A OPA da SONAECOM sobre a PT acabou, com alguns lamentos pelo facto da maioria dos accionistas da PT presentes em assembleia-geral extraordinária terem votado contra a desblindagem dos estatutos, tornando impossível a OPA. Pessoalmente, congratulo-me com esta votação, que demonstrou que somos um país moderno, em que um projecto empresarial sério não é posto em causa de ânimo leve.
Antes de prosseguir devo declarar que não tenho nem tenciono vir a ter nenhuma acção da PT, sou apenas um cliente, como muitos outros, um contribuinte líquido da PT e muitas vezes crítico do preço e da qualidade dos serviços prestados.
Creio que a opção dos accionistas pela não desblindagem dos estatutos é tão legítima como o seria o terem votado pela desblindagem. São as regras do jogo e a democracia é também o respeito pelas regras de deliberação previamente definidas.
As empresas devem ter lideranças, capazes de definir e concretizar projectos e com capacidade de os transmitir aos seus trabalhadores e ao mercado.
Penso que foi esta a razão do insucesso da OPA. Foi a confiança na gestão de Henrique Granadeiro que derrotou a OPA. O facto de ser aplaudido por trabalhadores não demonstra que tinha razão, mas traduz, de forma inequívoca, a sua capacidade de transmitir a sua ideia do que deve ser a PT.
Fui seguindo com atenção a evolução do processo da OPA e desde sempre me irritou a forma ligeira como a SONAE avaliava a participação da PT no Brasil. Entregar o mercado brasileiro à TELEFÓNICA sempre me pareceu uma opção errada do ponto de vista da PT e do ponto de vista nacional.
A Espanha que é um grande país, tem e muito bem, procurado manter um conjunto de empresas de referência que potenciam a sua presença económica no mundo, uma delas a TELEFÓNICA. É uma estratégia correcta e pela qual só merece elogios. A PT é uma empresa fortemente internacionalizada presente em mercados com grandes potencialidades económicas, como Brasil e Angola, para além de muitos outros países africanos, não apenas lusófonos, o que se reveste de grande importância económica e estratégica.
Tenho muito respeito pela capacidade com que Belmiro de Azevedo construiu o GRUPO SONAE, também fortemente internacionalizado, e creio que a OPA teve ganhos colaterais para os consumidores com a separação estrutural que se irá concretizar das redes de cobre e de cabo, o que irá aumentar a concorrência. Penso, contudo, que esta separação e o profundo abanão que provocou na gestão da PT, são efeitos colaterais positivos da OPA.
A razão pela qual escrevo este texto é apenas porque não sendo liberal em matéria económica, continuo a ser keynesiano, sou liberal em matéria de informação e não gostei nada do título do “Público”, que é para mim um grande jornal de referência e uma das grandes criações do GRUPO SONAE. Não gostei do título «OPA sobre a PT bloqueada por um terço dos accionistas e cumplicidade do Governo» a que se segue «Voto da Caixa Geral de Depósitos contribuiu para impedir a oferta da Sonaecom de chegar à Bolsa». Não estou preocupado com a defesa da honra do Governo nesta matéria. Não lhe é difícil demonstrar que agiu de acordo com critérios que melhor defenderam o interesse nacional. É também verdade que a Caixa Geral de Depósitos contribuiu para impedir a oferta da Sonaecom de chegar à Bolsa, e também não lhe será difícil explicar, como aliás já fez, as razões que estiveram na base desse voto. O que lamento é que se dê a ideia errada de que apenas uma minoria dos accionistas, com o apoio do Estado se opôs à desblindagem dos estatutos. Na realidade a Caixa Geral Depósitos detém apenas cerca de 5 % e o Estado, que detém directamente 1,8 % e quinhentas acções com direitos especiais, absteve-se.
Como escreveu Nicolau Santos no “Expresso” (03/03/2007): «A OPA da SONAECOM foi derrotada de forma clara na assembleia-geral da PT. Para passar, a proposta precisava de dois terços dos votos presentes e não chegou sequer à fasquia dos 50 %».
Por todo isto não gostei daquele título a encimar a primeira página do “Público”. Um país de média dimensão em termos europeus, como Portugal, precisa, especialmente num momento de crise como a que atravessa, de ter um Estado forte e eficaz, grupos económicos e empresas com projectos ambiciosos, de uma imprensa e de uma informação em geral, plural e de qualidade.
Precisamos de continuar a ter diários de referência como têm sido o”Público” e o “Diário de Notícias”, uma imprensa não apenas com colunistas variados e críticos, goste-se ou não do que escrevem, mas também de espaços de opinião abertos à participação dos cidadãos.
A liberdade é a possibilidade de exprimir diferentes pontos de vista. É esse o liberalismo de que precisamos cada vez mais, para que nos garanta uma informação de qualidade, sem a qual não teremos uma democracia de qualidade.
domingo, março 04, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Amigo Zé Leitão
Começo por dizer-te que não penso nada como tu acerca deste assunto.
Lamento a forma como, logo no título, é insinuada a falta de qualidade de informação do jornal Público. Há mais jornais para ler e comentadores para analisar. Sugiro que gastes algum tempo nisso e talvez mudes de opinião…
Noutro âmbito, lamento também a imagem que a condução desta OPA dá do país que tu consideras, por isso, “moderno” e democrático. As regras do jogo foram tudo menos democráticas (embora protegidas pela lei ) e a vitória conseguida, foi a vitória do medo e da cobardia e não a da democracia. Essa sim, seria ouvir a voz de TODOS os accionistas no mercado aberto.
Quanto à posição assumida pela Caixa Geral, que pretendes justificar, será que contribuiu , de facto, para o referido “interesse nacional”? Ou servirá outros interesses relacionados nomeadamente com o sr. Armando Vara, pessoa íntima do Primeiro Ministro, cujas “deambulações”qualquer pessoa informada tem acompanhado? O interesse nacional está nos cidadãos portugueses e, neste caso concreto, nos utentes e accionistas que não puderam dizer de sua justiça.
E essa de atribuires a qualificação de “forma ligeira” a uma actuação de um grupo empresarial que desde os anos setenta soube crescer sem depender dos políticos (portanto sem a ajuda dos nossos impostos) e sem contestações laborais mesmo nos idos “anos quentes”, mas com trabalho, competência, isenção e competitividade responsável?!… Só se tolera por desconhecimento. Um grupo destes, caro amigo Zé, nunca actua de “forma ligeira”!!!
Como muito bem dizes, o nosso país precisa de ter “um Estado forte e eficaz”…mas sem deixar de ser coerente e honesto. E todos precisamos de ter jornais diários de referência como o Público “goste-se ou não do que escrevem”, de preferência sem serem rebaixados, como tu o fizeste, porque não gostaste.
A terminar, devo declarar que não tenho acções da SONAECOM…mas tenho pena!!!
Um abraço
Ninah
“O GOSTO DOS OUTROS”
As tuas reflexões sobre a OPA suscintam-me outras que quero partilhar contigo. Lá diz o ditado que “ gostos não se discutem”. Não serei eu que vou alterar o teu desgosto sobre o titulo do Público. Não gostaste? Tudo bem e ponto final! Partir deste facto e fazer juizos de valor sobre questões e pessoas que estão em off-side, considero que não é muito correcto. Vejamos :
1- O Público deixou de ter “ qualidade de informação “ por causa de um título que relatava um facto real? Não? Então por quê este título do blog ?
2- PT no Brasil-A perfomance no Brasil traduz-se em – valor de compra- cerca 6 mil milhõe de euros. Valor de venda ( hoje) – mil milhões de euros.Para onde foram os 5 mil milhões de euros? Foi isto que te irritou na “ forma ligeira” como a Sonae falava do Brasil?
3 – O que é isso de “interesse nacional” que dizes o Governo defender? Será o preenchimento dos lugares de topo nas empresas públicas, tipo CGD, por comissários do partido? Isto não será antes o “interesse blindado” de modo a satisfazer meia dúzia?
3- A votação- Os números são o que são. O resto é demagogia barata. Na Assembleia 31% dos accionistas , com ajuda do Governo e da Caixa, impediram os restantes 69% de dizer da sua justiça em mercado “ desblindado” . Isto é o tal “ país moderno” de que falas?!…
Um abraço do
António
Meus Caros Amigos
As opiniões são livres, mas nada do que escreveram, ou do que disseram os protagonistas durante esta semana, me deu qualquer motivo para mudar de opinião.
O que vocês não querem ver é que, como afirmou José António Saraiva (10/03/2007):
«Ao contrário do que os tecnocratas pensam, os negócios – mesmo os grandes - não dependem só dos números: dependem decisivamente dos homens. Este foi apenas mais um.»
Recomendo também a leitura do texto de Nicolau Santos “Erros da Sonae, má fortuna, amor ardente pela PT” Expresso/Economia (10/03/2007). Nicolau Santos explica, como economista, porque falhou a estratégia da Sonae e a importância da participação da PT no Brasil.
Não é correcto, neste contexto, atacar a Administração da CGD, que agiu de forma competente e profissional. Para defender a minha posição não precisei de atacar pessoalmente ninguém.
Quero apenas acrescentar para terminar que, quando um negócio não corre bem, a pergunta a fazer não é porque é que me fizeram isto, mas sim onde é que eu errei.
Com amizade
José Leitão
Enviar um comentário