A apresentação na semana passada do arquivo do Maria de Lurdes Pintasilgo, disponível na Rede aqui, foi um facto muito positivo e que permitirá estudar melhor não só o seu percurso, em todas as dimensões, mas também proporcionará novos ângulos para pensar a história contemporânea de Portugal.
Maria de Lurdes Pintasilgo foi uma personalidade que deu contributos importantes para a intervenção política, a renovação cultural e teológica, que devem ser estudados e divulgados.
O livro de Luísa Beltrão e Harry Hatton, “Uma História para o Futuro - Maria de Lourdes Pintasilgo”, ed. Tribuna da História., recentemente publicado, é uma boa ajuda para essa redescoberta.
O seu percurso político é singular. Desde a sua participação activa na Mocidade Portuguesa ou na Câmara Corporativa, a membro de governos no pós-25 de Abril, a primeira mulher a ser Primeira Ministra em Portugal, candidata independente à Presidência da República, deputada pelo Partido Socialista ao Parlamento Europeu.
Era uma figura fascinante do ponto de vista cultural e que deixou sulcos de esperança na sociedade portuguesa.
Mesmo quem não foi solidário com grande parte do seu percurso político, especialmente antes do 25 de Abril, como é o meu caso, reconhecerá a sua importância para a abertura de caminhos de maior justiça, equidade e solidariedade para a sociedade portuguesa.
Considero muito positiva a opção de dividir cronologicamente as diferentes fases de intervenção de Maria de Lurdes Pintasilgo, não separando as diversas dimensões da sua vida, que estavam nelas claramente interligadas.
Frei Bento Domingues na apresentação da Memória na Internet de Maria de Lurdes Pintasilgo, desafiou os jovens investigadores a fazerem estudos sobre os católicos que tiveram um percurso político do Estado Novo à democracia e depois da instauração da democracia.
Permito-me formular uma hipótese de investigação. Penso que poderemos distinguir no período anterior ao 25 de Abril, católicos com sensibilidade social que estavam empenhados em fazer evoluir o regime no sentido da abertura, entre os quais se contou nessa fase Maria de Lurdes Pintasilgo, e católicos que consideravam intolerável a ditadura, o esmagamento dos direitos dos homens e que, mesmo sabendo que era um combate desigual, lutaram pela democracia como condição imprescindível para a construção de um Portugal mais justo e fraterno, como foi, por exemplo, o caso dos irmãos Manuel e Joaquim Alves Correia, de Francisco Lino Neto, de Francisco Sousa Tavares, de Sophia de Mello Breyner Andresen ou de Felicidade Alves, para referir apenas pessoas já falecidas.
Maria de Lurdes Pintasilgo não foi apenas a primeira mulher Primeira Ministra em Portugal ou apenas a primeira candidata a Presidente da República, foi uma intelectual católica empenhada na causa das mulheres, a que dedicou ensaios notáveis e que soube valorizar o contributo para essa causa de três escritoras portuguesas, Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta como o livro, “Novas Cartas Portuguesas”.
Naturalmente que o percurso de Maria de Lurdes Pintasilgo tem de ser lido à luz da sua evolução como católica que privilegiava a reflexão teológica e que ia deixando os seus textos no “Boletim Igreja em Diálogo”, publicação periódica do Graal, movimento a que dedicou a sua vida, e que lhe abriu novos horizontes a nível nacional, mas sobretudo a nível internacional.
Por tudo isto aguardo com muita expectativa a futura publicação do Diário que confiou ao padre e psicanalista francês, Jacques Durandeaux, para preparar a sua publicação.
A cidade futura que pretendemos continuar a construir não pode ignorar o contributo de Maria de Lourdes Pintasilgo, para quem viver, foi de acordo com o poema da Carlos Oliveira, “empurrar o tempo ao encontro das cidades futuras”.
domingo, janeiro 27, 2008
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