domingo, março 09, 2008

ESPANHA - TERRORISMO, DEMOCRACIA E CIDADANIA

A organização terrorista basca ETA procurou condicionar o resultado das eleições com o cobarde assassinato de um antigo autarca socialista do país basco, Isaías Carrasco, de 43 anos, que já tinha prescindido da segurança a que tinha direito, na frente da mulher e da filha.
Foi um acto cobarde que procurou intimidar os eleitores, na linha das pressões e das ameaças que tem feito para boicotar as eleições e simultaneamente prejudicar eleitoralmente o PSOE (Partido Operário Socialista Espanhol), como Vital Moreira defende aqui.
Creio, contudo, que aquilo que a ETA mais teme é uma votação maciça que mostre o seu cada vez maior isolamento, a ETA pretende intimidar os eleitores, porque teme ser claramente derrotada pela democracia.
Faz todo o sentido que os cartazes do PSOE tivessem a palavra de ordem «Vota con todas tus fuerzas».
A ETA percebeu que Luís Rodriguez Zapatero irá agir como anunciou: «Face à ameaça do terror serei implacável». A ETA não aproveitou a oportunidade do diálogo e por isso conhecerá cada vez mais a força da lei e do Estado de direito, já que Zapatero está empenhado em assegurar por todos os meios a liberdade, a segurança e o direito de conviver de todos os que vivem em Espanha.
Estando ainda a decorrer o acto eleitoral só posso fazer votos para que as chamadas à urnas, do PSOE e da filha do autarca assassinado, sejam escutadas.
Não posso também deixar de registar algumas das palavras com que Zapatero condenou este assassinato: «Este atentado criminoso mostra, mais uma vez, a extrema crueldade de quem apostou em continuar com a sua execrável actividade contra o mais elementar dos direitos - o direito à vida».
Se a abstenção diminuir, incluindo, no país basco, isso significará que os cidadãos usaram os seus direitos cívicos para derrotar o terrorismo através da democracia. É importante que isso aconteça não só pelos espanhóis, mas por todos os que acreditamos na democracia como forma de exprimir a vontade popular.
A Espanha é hoje um país democrático em que os responsáveis dos crimes da ETA não são executados como o eram no estertor do franquismo, nem são torturados.
Continuo a condenar a execução de terroristas ou a utilização da tortura, mas não absolvo os seus crimes.
Todas as correntes nacionalistas bascas têm o direito de, no quadro da democracia espanhola, exprimir as suas opiniões inclusive as contrárias à unidade da Espanha, não têm o direito de fazer reféns, intimidar, pressionar ou matar.
Nesta matéria não nos podemos abster de nos solidarizarmos com todos os democratas e de condenar o terrorismo, seja relativamente a Espanha ou a qualquer outro país.
A expressão de cidadania que se traduz em ir votar, quando nos pretendem intimidar, é a base em que assenta a democracia e as liberdades públicas. Por tudo isto, quero deixar aqui a minha homenagem ao autarca assassinado Isaías Carrasco e esperar que a abstenção diminua e que a grande maioria dos espanhóis use o direito soberano de escolher o futuro que pretende para o seu país.
Se assim vier a acontecer o terrorismo terá tido uma significativa derrota política, não terá conseguido marcar as eleições como pretendia e muito provavelmente, o PSOE terá tido uma nova vitória.
Até que as urnas encerrem: «Vota com todas tus fuerzas».

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