terça-feira, janeiro 08, 2008

CRISTIANISMO EM REDE - A IGREJA NA NET

O anúncio da realização no próximo dia 15 de Janeiro, pela 18h30, no Auditório do Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, de um colóquio, organizado pelo Centro de Reflexão Cristã (CRC), intitulado «O Cristianismo em Rede - A Igreja na Net» é uma boa notícia para todos os que de alguma forma consideram fundamental a presença de Deus no mundo das novas tecnologias de comunicação. É também positivo que no debate participem bloguistas que têm uma rica experiência de intervenção nesta matéria, concretamente Carlos Cunha, que teve um papel destacado no blogue «Terra da Alegria», Tiago Cavaco do blogue «Voz do Deserto» e Ana Cláudia Vicente de «O Amigo do Povo». Dada a natureza das questões que irão ser abordadas poderemos dizer que é um debate que começará antes do colóquio e irá prosseguir depois na Rede. Quero deixar desde já algumas notas breves sobre esta matéria.
O colóquio é um pretexto útil para procurarmos identificar o tipo de presença e a relevância da presença do Cristianismo na Rede.
Desde logo há que começar por sublinhar a importância que o debate em torno do religioso, e não apenas, em torno do cristianismo, tem vindo a assumir na Rede. Várias instituições têm sítios na Rede que contribuem para difundir as suas perspectivas, numa óptica religiosa, anti-religiosa ou outra. A título exemplificativo, poder-se ia referir a Igreja católica, através, nomeadamente, de a Ecclesia, ou uma perspectiva anti-religiosa, ou exprimindo sensibilidades espirituais não confessionais, como as representadas pelas diferentes maçonarias, aqui ou aqui.
A Igreja Católica está representada, não apenas, por sítios institucionais como os já referidos, mas também por outros que exprimem a aspiração a outras formas de ser igreja como este do Nós Somos Igreja.
Para além dos sítios institucionais ou representativos de diferente sensibilidades, como por exemplo, este relativo à Comunidade Israelita de Lisboa, ou a Comunidade Islâmica de Lisboa, existem também blogues, em que de uma forma mais personalizada crentes que se identificam com diferentes confissões religiosas abordam os desafios do quotidiano e da cidade, quer numa perspectiva católica, católica e protestante, judaica ou baha’i, para referir alguns blogues, que temos acompanhado com mais atenção ou com quem estabelecemos laços de cumplicidades várias.
Procurando aproximar-me do tema do colóquio, considero que é possível distinguir dois tipos de blogues editados por cristãos: blogues que se assumem como exclusivamente cristãos, em que tudo é abordado supostamente exclusivamente nesta óptica e blogues em que cristãos assumindo as suas opções políticas, ou outras, abordam diferentes questões não apenas numa óptica que não se pretende como exclusivamente confessional, mas também assumidamente à luz das suas opções políticas, estéticas, ou outras.
Não pretendo valorar ou desvalorizar opções num ou noutro sentido, embora seja manifesta que a opção deste blogue é a segunda. Existem, aliás, outras possibilidades, há cristãos que escrevem em mais de um blogue, reservando para cada um deles dimensões diversas da sua existência.
Naturalmente que nada disto nos permite ignorar que, a dimensão religiosa ou espiritual, é minoritária na blogosfera nacional. Poderíamos dizer, utilizando, uma expressão de Eduardo Lourenço, que a generalidade, dos blogues são editados, «como se Deus não existisse», isto é, sem qualquer preocupação com esta questão.
Julgo, aliás, que é positivo que seja possível estabelecer ligações duradouras, de convergência, divergência ou cumplicidade entre blogues que têm diferentes abordagens destas matérias, independentemente da radicalidade com que cada um viva as suas opções.
A possibilidade de dialogar sobre o que pode tornar o ser humano mais humano, o mundo mais habitável, justo e sustentável, é o desafio mais fascinante que nos pode motivar neste início do século XXI, que deverá ser o século da fraternidade.
Gostaria de terminar, recordando o belíssimo poema de Jorge de Sena «Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya», no qual refere os que: «amaram o seu semelhante no que ele tinha de único / de insólito, de livre, de diferente». Nunca esquecerei a profunda impressão que me causou a leitura deste poema por Jorge de Sena, na Associação Académica de Coimbra, em Fevereiro de 1969.
«Amar o nosso semelhante no que ele tem de único, de insólito, de livre, de diferente»- eis o que poderá ser uma divisa para os cristãos que escrevem nos blogues.

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