domingo, maio 18, 2008

SER SOCIALISTA HOJE

A profunda mutação económica, social, cultural e política que se tem verificado nas últimas décadas e a mudança profunda operada nos programas políticos e nas práticas governativas dos partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas, pode legitimamente suscitar a questão, faz sentido continuar a lutar pelo socialismo democrático?
Sobre esta matéria trava-se um interessante debate aqui e aqui, no qual se discute se as ideias socialistas não terão caducado no mundo de hoje, mesmo para as correntes políticas que se reclamam dessas ideias.
Colocando o debate noutro plano, poder-se-á perguntar, o que tem havido de socialista na política do governo do Partido Socialista liderado por José Sócrates? Dever-se-á acrescentar ainda outra questão, no quadro do processo multidimensional da globalização e da integração na União Europeia, que margem ficará para a aplicação de programas socialistas?
A resposta a estas questões não se esgota num simples post e ganharia em ser feita a várias vozes, mas desde já adianto que considero que continua a fazer sentido lutar pelo socialismo democrático e ser militante do Partido Socialista.
O socialismo democrático nunca confundiu os diferentes programas eleitorais que apresentou e procurou concretizar, que não representaram a forma única e definitiva de realizar os valores do socialismo democrático.
Sejamos claros, o PS modificou, por exemplo, as suas concepções sobre o papel das nacionalizações na construção do socialismo democrático, mas não abdicou de defender uma sociedade mais livre, mais igualitária e mais solidária.
A questão de fundo é esta: o que deve permanecer sãos os valores que são a razão de ser da nossa luta e sobre cuja concretização devemos discutir, existindo naturais diferenças de opinião sobre a adequação das políticas a privilegiar e o grau de intensidade da sua concretização.
Tudo o resto, programas, projectos, medidas, é mutável, sujeito a uma análise concreta em função da situação existente. É por isso que o Partido Socialista precisa de ser aquilo que muitas vezes não é, um espaço de debate político permanente com fronteiras abertas. Temos que elaborar permanentemente propostas que representem aproximações cada vez mais exigentes na concretização desses valores.
Na Declaração de Princípios do PS afirma-se que: «Os valores da liberdade, da igualdade e da solidariedade, sempre tem orientado o pensamento e a acção dos socialistas. As lutas contra a exploração, contra a opressão, contra os privilégios no acesso aos bens de cultura e do espírito, contra todas as formas de injustiça e discriminação, contra o fatalismo e todas as formas de submissão que negam ou diminuem o papel do ser humano como sujeito da história, fizeram-se e fazem-se em nome desses valores».
Hoje existindo um governo com maioria absoluta torna-se necessário que o Partido Socialista seja uma entidade viva e uma instância simultaneamente solidária e crítica das políticas do governo, o que não se tem verificado.
Temos de reconhecer que muitas medidas e propostas que foram concretizadas pelos socialistas se revelaram muito discutíveis, foram mal concretizadas, e estavam, ou estão, em contradição com os valores do socialismo democrático. Não podemos, contudo, ignorar que o activo da actuação do governo é francamente superior ao seu passivo, que todas as substituições feitas na composição do governo representaram passos na boa direcção e, que o PS, continua a dar um contributo insubstituível para um futuro viável e mais justo e mais moderno para o País.
Uma grande intelectual, católica e socialista, Sophia de Mello Breyner Andresen, um dos maiores poetas contemporâneos de língua portuguesa, escreveu, em 1 de Maio de 1975, num poema intitulado “Para Os Militantes do PS”:
«…
Porque não estás só mas continuas
E os outros unem suas mãos às tuas
Pr’a que um mundo mais justo e livre nasça
Por isso avanças sempre e não recuas
Connosco a poesia está nas ruas».

(“O Nome das Coisas”, publicado em 1977, pela Moraes Editores).
Estamos ainda a tempo e existem condições, que todos temos o dever de aproveitar para unir, através do debate, do confronto, do diálogo e da colaboração em torno do Partido Socialista, não apenas todos os seus militantes, mas também todos aqueles para quem este continua a ser um instrumento insubstituível para concretizar os valores do socialismo democrático.

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