A participação política de católicos a título pessoal, de acordo com a sua consciência, em diferentes partidos políticos é hoje encarada como um dado natural, que não suscita emoção, nem sequer especial reflexão.
Os problemas que armadilharam e dificultaram essa participação política no passado foram ultrapassados, mas para que assim fosse muitos sofreram amargas incompreensões. Leigos ou padres, ao longo do século XX, lançaram as bases teológicas e filosóficas que a tornaram possível, antes e depois do Concílio Vaticano II.
Romolo Murri, notável pensador italiano, um dos pioneiros dessa participação, como o foi noutro tempo e modo, por exemplo, Jacques Maritain com a distinção entre agir como cristão e enquanto cristão.
As reflexões de Romolo Murri sobre a sociedade, a política e a Igreja em Portugal, resultante da sua visita a Portugal como correspondente do jornal La Stampa no limiar da queda da Monarquia e do advento da República, revestem-se de particular interesse por serem um olhar singular, de um intelectual católico e político italiano de esquerda.
A publicação pela primeira vez em português deste pequeno livro de Romolo Murri muito deve ao empenho e à qualidade profissional e académica de João Miguel Almeida, que tem publicado livros imprescindíveis para analisar a prática política dos católicos no século XX português. João Miguel Almeida faz preceder o texto de Romolo Murri de um ensaio, em que analisa com profundidade diferentes correntes de pensamento que atravessavam o catolicismo político português, a crise do rotativismo monárquico e a forma como Murri foi discutido pelos católicos portugueses na época.
Com a sua publicação disponibiliza-se uma fonte importante que “(…) contribui para o labor historiográfico, como desenvolvimento do conhecimento da realidade na sua complexidade”, como refere António Matos Ferreira, Director-adjunto do CEHR (Centro de Estudos de História Religiosa) da Universidade Católica Portuguesa.
Maurilio Guasco, Professor de História do Pensamento Político Contemporâneo na Universidadde de Piemonte Oriental; Itália., traça um retrato impressivo de “Romolo Murri: percurso de um crente, intelectual e político católico”.
Romolo Murri teve uma acção precursora durante o pontificado de Leão XIII, foi vítima das orientações políticas conservadoras de Pio X e foi excomungado, sob a acusação de modernista, apesar de ter sido sempre um pensador tomista, tendo acabado por se reconciliar plenamente com a Igreja graças à intervenção directa de Pio XII, que fora seu aluno. Romolo Murri pagou um preço muito elevado por ter sido pioneiro na defesa da intervenção política dos católicos sem sujeição à tutela eclesiástica e por defender a colaboração entre democratas-cristãos e socialistas.
Murri, aliás, nunca deixou de ser católico e de se considerar como tal. Maurilio Guasco cita as suas palavras depois da reconciliação: “O meu lugar na tradição e na vida espiritual e nas lutas de pensamento da sociedade a que pertenço está no catolicismo: e do catolicismo procurei sempre dar testemunho (…)”.
João Miguel Almeida tem razão quando afirma que “detecto ecos das questões levantadas por Rómulo Murri nos problemas que Francisco Lino Neto e Salgado Zenha enfrentaram na transição do Estado Novo para a democracia”. Os católicos democratas e oposicionistas como Francisco Lino Neto optaram por colaborar politicamente com uma geração de republicanos e socialistas, “como Salgado Zenha e Mário Soares, que se demarcaram da tradição anti-clerical” e aderiram ao Partido Socialista em vez de criarem um Partido Democrata-Cristão.
Estas opções, permitam-me que acrescente, marcaram profundamente o curso político pós 25 de Abril e contribuíram positivamente para o enraizamento sustentável do Partido Socialista, em comparação como outros congéneres europeus menos abertos à pluralidade de inspirações ideológicas.
Romolo Murri, quaisquer que tenham sido as limitações do seu pensamento, abriu um caminho que teria sido mais difícil de percorrer sem o seu contributo.
Como católico e socialista não posso deixar de considerar este livro uma leitura imprescindível, para os muitos milhares de católicos que têm feito uma opção política similar.
Os problemas que armadilharam e dificultaram essa participação política no passado foram ultrapassados, mas para que assim fosse muitos sofreram amargas incompreensões. Leigos ou padres, ao longo do século XX, lançaram as bases teológicas e filosóficas que a tornaram possível, antes e depois do Concílio Vaticano II.
Romolo Murri, notável pensador italiano, um dos pioneiros dessa participação, como o foi noutro tempo e modo, por exemplo, Jacques Maritain com a distinção entre agir como cristão e enquanto cristão.
As reflexões de Romolo Murri sobre a sociedade, a política e a Igreja em Portugal, resultante da sua visita a Portugal como correspondente do jornal La Stampa no limiar da queda da Monarquia e do advento da República, revestem-se de particular interesse por serem um olhar singular, de um intelectual católico e político italiano de esquerda.
A publicação pela primeira vez em português deste pequeno livro de Romolo Murri muito deve ao empenho e à qualidade profissional e académica de João Miguel Almeida, que tem publicado livros imprescindíveis para analisar a prática política dos católicos no século XX português. João Miguel Almeida faz preceder o texto de Romolo Murri de um ensaio, em que analisa com profundidade diferentes correntes de pensamento que atravessavam o catolicismo político português, a crise do rotativismo monárquico e a forma como Murri foi discutido pelos católicos portugueses na época.
Com a sua publicação disponibiliza-se uma fonte importante que “(…) contribui para o labor historiográfico, como desenvolvimento do conhecimento da realidade na sua complexidade”, como refere António Matos Ferreira, Director-adjunto do CEHR (Centro de Estudos de História Religiosa) da Universidade Católica Portuguesa.
Maurilio Guasco, Professor de História do Pensamento Político Contemporâneo na Universidadde de Piemonte Oriental; Itália., traça um retrato impressivo de “Romolo Murri: percurso de um crente, intelectual e político católico”.
Romolo Murri teve uma acção precursora durante o pontificado de Leão XIII, foi vítima das orientações políticas conservadoras de Pio X e foi excomungado, sob a acusação de modernista, apesar de ter sido sempre um pensador tomista, tendo acabado por se reconciliar plenamente com a Igreja graças à intervenção directa de Pio XII, que fora seu aluno. Romolo Murri pagou um preço muito elevado por ter sido pioneiro na defesa da intervenção política dos católicos sem sujeição à tutela eclesiástica e por defender a colaboração entre democratas-cristãos e socialistas.
Murri, aliás, nunca deixou de ser católico e de se considerar como tal. Maurilio Guasco cita as suas palavras depois da reconciliação: “O meu lugar na tradição e na vida espiritual e nas lutas de pensamento da sociedade a que pertenço está no catolicismo: e do catolicismo procurei sempre dar testemunho (…)”.
João Miguel Almeida tem razão quando afirma que “detecto ecos das questões levantadas por Rómulo Murri nos problemas que Francisco Lino Neto e Salgado Zenha enfrentaram na transição do Estado Novo para a democracia”. Os católicos democratas e oposicionistas como Francisco Lino Neto optaram por colaborar politicamente com uma geração de republicanos e socialistas, “como Salgado Zenha e Mário Soares, que se demarcaram da tradição anti-clerical” e aderiram ao Partido Socialista em vez de criarem um Partido Democrata-Cristão.
Estas opções, permitam-me que acrescente, marcaram profundamente o curso político pós 25 de Abril e contribuíram positivamente para o enraizamento sustentável do Partido Socialista, em comparação como outros congéneres europeus menos abertos à pluralidade de inspirações ideológicas.
Romolo Murri, quaisquer que tenham sido as limitações do seu pensamento, abriu um caminho que teria sido mais difícil de percorrer sem o seu contributo.
Como católico e socialista não posso deixar de considerar este livro uma leitura imprescindível, para os muitos milhares de católicos que têm feito uma opção política similar.
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