domingo, dezembro 17, 2006

A HORA DE MARIA JOSÉ MORGADO

A designação da Procuradora-Geral Adjunta, Maria José Morgado, pelo Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, para coordenar as investigações de todos os inquéritos e processos instaurados ou a instaurar conexos com o Apito Durado é uma boa notícia. Podemos ter confiança na sua seriedade, competência e determinação em cumprir as funções que lhe foram confiadas.
Maria José Morgado tem uma experiência de combate eficaz à corrupção. Teve um excelente desempenho à frente da Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira (DCICCEF) da Polícia Judiciária, tendo passado pelas suas mãos processos que envolveram conhecidos dirigentes desportivos.
A designação de Maria José Morgado foi bem recebida pela generalidade dos agentes políticos e comentadores e foi interpretada como um sinal do empenhamento do novo Procurador-Geral da República no combate à corrupção.
Vasco Pulido Valente considerou esta semana que a corrupção no futebol «Não é a mais grave, não é a mais comum, nem sequer coitada, a mais prejudicial … é uma parte ínfima da corrupção geral do país. E serve sobretudo para a esconder» (vide, Ai Carolina, Público, 15-12-2006).
Não creio que se devam subestimar as ligações que, nalguns casos, parecem existir entre corrupção no futebol, nas autarquias locais e na construção civil. A agressão de que foi vítima o ex-vereador o PS, Ricardo Bexiga, deve levar-nos, aliás, a interrogarmo-nos sobre as possíveis conexões entre diferentes tipos de criminalidade. A propósito de corrupção recomendo a leitura do livro de Maria José Morgado e José Vegar “O inimigo sem rosto, Fraude e Corrupção em Portugal” editado pela Dom Quixote, em 2003.
Aconselho também a leitura do artigo “As mutações da máfia mansa” de Saldanha Sanches, Expresso, 16-12-2006).
Mesmo que a corrupção no futebol seja uma parte ínfima da corrupção, a nomeação da Maria José Morgado cria uma dinâmica cultural anti-corrupção que fará com que outras formas de corrupção não possam ser escondidas.
Aliás, Vasco Pulido Valente parece estar desatento da “Operação Furacão” cujo alvo é bem distinto do futebol e que conheceu importantes desenvolvimentos recentes com a análise de operações financeiras no off-shore da Madeira.

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