domingo, março 16, 2008

NAMBUANGONGO MEU AMOR - Os poemas de guerra

Vai ser apresentado na próxima segunda-feira, o livro “Nambuangongo Meu Amor, os poemas de guerra” de Manuel Alegre.
O livro será apresentado por Lídia Jorge, autora do livro “A Costa dos Murmúrios”, que é um livro imprescindível sobre a guerra colonial, como “Jornada de África” de Manuel Alegre.
Na impossibilidade de estar presente, quero deixar aqui breves notas sobre estes poemas, ficando a aguardar a divulgação do texto inteligente e generoso, com que Lídia Jorge apresentará os poemas de guerra de Manuel Alegre.
São poemas que nos obrigam a recordar: mil novecentos e sessenta e um, um azul partindo-se em cinzento, Agosto angústia, Quipedro e Nambuangongo, os amigos mortos, as colunas que partiam de madrugada, as metralhadoras que cantam a canção da guerra.
Estes poemas cumprem um dever de memória porque nós não nos entendemos hoje como portugueses e como cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa se não recordarmos as feridas profundas, que a guerra colonial deixou, se não recordarmos os muitos “Pedro soldado”, mas também os muitos “Cristo de corpo negro”.
Pertenço a uma geração, que tinha onze anos em mil novecentos e sessenta e um, uma parte da qual, por uma pequena diferença de idade, e por causa do 25 de Abril, foi poupada à experiência da guerra colonial. Demos o nosso contributo para acabar com a guerra, designadamente, com a nossa participação na luta estudantil, e em greves académicas, como a de Coimbra em 1969. Muitos destes poemas foram por nós lidos e cantados como arma de luta, acompanharam-nos nas assembleias e manifestações de estudantes.
Mesmo aqueles que só foram a Angola, à Guiné, ou a Moçambique depois da descolonização, como aconteceu comigo, viveram intensamente a guerra e as marcas que foi deixando na sociedade portuguesa.
Como dizia a Sophia de Mello Breyner Andresen «Vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar».
Mas estes poemas não se limitam a denunciar que «agora se partires é sem paixão/sem galés e sem naus e já perdida/ a glória de partir», mas situa essa denúncia no quadro de uma meditação dolorosa sobre Portugal. Não é por acaso que Manuel Alegre com toda a sua poesia reescreveu uma outra história de Portugal e nos deixa aqui poemas como “Explicação de Alcácer Quibir”, “Crónica de El-Rei D. Sebastião” ou “À sombra das árvores milenares”.
Manuel Alegre pertence a um grupo de intelectuais portugueses e africanos, como Amílcar Cabral ou Mário e Joaquim Pinto de Andrade, que souberam perceber a solidariedade que unia portugueses e africanos na luta contra o fascismo e a guerra colonial e que criaram laços para a construção de um futuro solidário. Devemos-lhes por isso um dos alicerces mais sólidos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
A poesia de Manuel Alegre é atravessada pela tensão “entre Agosto e Mafra”, fala-nos de “Agosto angústia”, mas deixa-nos entrever permanentemente o esplendor do mundo, as codornizes, o verde oeste, os campos do Mondego, um mês de giestas, os imbondeiros, o avesso da guerra e do sangue.
Não deixa de ser significativo que este livro surja agora num período em que decorridos trinta e quatro anos sobre o 25 de Abril, os portugueses manifestam uma enorme curiosidade por repensar a história contemporânea de Portugal e demonstram vontade de o fazer sem tabus, nem preconceitos.
Pela primeira vez a guerra colonial foi objecto de um conjunto de programas na RTP, “A Guerra”, da autoria de Joaquim Furtado, que foi uma completa surpresa para muitos jovens nascidos depois do 25 de Abril.
Manuel Alegre afirma que no poema “À sombra das árvores milenares” perpassam talvez todos os outros, mas que «só muitos anos depois poderia ter sido escrito».
Também só agora foi o tempo propício para reunir neste livro todos os seus poemas de guerra.

1 comentário:

Lapa disse...

http://palcopiniao.blogspot.com/search/label/C%C3%82MARA%20MUNICIPAL%20DE%20COIMBRA%20URBANISMO

DIVULGUE ESTE CASO INCRÍVEL DA CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA, NÃO SE CONFORME.

OBRIGADO, COIMBRA AGRADECE!