domingo, abril 15, 2007

ATENÇÃO AO ESSENCIAL!

Torna-se necessário em cada momento escolher entre o essencial e o acessório e tentar perceber por que é que o acessório pretende ocupar o lugar do essencial. Creio também que há momentos em que não podemos ficar calados, é necessário dizer basta.
Apenas três exemplos: a polémica em torno da licenciatura de José Sócrates; a crise de agenda da direita e do centro-direita; a forma como se está a dar visibilidade injustificada e desproporcionada à extrema-direita.
Já não há paciência para as especulações em torno da licenciatura de José Sócrates. É caso para dizer com Nicolau Santos «Por favor, podemos voltar a preocupar-nos com o país?» Expresso, 14 de Abril de 2007.
A maioria dos cidadãos já percebeu que o que está em causa é uma tentativa de promover o seu linchamento moral. Perante a incapacidade manifesta de alguns líderes políticos de o defrontarem de forma aberta e frontal, pretendem pôr em causa o seu carácter. Aliás, esta é a terceira tentativa de linchamento moral desde que se candidatou pela primeira vez a primeiro-ministro.
Tenho manifestado abertamente discordâncias políticas em diversos momentos com José Sócrates, muitas das quais se mantêm, mas quero manifestar repúdio perante campanhas de linchamento moral.
Esta campanha tem muito a ver com a incapacidade de alguns actuais líderes da direita e do centro-direita de elaborarem uma agenda política consequente e alternativa para o país.
Pensar Portugal no contexto Europeu e mundial permitirá decerto a formulação de políticas alternativas à luz dos valores conservadores e liberais, que são perfilhados pela direita e pelo centro-direita. Não é, contudo, essa a preocupação da actual liderança do principal partido de oposição de centro-direita. Para lá da mudança radical de posição sobre a OTA, que passou de opção apoiada quando estava no governo para solução combatida enquanto oposição, e da proposta de privatizar a RTP, a sua intervenção política tem-se centrado na tentativa de denegrir a personalidade moral de José Sócrates. É óbvio que no PSD há gente com horizontes mais largos com sentido de Estado e do interesse nacional, mas não são esses que lideram actualmente este partido.
É caso para perguntar como Nicolau Santos no artigo, já citado: «O que se segue? Exige-se a demissão do primeiro-ministro e a convocação de eleições?».
Outra questão lamentável é a forma como alguns democratas e alguns órgãos da comunicação social têm vindo a dar visibilidade desproporcionada a um partido de extrema-direita.
Não deixa de ser publicidade imerecida que um jornal como o “Expresso” dê grande destaque a um encontro em Lisboa de organizações de extrema-direita racista e xenófoba e não dedique uma linha ao próximo congresso mundial da Federação Internacional das Ligas dos Direitos do Homem (FIDH), representada em Portugal pela CIVITAS, que irá tornar Lisboa, a partir do próximo dia 19 de Abril, a Capital Mundial dos Direitos Humanos.
Seria também interessante que para além do cartaz do referido partido não esquecessem outras formas de intervenção como, por exemplo, tempos de antena e presença na Rede, que permitem ver com clareza de onde vêm e para onde vão. No meio de tudo isto é de saudar o facto de várias personalidades de direita, e não apenas de esquerda, se terem claramente demarcado das posições racistas e xenófobas deste partido.
Pena é que outros intelectuais que se pretendem mais ao centro, como Pacheco Pereira, passem mais tempo a criticar a forma como o Gato Fedorento têm agido neste caso, do que a desmontar a forma como este partido tem actuado e as propostas que tem apresentado.
Estes factos traduzem a crise de agenda estratégica da direita e do centro-direita. Quando não existem grandes desígnios nacionais acaba-se em campanhas sobre questões acessórias, no diz-se que disse.
Portugal vai dentro de dois meses assumir a Presidência da União Europeia, está em preparação a II Cimeira UE-África, a que já aqui nos referimos, e em discussão o futuro do Tratado Constitucional.
Temos de enfrentar grandes desafios para continuar a vencer de forma sustentada o défice orçamental e promover o desenvolvimento do país.
Valerá a pena estarmos atentos a estas questões, porque irão marcar o nosso futuro colectivo.
Apetece repetir com Nicolau Santos: «Por favor, podemos voltar a preocupar-nos com o país?».

2 comentários:

Filipe Brás Almeida disse...

Gostei do post. Já é tempo de a comunicação acabar com o triste espectáculo que tem levado a cabo.

Anónimo disse...

Meu grande amigo,dr.josé leitão!
Acabo de ler o seu artigo e n posso deixar de admirar a sua coragem ao transmitir o que lhe vai na alma,com tanta coerência!
Alguns dos comentários a propósito de sr.Primeiro Ministro deixa me perplexo!
Abraços.
Bubacar Djaló