domingo, setembro 19, 2010

NÃO HÁ FUTURO SEM SOLIDARIEDADE

Não Há Futuro Sem Solidariedade de Dionigi Tettamanzi, Cardeal arcebispo de Milão, editado pelas Paulinas Editora, nasce da vontade de contribuir de forma decidida para ajudar os desempregados e as famílias, vítimas da crise.
Temos defendido a necessidade do Estado assumir as suas responsabilidades sociais, mas pensamos que a resposta à actual crise estrutural e prolongada do capitalismo exige simultaneamente a mobilização da sociedade civil.
Como escreveu Guilherme d’Oliveira Martins no prefácio da edição portuguesa: Os mecanismos do Estado providência têm afinal, de ser acompanhados por iniciativas criadoras dos cidadãos, pelos instrumentos da sociedade providência e por novas formas de solidariedade alargada.
Este livro pode contribuir para a mobilização dos católicos e de outros cidadãos para a ajuda às vítimas da crise, estimulando o surgimento de novos movimentos de solidariedade.
Todos nós somos questionados individual e colectivamente pela questão: o que podemos fazer?
Boaventura Sousa Santos tem sublinhado a importância entre nós da sociedade providência, mas é necessário dinamizá-la como novas iniciativas criadoras. A partilha da criação de um Fundo Família Trabalho é uma boa prática de que se podem retirar úteis ensinamentos. Não é por acaso, que entre nós, D. Carlos de Azevedo já defendeu a criação de um fundo em termos menos precisos como podem ver aqui, o que não foi muito bem recebido por vários agentes políticos com a excepção de Manuel Alegre, que se lhe referiu aqui.
Há, contudo, que ter presente que este Fundo Família Trabalho tem um âmbito diocesano e não nacional e que foi constituído com 1.000 000 euros (um milhão de euros) com o objectivo de socorrer as necessidades relacionadas com a actual crise económica extraordinária extinguindo-se em princípio a 31 de Dezembro de 2010, mas podendo ser prorrogado por um ou mais anos consoante o andamento da crise.
O funcionamento de um Fundo deste tipo exige desde logo a possibilidade de mobilizar recursos. No caso do Fundo Família Trabalho, o milhão de euros com que foi iniciado provinha dos oito por mil que no sistema fiscal italiano cada cidadão pode destinar a obras de caridade, das ofertas que no período natalício chegam em Milão para a Caridade do Arcebispo, das opções de sobriedade da diocese e do próprio arcebispo.
É de sublinhar que Dionigi Tettamanzi acrescentou desde logo que a distribuição de fundos não acontecerá imediatamente, mas nos próximos meses e não será “ao molho”, mas com “um destino concreto”.
Foi privilegiada a elaboração de projectos inteligentes que respondessem às necessidades. A preocupação de Dionigi Tettamanzi foi: Estes recursos não podem ser uma forma de assistencialismo, mas uma ajuda para que quem perde o trabalho não perca também a sua dignidade.
A preocupação de reunir fundos e de organizar a sua gestão adequada através da Caritas local e das ACLI (Associação Cristã dos Trabalhadores Italianos) foi acompanhada da consciência dos limites do contributo que um fundo deste tipo pode dar na resposta aos problemas gerados pela crise, representando uma gota no mar das necessidades.
Para além das respostas às necessidades concretas dos desempregados e suas famílias, a criação deste fundo revestiu-se de uma valência educativa primária.
Como Dionigi Tettamanzi refere o Fundo é um gesto, de per si circunscrito, mas significativo e concreto, que já tem valor em si mesmo, mas sobretudo um valor capaz de interpelar a vivência das pessoas, de muitos outros.
Este livro tem o mérito de nos desassossegar, de nos tornar insatisfeitos perante as limitações das respostas que já foi possível concretizar, públicas e privadas, é por isso um livro de leitura imprescindível.

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