domingo, novembro 30, 2008

ESQUECER TIMOR ?

A visita oficial a Portugal de Xanana Gusmão, Primeiro-Ministro e Ministro da Defesa e Segurança da República Democrática de Timor-Leste, nos passados dias 26 e 27 de Novembro teve como pano de fundo o artigo publicado pelo jornalista e escritor Pedro Rosa Mendes no jornal Público (25.11.2008), intitulado “Timor-Leste, um país insustentável”.
Para muitos milhares de portugueses que se empenharam de diferentes formas na afirmação do direito à independência de Timor-Leste, o resultado do artigo de Pedro Rosa Mendes parece-me ser um pretexto para esquecer Timor, no meio das suas dificuldades e contradições, mais do que uma chamada à realidade ou um simples abandono de uma visão romântica sobre este jovem país.
Pedro Rosa Mendes é um excelente jornalista e escritor, como podem ver aqui, mas isso não significa que o seu texto seja a última palavra sobre Timor-Leste.
Desde há muito que tenho sérias reservas à forma como Timor-Leste tem sido gerido politicamente como podem ver aqui, nunca tive qualquer visão romântica sobre a construção do Estado timorense, mas também rejeito a facilidade com que se decreta que um Estado é um Estado falhado ou um Estado inviável.
Se aplicássemos a países europeus como a Bósnia, o Kosovo, a Albânia, a Macedónia, a Geórgia, os critérios que são adoptados para Timor-Leste poderíamos dizer que eram Estados falhados. Creio que todos eles, apesar das dificuldades que atravessam, são Estados viáveis e penso o mesmo de Timor-Leste.
Como leitor gostaria de saber mais sobre o que se passou nos atentados contra o presidente Ramos-Horta e o primeiro-ministro Xanana Gusmão, o que está por detrás das tentativas de alterar as regras do Fundo de Petróleo, sem esquecer que Timor-Leste é um Estado soberano. Nada disto desobriga os amigos de Timor-Leste, cidadãos ou Estados, de continuar a apoiar a consolidação da democracia e o desenvolvimento em Timor-Leste, que, como afirmou Xanana Gusmão, é «um pequeno país, mas que tem tudo para vir a ser grande».
O Estado português não pode ter estados de alma, tem de ler com atenção os sinais de preocupação, mas não hesitar na sua afirmação de que Timor-Leste é um Estado viável e no aprofundar da cooperação com o seu governo e outras instituições legítimas.
Foi positiva esta visita de Xanana Gusmão a Portugal, a que se segue a visita a Timor-Leste de João Gomes Cravinho, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação. A reunião realizada na sede da CPLP, que se refere aqui foi também um passo positivo na ancoragem internacional de Timor-Leste.
Portugal e Timor-Leste manifestaram também durante esta visita o apoio a um eventual pedido de adesão da Indonésia, como observador, à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), o que a verificar-se, teria consequências positivas para a inserção regional de Timor-Leste, como podem ler aqui.
Quero manifestar a minha solidariedade a todos os portugueses, que estão em Timor-Leste, empenhados no seu desenvolvimento, e na construção de um Estado de Direito, que persistem no seu trabalho apesar das dificuldades, designadamente, os professores portugueses e os militares da GNR.
Torna-se difícil seguir a partir de Portugal o que se passa em Timor-Leste, e tentar ler com objectividade os acontecimentos.
Para ir acompanhando a evolução da sociedade civil e política timorense, poderão consultar este ou este blogue.
Caberá a cada um seleccionar as fontes que lhe merecem mais crédito, mas é preferível fazer juízos apressados ou até injustos a esquecer Timor-Leste, a quebrar os laços de solidariedade e de interesse mútuo que ligam os dois países.
A nossa resposta à questão que colocámos, é que não queremos esquecer Timor-Leste, as nossas causas não são fugazes e inconsequentes, confiamos na capacidade do povo timorense para construir o seu futuro, e como Luís de Camões escreveu em “Os Lusíadas” consideramos que: «É fraqueza desistir de coisa começada».

Imagem retirada do blogue da Embaixada de Portugal no Brasil aqui, onde se referem acordos recentemente celebrados entre Portugal e Timor-Leste em matéria de educação, que prevêem parcerias com televisões do Brasil.

domingo, novembro 23, 2008

ESTRATÉGIAS PARA A CULTURA EM LISBOA

Tenho defendido desde há alguns anos que Lisboa precisa de uma política cultural consequente, não elitista e participada. Pugnando por uma produção cultural com qualidade, há que valorizar as subculturas emergentes, normalmente associados a movimentos artísticos, muito jovens e muito diversos, que por vezes são relegados para uma marginalização que a cidade não pode aceitar.
Uma Lisboa cosmopolita tem de assumir a diversidade e abrir expectativas de vida com qualidade aos que nela habitam.
Considero muito positivo o desafio lançado aos cidadãos de Lisboa pela vereadora Rosália Vargas, responsável pelo pelouro da cultura em Lisboa, para participarem no processo de reflexão estratégica sobre o sector cultural, partindo de uma auscultação de diversos agentes culturais.
Após o diagnóstico, pretende-se desenhar e consensualizar as principais linhas estratégicas de actuação no campo cultural da cidade, definir programas de actuação, envolvendo os diversos actores culturais, económicos e institucionais da cidade para uma actuação comum coerente e consistente.
Pretende-se ultrapassar a situação existente no campo da cultura, em que as decisões eram tomadas sem uma base, de forma casuística e isolada.
Este é um projecto em que todos podem participar, tendo sido criado um sítio na Rede para dar conta das diferentes fases do processo de reflexão estratégica e para que possam dar o seu contributo, cujo endereço é http://cultura.cm-lisboa.pt/.
Uma das realidades que as estratégias para a cultura em Lisboa devem valorizar são as diferentes memórias da cidade, presentes na sua toponímia e inscritas, de diversa forma na vida da cidade, da Rua do Poço dos Negros e da Calçada do Poço dos Mouros aos santos negros da bela Igreja da Graça. Estão anunciadas iniciativas para recordar a presença muçulmana e judaica na vida da cidade, o que é muito positivo, mas não se deverá esquecer também a presença africana, que tem mais de quinhentos anos na cidade, de que Francisco Avelino Carvalho nos fala aqui.
A arte e a cultura podem ser veículos e instrumentos de inclusão social, se ao lado, da valorização de formas culturais profundamente enraizadas na cultura da cidade como o Fado, se criarem oportunidades para outras expressões culturais de qualidade, com que nos vêm enriquecendo os que se têm juntado aos lisboetas, vindos de outros países e/ou de outras regiões do país.
Os equipamentos existentes, designadamente, as pequenas salas de teatro das juntas de freguesia ou do município, para além das salas das colectividades, bem como o espaço público, são insuficientemente utilizados. É possível organizar programações no quadro das quais as expressões de qualidade dos migrantes tenham oportunidade de ser incluídas. Existem condições para que, através de protocolos com as escolas, se disponibilizem estes espectáculos a públicos mais jovens. As manifestações culturais de qualidade são destinadas a todos, não se destinam a públicos separados, como alguns estupidamente continuam a pensar.
Lisboa é, como o foi no passado, nos períodos em que foi uma cidade global, um espaço em que se cruzam cidadãos com diferentes identidades culturais, que vivem e trabalham lado a lado e dialogam entre si. São as pessoas que dialogam, não as culturas.
É uma cidade em que a diversidade cultural não se cristaliza em enclaves étnicos. É por isso uma cidade cosmopolita, que deve saber gerir e valorizar a diversidade. Para dar apenas alguns exemplos, a peça “Vento Leste” da actriz Natasha Marjanovic, sobre a qual podem ler aqui, a música de Nancy Vieira que podem ouvir aqui, são manifestações culturais que transportam memórias imigrantes. A música de Sara Tavares, a que já me referi aqui, que podem ouvir aqui, ou o hip hop de Sam the Kid (Samuel Mira) que podem ouvir aqui, são já expressões de culturas mestiças, que combinam diferentes inspirações de forma desenvolta e original. Todas devem ser consideradas como fazendo parte do património da cidade, mesmo quando a transcendem e permitem estabelecer laços com outra redes de cidades lusófonas, ibero-americanas ou europeias.
Muitos outros exemplos de grande qualidade poderiam ser dados de grupos teatrais, de dança, da literatura, do vídeo ou do cinema.
A diversidade cultural é uma mais-valia para a cidade, faz parte de sua imagem internacional, pode contribuir para projectar os seus grupos culturais e não tenhamos medo das palavras, criar oportunidades para as suas indústrias culturais.
Esperamos que as estratégias para a cultura de Lisboa, ajudem a potenciar e projectar toda a riqueza de criação cultural que se manifesta na cidade, afastando obstáculos burocráticos e dando-lhe visibilidade não só a nível da cidade, mas também a níveis nacional e internacional, contribuindo para a afirmação de Lisboa, novamente, como cidade global.

A imagem reproduz um quadro de Manuela Jardim, pintora, a que me referi aqui.

quinta-feira, novembro 20, 2008

AGENDA CULTURAL (10)

PARA UMA MELHORIA DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA
CONFERÊNCIA PARLAMENTAR


A REFORMA DO SISTEMA ELEITORAL


Assembleia da República (Sala do Senado)

4 de Dezembro de 2008

PROGRAMA

09 h 30 Abertura ~

Alberto Martins
Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista

Apresentação do Estudo “Para uma melhoria da representação política” pelos Autores:

André Freire, Professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE)

Manuel Meirinho, Professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP)

Diogo Moreira, Investigador associado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL)

Intervenções:

Manuel Braga da Cruz
Reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP)

Marina Costa Lobo
Investigadora do ICS-UL e Professora convidada do ISCTE

Jorge Reis Novais
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FC-UL)

11 h 30 Pausa para Café

Vitalino Canas
Presidente da Comissão Parlamentar de Assuntos Europeus

António Araújo
Jurista

Vital Moreira
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FD-UC)

Comentário final, às questões levantadas, pelos Autores do Estudo

13 h 00 Encerramento


Esta posta foi publicada por André Freire no Blogue Ladrões de Bicicletas aqui.

domingo, novembro 16, 2008

MADREDEUS & A BANDA CÓSMICA

A música é essencial à vida, convida-nos a ir para além da máquina do quotidiano, a não nos satisfazermos com as evidências, a interrogarmo-nos sobre o mistério de estar vivo, a olharmos em volta, a sermos mais livres.
Vem isto a propósito dos excelentes concertos dos Madredeus &A Banda Cósmica, que tiveram lugar no Teatro Ibérico, em Lisboa, e nos quais apresentaram as músicas que compõem o novo disco “Metafonia”.
Metafonia, o nome do novo disco desta nova formação da banda, significa para além do som que tem caracterizado os Madredeus. O que se mantém na banda é o talento e a criatividade de Pedro Ayres Magalhães. As letras e músicas de todas as canções são da autoria de Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade. Letras simples que falam do essencial: o amor, a saudade, a vida, a comunhão das vozes, a paz, o mar, o navio, a viagem, o paraíso, coisas pequenas, em suma, o que pode dar qualidade à vida.
Partindo das raízes musicais portuguesas, os Madredeus abriram-se a outras influências africanas e latino-americanas, contando com músicos brasileiros e angolanos. Sente-se, por exemplo, a influência do Brasil, e de Angola, cujo merengue influenciou a canção “A Estrada da Montanha”, muito bem cantada por Rita Damásio. Assumiram o património musical dos Madredeus, dando-nos novas interpretações de canções já clássicas, como, por exemplo, “O Mar”, “Ao crepúsculo - onde é que está o meu amor?”, “O paraíso”, mas abriram-se a outras sonoridades e constituíram a Banda Cósmica na qual se integraram. A música da banda tornou-se mais ousada e mais alegre, podendo ser dançada.
É interessante perceber que o projecto musical tem uma grande coerência e radicação cultural. A canção “A profecia Atlântica” lembrou-me, de imediato a profecia do reino do Espírito Santo de Joachim de Fiore, e os cultos do Espírito Santo, que tanta influência e tantas marcas deixaram na cultura portuguesa, e que, através dela, se espalharam pelo mundo, Começa assim: «Nos mares de três continentes / Está prometido viver em paz / E as diferenças das raças, das gentes / Não serem demais», E continua «E somos todos muito importantes / Em cada cara, vê-se um coração / E o riso das crianças inocentes/ é o principal». Pedro Ayres Magalhães não se inspirou directamente em Joaquim de Fiore, mas na “História do Futuro” do Padre António Vieira e na ideia de que o mundo de língua portuguesa deveria ser protagonista da paz.
Devo dizer que o facto de apreciar esta nova música dos Madredeus não significa que esqueça músicas belíssimas de outras fases, o contributo da voz de Teresa Salgueiro, músicos notáveis que lhe deram vida noutras fases, como Rodrigo Leão, ou o papel que tiveram instrumentos como o acordeão e o violoncelo.
Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade, com muito talento, acrescentaram novos instrumentos, e novas vozes, as vozes de Mariana Abrunheiro, Rita Damásio, sem esquecer o contributo da voz de Ana Isabel Dias, que além de tocar harpa também acompanha por vezes as outras duas vozes.
Ana Isabel Dias, a harpista, toca muito bem e enche o palco com o prazer contagiante com que o faz. O prazer da música está, aliás, muito presente na banda. Todos os instrumentos são tocados com grande mestria: a guitarra clássica, Pedro Ayres Magalhães; a guitarra eléctrica, Sérgio Zurawski; a guitarra baixo, Gustavo Roriz; percussão Ruca Rebordão; sintetizadores, Carlos Maria Trindade; violino, Jorge Varrecoso.
Foi um grande prazer ver e ouvir tocar tão bem. A harpa, o violino, e a percussão, foram as execuções que mais me tocaram.
“Metafonia” é um disco que mistura influências musicais portuguesas, como outras influências europeias, latino-americanas e africanas. A canção “Lisboa do Mar” tem a ver com o fado, mas também com o mambo, é um fado canção mambo, no dizer de Pedro Ayres Magalhães.
Só podemos desejar que muitos experimentem o prazer da música ao ouvirem Madredeus & A Banda Cósmica, ao vivo, em disco, e se possível, em DVD, e fazer votos para que sejam uma banda de referência não apenas para os portugueses, mas para toda a comunidade dos falantes de língua portuguesa.


quarta-feira, novembro 12, 2008

REGISTO

Sofia Loureiro dos Santos escreve com inteligência, bom senso e bom gosto no blogue Defender o Quadrado. Tenho manifestado várias vezes a minha concordância com algumas das suas postas. É o que faço, de novo, relativamente a Ler é saber que podem ler aqui e O modelo alternativo que podem ler aqui, que considero essenciais para analisar a contestação actual à avaliação de professores.
Tenho o máximo respeito pelos professores e considero legítimo discordar frontalmente do método de avaliação dos professores, organizar e participar em manifestações, mas considero que não vale tudo, que todas as partes estão obrigadas ao diálogo e à procura do bem comum.
Não posso também deixar de me solidarizar com a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues face às vaias e ovos com que foi recebida por estudantes numa cerimónia em Fafe. Ninguém se iluda quem o fez ontem à Ministra, pode fazê-lo amanhã a professores.
Seja quem for a vítima, temos que dizer que são comportamentos intoleráveis.

terça-feira, novembro 11, 2008

AGENDA CULTURAL (9)

Lançamento do n.2 da ops!, revista de opinião socialista
terça feira, 11 Novembro, 18h30, Hotel Altis, Lisboa
Debate: A Questão Educativa: do básico ao superior
Com Manuel Alegre, António Nóvoa, Rosário Gama, Paulo Guinote e Nuno David
O número 2 já se encontra online.

Site da revista: http://www.opiniaosocialista.org/

domingo, novembro 09, 2008

OBAMA - É POSSÍVEL MUDAR

A eleição de Barack Hussein Obama como presidente dos Estados Unidos da América é um acontecimento que marcará positivamente o futuro deste país e o futuro da humanidade. Tentarei dar as razões da minha esperança.
A eleição de Obama, já foi referida em diversos blogues, como pode ver aqui, mas tendo-me sempre batido pela igual dignidade de todos os seres humanos e pela igualdade de todos os cidadãos, não posso deixar de dizer que esta eleição representa uma oportunidade de progresso em todo o mundo, que tem que ser aproveitada.
Afirmei durante a campanha aqui como Barack Obama tinha condições de realizar o sonho de Martin Luther King. É necessário acrescentar que o fez porque conseguiu encarnar não apenas o sonho de uma sociedade sem discriminação racial, fraterna e reconciliada consigo mesma, mas, em simultâneo, o sonho de todos os americanos, que acreditam no poder da democracia e nas oportunidades que todos devem ter para se realizar.
Barack Obama incarna, sem dúvida, a esperança e a vontade de mudança dos afro-americanos, mas nunca foi um líder étnico. Se o tivesse sido poderia ter tido alguns sucessos, mas dificilmente seria senador e muito menos Presidente dos Estados Unidos da América. Um marco decisivo na sua campanha foi o discurso que marcou a ruptura com a política étnica do pastor Jeremiah Wright, da Igreja Trinity United Church of Christ, de Chicago, que frequentava, e no qual defendeu uma união mais perfeita, mais justa mais igual, em que todos com diferentes histórias partilhem esperanças comuns num futuro melhor. Esse seu discurso, assumindo o pai, homem negro do Quénia e sua mãe mulher branca do Kansas, bem como todos os seus ascendentes e toda a história americana com suas grandezas e misérias. ´
Falemos claro, Barack Obama venceu porque despertou e encarnou a esperança de que outras políticas eram possíveis, com “Yes, we can” conseguiu mobilizar a juventude e os cidadãos de todas as origens, que se abstinham por não acreditar ser possível uma política diferente, como podem recordar aqui.
Se nós pensarmos o caminho percorrido desde que Rosa Parks, a que nos referimos aqui, recusou dar o seu lugar a um branco no autocarro, se tivermos presente a luta de Martin Luther King, se nos lembrarmos que o actor negro Sammy Davis Jr quando anunciou que ia casar com uma actriz branca, a sueca May Britt em 1960, antes da eleição de John Kennedy teve que enfrentar manifestações do Ku Klux Klan que berravam “Salvem a raça branca”, os quais acabaram por adiar o casamento para não “prejudicar” a eleição de John Kennedy, percebemos o imenso significado desta vitória para mudar o relacionamento entre todos os cidadãos.
Obama não tem soluções mágicas para os problemas dos Estados Unidos e muito menos do mundo. As suas políticas deverão ser analisadas objectivamente, mas a sua vitória, foi a do candidato, que melhores soluções apresentou para os problemas, nomeadamente, para a actual crise financeira. Pelas razões referidas pode, contudo, alimentar dinâmicas reformadoras no sentido da reconciliação entre todos os seres humanos depois de séculos de opressão, escravatura, humilhação, racismo e violência.
Em Portugal, é ainda muito desigual e pouco equitativa a participação dos portugueses de origem não-branca na sociedade e na vida política portuguesa. Depois de alguns passos na década passada, actualmente têm-se progredido muito lentamente. Não é por falta de elites com essas origens, que são já elites pós-coloniais, mas sim porque só onde o recrutamento é feito na base do mérito e do concurso é que existem oportunidades.
Na vida política, sem excepção, ou nas empresas, a regra é da cooptação e quem coopta é homem e branco e coopta aqueles com quem convive, em quem tem confiança. Além disso, o não-branco só é visível se for excluído, senão deixa de ter cor.
Como dizia, Francisca van Dunem, ilustre Procuradora Distrital de Lisboa, com a eleição de Obama, “Estamos perante um salto civilizacional. Espero que a vitória contribua para mudar a representação negativa sobre negros nas sociedades ocidentais”.
Acrescentaria, negros, ou de outras origens, muitos dos quais são portugueses, que nunca foram a África, que nunca tiveram outra terra que não esta.
O problema é este: como assegurar oportunidades para todos os cidadãos de forma equitativa, melhorando a qualidade da nossa democracia?
Uma mulher, que é uma cidadã portuguesa muito inteligente, Faranaz Keshavjee, pergunta hoje no “Público”, «Seria possível uma mulher indo-afro-muçulmana aspirar a ser Presidente da República?». A resposta à pergunta só poderá ser dada pela prática, fazendo o caminho pelo interior das instituições, aprendendo com as lições de Barack Obama, sendo capaz de encarnar a esperança e a confiança não apenas de uma qualquer minoria, mas demonstrando capacidade de reunir em torno de si uma nova maioria, não ignorando as limitações das instituições e dos aparelhos políticos, mas sendo capazes de lhes impor outras dinâmicas. «Yes, we can!»

segunda-feira, novembro 03, 2008

REGISTO

Vale a pena ler blogues! Se tem dúvidas, leia.

João Rodrigues O Estado não pode parar à porta dos bancos no Ladrões de Bicicletas aqui.

Rui Pena Pires Irresponsabilidades no Canhoto aqui.

Tomás Vasques A frase no Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos aqui.

Miguel Abrantes Os contentores trazem as coisinhas que os alfacinhas portugueses consomem na Câmara Corporativa aqui.

Porfírio Silva Cadilhe o e capitalismo de Estado no Machina Speculatrix aqui.

domingo, novembro 02, 2008

IX CIMEIRA BRASIL-PORTUGAL CONSTRUIR UMA ALIANÇA ESTRATÉGICA

A recente IX Cimeira Brasil-Portugal, que teve lugar no passado dia 28 de Outubro de 2008, em São Salvador, no Estado da Bahia, foi um acontecimento político que vai marcar de forma decisiva a aliança estratégica que os dois países têm vindo a construir.
Sempre defendemos que é essencial promover um novo achamento entre os dois países e desenvolver o relacionamento mais directo entre os seus cidadãos, como fizemos aqui.
A IX Cimeira Brasil - Portugal é um ponto de chegada de um conjunto alargado de iniciativas políticas, culturais e económicas, iniciadas por António Guterres, que têm sido acompanhadas de um estreitar das relações económicas entre os dois países, como se pode ver, por exemplo, aqui e aqui. É, sobretudo, o começo de um ainda mais estreito relacionamento estratégico, que é essencial para participarem na construção em conjunto de uma nova ordem global.
Não podemos esquecer neste contexto a importância que teve a I Cimeira entre o Brasil e União Europeia, graças à determinação da Presidência portuguesa, que tudo fez para que se realizasse e com sucesso.
O Brasil é um dos países mais importantes no século XXI, Portugal tem uma sólida inserção na União Europeia, mas ambos os países tudo têm a ganhar se estreitarem cada vez mais os seus laços, se mantiverem sólidas alianças com todos os Estados - Membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e grande solidariedade com a Ibero - América, que realizou também esta semana uma importante Cimeira.
A IX Cimeira Brasil - Portugal, cuja Declaração Conjunta podem ler aqui, foi acompanhada da assinatura de importantes acordos entre empresas dos dois países, que podem ler aqui. Quero sublinhar a concertação político - diplomática, traduzida, designadamente, na declaração conjunta de que «a crise financeira internacional requer especial atenção e oferece oportunidades para mudanças estruturais no sistema financeiro internacional», tendo sublinhado que «os países emergentes têm papel de grande relevância nas discussões sobre a reforma do sistema financeiro internacional».
José Sócrates afirmou que: «A primeira prioridade é restabelecer a estabilidade do nosso sistema financeiro como resposta de curto prazo para mitigar os efeitos da crise. Mas não temos o direito, tanto político como moral de deixar tudo na mesma. Há, portanto, uma agenda de mudança no mundo» acrescentando ainda: «esta crise assinala a derrota daqueles que condenavam a intervenção do Estado na economia, além de mostrar uma nova ordem económica global mais justa e com instituições representativas, seja no âmbito político como no financeiro», como podem ver aqui.
Lula da Silva acrescentou que o «Estado volta a ter um papel extraordinário».
Foi também reafirmado o mútuo empenho «na conclusão com êxito do Ciclo de Doha para o desenvolvimento e reiteram a importância que atribuem à retomada das negociações entre o Mercosul e a União Europeia», afastando o retomar do proteccionismo como resposta à crise.
As afirmações políticas produzidas durante a Cimeira e muitas das declarações aprovadas são muito convergentes com posições dos que à esquerda se têm preocupado com a resposta à crise do capitalismo financeiro. Este facto não pode ser ignorado e deve ser analisado, o que farei em próxima ocasião.
Outro ponto central da Cimeira e que para mim corresponde a uma questão política fundamental, foi a afirmação da importância da promoção da língua portuguesa como língua global, comprometendo-se «a envidar esforços para adoção da língua portuguesa em foros multilaterais».
É de referir que todos «os atos assinados durante a IX Cimeira já estão redigidos segundo as regras de harmonização da língua portuguesa previstas no Acordo Ortográfico entre os Estados da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)». Esta nova aliança estratégica não pode ser apenas a nível de Estados, mas também dos cidadãos dos dois países.
É por isso uma boa notícia para os cidadãos que os Chefes de Governo se tenham congratulado com «a assinatura do Memorando de Entendimento para o Estabelecimento de Mecanismos de Consultas sobre Nacionais no Exterior, Circulação de Pessoas e Outros Temas Consulares, e ressaltaram que esse mecanismo deverá ser especialmente proveitoso para o acompanhamento sistemático daqueles temas».
Foi também saudada, com inteira justiça «o valor histórico da contribuição da comunidade portuguesa no Brasil e da comunidade brasileira em Portugal para o continuado progresso económico e social de ambos os países».
É a hora dos cidadãos darem o seu contributo para aprofundar esta aliança estratégica entre os dois países, essencial para o seu desenvolvimento, para a construção de uma nova ordem global mais justa, e para a afirmação da nossa língua comum - a língua portuguesa - como língua global.

Esta foto foi retirada do Portal do Governo aqui .