diferentes países que podem inspirar projectos e iniciativas noutros países.
Vamos pensar no que podemos fazer para o concretizar, durante a curta pausa estival que vamos fazer. Até breve.

domingo, agosto 06, 2006

S.TOMÉ E PRÍNCIPE-O DESAFIO DO DESENVOLVIMENTO

Fradique Melo Bandeira de Menezes foi reeleito Presidente da República em eleições que decorreram com normalidade democrática. Obteve 60,03% dos votos, enquanto os restantes candidatos Patrice Trovoada e Nilo Guimarães obtiveram respectivamente 38,50% e 0,59% dos votos. Patrice Trovada reconheceu a derrota, com dignidade, e desejou um bom mandato a Fradique de Menezes, o qual no meio do enorme entusiasmo popular pela sua reeleição teve palavras de saudação também para os que não votaram nele prometendo exercer as suas funções no interesse de todos. Tudo isto constitui um exemplo de respeito pelas instituições democráticas, de liberdade e tolerância, que nos apraz sublinhar.
As boas notícias não merecem normalmente o mesmo destaque do que as más. É por isso positivo que a televisão portuguesa tenha transmitido imagens quer das declarações de Patrice Trovoada, quer do Presidente Fradique de Menezes.
Com esta expressiva vitória Fradique de Menezes, que ganhara também as eleições legislativas, tem condições para iniciar um novo ciclo político em que se verifique um crescimento da satisfação das necessidades básicas da grande maioria da população e o crescimento económico, que torne S.Tomé e Príncipe num país desenvolvido. É este o desafio com que será confrontado nos próximos cinco anos, dispondo de um recurso novo a juntar à importância tradicional da agricultura, a exploração do petróleo.
Fradique de Menezes é filho de pai português do distrito de Viseu, e mãe santomense, estudou em Portugal e na Bélgica, e tem um grande currículo político e diplomático, sendo um abastado empresário, que se afirmou na vida política santomense.
Portugal, onde se situa a maioria da diáspora santomense, e da qual um número crescente são também cidadãos portugueses, deve intensificar o seu relacionamento a todos os níveis com S.Tomé e Príncipe.
O Presidente da República portuguesa expressou correctamente o sentimento nacional quando ao felicitar Fradique de Menezes, afirmou: «esperar que se encontrem «novas oportunidades para se desenvolverem e aprofundarem ainda mais [os laços entre os dois países], quer no campo bilateral, quer no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)».
S.Tomé e Príncipe não é apenas um país de uma beleza deslumbrante, é um país rico em capital humano e cultural.
Para o exemplificar, e não falando da riqueza do teatro popular, das variadas expressões musicais, da literatura santomense no seu conjunto, gostaria de referir hoje duas grandes poetisas, Alda do Espírito Santo e Conceição Lima e um grande prosador Sacramento Neto.
Foi publicado recentemente, em Portugal, o livro A Poesia e a Vida - Homenagem a Alda Espírito Santo, pelas Edições Colibri, da iniciativa de Inocência Mata e Laura Padilha, que contou com a colaboração designadamente de Conceição Lima e Natália Umbelina. Alda do Espírito Santo é não só uma grande escritora da Língua Portuguesa, de que seria necessário publicar a obra poética completa e que merecia receber o Prémio Camões, mas foi também Ministra da Informação, Ministra da Educação e Cultura de S.Tomé e Príncipe.
Mas a poesia santomense renova-se continuamente como se pode constatar pela leitura dos dois belíssimos livros de poesia de Conceição Lima, «O Útero da Casa» e «A Dolorosa Raiz do Micondó».
Em Lisboa, ou entre S.Tomé e Princípe e Lisboa, processa-se, uma parte importante da criação cultural santomense.
Para dar mais um exemplo, não posso deixar de referir, a produção literária contínua de Sacramento Neto, padre católico, que exerce as suas funções sacerdotais em Lisboa e tem vindo discreta, mas persistentemente a criar uma obra literária que permanecerá para sempre, que mais não seja por ter introduzido no português escrito palavras provenientes de outras línguas de S.Tomé e Príncipe. Um dos seus livros «Milongo» foi, aliás, já adaptado à televisão pela RTP, em colaboração com a Televisão de S.Tomé e Príncipe.
Só me resta felicitar uma vez mais Fradique de Menezes pela sua vitória e desejar progresso e desenvolvimento ao povo santomense e uma maior cooperação entre Portugal e S.Tomé e Princípe a todos os níveis.
Como cidadãos, temos sempre os nossos blogues e sítios na Rede para estimularmos a intensificação do relacionamento pessoal, cultural, económico e político entre os dois países.