domingo, março 13, 2005

Portugal uma Nação um pouco mais Cosmopolita

A condecoração pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, da atleta Naide Gomes, no quadro da homenagem a um conjunto de trinta individualidades femininas no passado dia 8 de Março, Dia Mundial da Mulher, foi mais um passo na afirmação dos cidadãos portugueses negros. Dito de outra forma, mais rigorosa, foi mais um passo na afirmação da cidadania de todos os portugueses, pois só quando os portugueses de todas as origens e de todas as cores de pele tiverem uma participação equitativa em todos os níveis da sociedade e do Estado é que teremos uma verdadeira República de cidadãos.
Naide Gomes é o nome por que é conhecida Enezenaide Gomes, nascida em São Tomé e Príncipe, a 10 de Janeiro de 1979, que se tornou cidadã portuguesa por naturalização em 2001, tendo-a pedido quando tinha 17 anos. Naide vive, treina e tem feito a sua preparação desportiva em Portugal desde muito jovem apesar de só ter sido considerada portuguesa há poucos anos.
A medalha de ouro que conquistou recentemente nos Campeonatos da Europa em Pista Coberta, que se realizaram em Madrid, na prova de salto em comprimento em que atingiu 6,70 metros, foi para todos os portugueses uma grande alegria. Como o foram a medalha de prata conquistada por Francis Obikwelu, nigeriano naturalizado português, nos Jogos Olímpicos de Atenas nos 100 metros, ou a actuação de Deco, brasileiro naturalizado português, na Selecção Nacional de Futebol durante o EURO 2004.
São cidadãos que escolheram ser portugueses na sua procura de felicidade e de realização pessoal, que nós aceitámos e acolhemos como compatriotas, e que nos vieram enriquecer com a sua capacidade de trabalho sério, duro exigente, sem o qual não teriam alcançado aquelas metas.
Se estes são casos de maior exposição mediática, muitos outros cidadãos portugueses por naturalização nos acrescentam, tomando conta de idosos ou de doentes portadores de doenças transmissíveis, trabalhando como profissionais liberais, professores, investigadores, na moda ou em trabalhos não especializados mas imprescindíveis, para falar apenas do que conheço directamente. Todos contribuem para que sejamos um País mais rico culturalmente e mais capaz de conseguir um melhor lugar na escala dos países com maior nível de desenvolvimento humano.
Este facto deve também levar-nos a reflectir sobre a forma injusta e inadmissível como continuamos a privar da nacionalidade portuguesa muitos milhares de filhos de imigrantes que aqui nasceram e sempre aqui viveram, que têm laços profundos com a sociedade portuguesa e a quem continuamos a tratar como estrangeiros e até, nalguns casos, como imigrantes em situação irregular.
Tenho esperança que com o novo governo de José Sócrates se dêem passos na correcção destas injustiças como consta do Programa do Governo.
Portugal foi um grande País quando se abriu à diversidade de origens, de culturas e de religiões e entrou em declínio quando se fechou, se tornou discriminador, intolerante e cinzento.
Um Portugal à altura dos desafios da construção europeia e da globalização terá de ser cada vez mais uma Nação cosmopolita. Só assim será capaz de enfrentar a incerteza e o carácter parcialmente imprevisível dos desafios, contando com a riqueza da sua diversidade cultural, de capacidades e competências, que aumentam as possibilidades de se adaptar com sucesso e de construir respostas inovadoras.
Valorizar o contributo de todos os portugueses sem qualquer tipo de discriminação, e facilitar a aquisição originária da nacionalidade portuguesa por parte dos filhos de imigrantes nascidos em Portugal é caminhar no bom sentido, na construção de uma Nação um pouco mais cosmopolita.

2 comentários:

Marco Oliveira disse...

O ideal era que os filhos dos emigrantes pudessem competir em pé de igualdade com os filhos dos portugueses. Quantos são-tomenses da geração de Naide Gomes frequentaram um curso universitário em Portugal e têm hoje um emprego com consições semelhantes aos portugueses dessas mesma geração?
Se tantas vezes ouvimos falar na questão de "quotas para mulheres", porque não insistir nas "quotas para emigrantes naturalizados"?...
É só uma ideia.

Acilina disse...

Há poucos anos numa das minhas turmas de matemática num curso de engenharia, havia uma aluna que se destacava enormemente dos seus colegas. Até eles fivavam boqueabertos quando ela resolvia os problemas no quadro. Rápida no raciocínio, sabendo bem a matéria e elegante a expor. Tive curiosidade de saber porquê, quem seria? Era uma menina de Cabo Verde que aí tinha feito o 12º ano. Com o programa que nós tivemos no início da criação do 12º ano e que foi adoptado em Cabo Verde, não tendo aí sofrido alterações, enquanto aqui foi sucessivamente diminuido e simplificado... Mas não se deve apenas ao programa do 12º ano, o sucesso da menina. Ela era muito inteligente e muito trabalhadora, apesar das dificuldades. Soube que estava em vias de ter de abandonar o quarto onde estava... entretanto perdi-lhe o rasto. O semestre acabou e ela obviamente fez a cadeira. Era um exemplo e um modelo para os colegas que pouco se esforçam.