domingo, janeiro 20, 2008

ALIANÇA DE CIVILIZAÇÕES - BOAS NOTÍCIAS

A realização nos passados dias 15 e 16 de Janeiro do I Fórum da Aliança de Civilizações (AdC), em Madrid, foi um marco importante na concretização deste projecto, a que já nos referimos aqui, quando saudámos a designação de Jorge Sampaio como Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança de Civilizações.
O Fórum debateu temas como: Aliança de Civilizações; a gestão da diversidade na era da globalização; o papel dos líderes religiosos na promoção de uma segurança partilhada; uso inovador dos meios de comunicação social para promover o diálogo inter-cultural; contributo dos jovens para o diálogo intercultural e inter-religioso; prevenção de conflitos, religião e políticos a nível comunitário; engajamento das empresas no AdC - como é que os negócios e o diálogo inter-cultural podem incentivar-se mutuamente. Estiveram representados mais de oitenta Estados e organizações internacionais, perfazendo mais de 350 participantes.
Este projecto que tem na sua origem o empenhamento do líder espanhol José Luís Rodríguez Zapatero e do líder turco Tayyip Erdogan aposta na Aliança de Civilizações, pretendendo ir para lá de um mero diálogo de civilizações e em contra - corrente com o apregoado «choque de civilizações» de Samuel Huntington.
No sítio da AdC que pode ler aqui podem-se obter mais informações sobre o Forum, bem como, declarações de Jorge Sampaio.
De Espanha veio também uma outra boa notícia nesta matéria, o anúncio da aprovação do plano espanhol para a Aliança de Civilizações, do qual constam medidas destinadas designadamente a promover o conhecimento mútuo e os valores cívicos.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, que esteve presente, anunciou que Portugal indicará um representante nacional, elaborará um programa nacional e apoiará as actividades do fórum com cem mil dólares e quer receber o Forum em 2012
Portugal é um país que deve valorizar a sua participação neste projecto e tem como ponto de partida uma situação muito positiva internamente em matéria de diálogo inter-religioso, que tem que ser potenciada no quadro do diálogo inter-cultural.
A nível de intervenção privilegiam-se quatro áreas no que se refere ào AdC: juventude, educação, migrações e comunicação social.
As funções que estão atribuídas a Jorge Sampaio constituem um enorme desafio, pois cabe-lhe construir um perfil de intervenção adequado aos desafios, múltiplos a que lhe cabe responder, e conseguir que lhe sejam atribuídos os recursos necessários para concretizar o seu programa de acção. As suas qualidades pessoais, a experiência política e profissional são garantia de que irá ser bem sucedido, mas poderá dizer-se dele o que Sophia de Mello Breyner Andresen escreveu sobre os marinheiros portugueses que «Navegavam com o mapa que faziam».
A AdC é como Jorge Sampaio referiu «uma iniciativa certa no momento certo». Portugal, como a Espanha e os restantes países da União Europeia devem compreender a sua importância se tiverem em conta, a necessidade de diálogo com diversas expressões da cultura islâmica dominantes em Estados vizinhos. A importância crescente da imigração contribuiu também para reforçar a diferença e a necessidade de a gerir de forma positiva no interior das sociedades europeias.
A Turquia que tem apadrinhado a AdC é ela própria um laboratório deste diálogo nela coexistindo e confrontando-se diversas concepções de civilização de matriz islâmica, das mais seculares às mais marcadamente confessionais, e onde coexistem minorias cristãs, elas próprias plurais.
O que tudo isto nos deve levar a ponderar é que o diálogo de civilizações e a AdC é algo que não se coloca apenas nas relações entre Estados, mas a nível local e nacional no interior das nossas próprias sociedades.
Ora todos sabemos como o desconhecimento do outro abre caminho à desconfiança, ao medo e aos preconceitos.
É por isso de considerar a sugestão feita por Jorge Sampaio no sentido de que: «a história das religiões deve ser integrada no ensino». Só se pode gostar e respeitar o que se conhece. O conhecimento é condição para o mútuo reconhecimento.
Para construir a AdC ninguém é prescindível, comunidades religiosas ou laicas, Estados, líderes políticos ou responsáveis religiosos, académicos ou empresários, cidadãos.
Os destinatários da AdC são os próprios cidadãos e só com cidadãos informados e responsáveis poderemos esperar um futuro de paz e de respeito pelos direitos de todos.

1 comentário:

Marco Oliveira disse...

Eu gostava de ser optimista, sobre a AdC.
Mas se pensarmos que países como a Turquia, o Irão e o Egipto, que se mostram tão entusiasmados com a AdC não conseguem viver com a diversidade cultural, étnica e religiosa no interior das suas fronteiras, que motivos temos para pensar que o conseguirão fazer no relacionamento com outros Estados?