domingo, junho 14, 2009

LISBOA DE FERNANDO PESSOA, SEGUNDO JOSÉ FONSECA E COSTA

Os Mistérios de Lisboa or What TheTourist Should See do cineasta José Fonseca e Costa, cuja obra podem conhecer melhor aqui, é um filme, simultaneamente, fiel ao Guia escrito por Fernando Pessoa em que se inspirou e uma leitura pessoal e original desse texto.
A antestreia deste filme, de que podem ver aqui um trailer, no passado dia 13 de Junho, em que se assinalaram cento e vinte e um anos da data do nascimento de Fernando Pessoa é uma homenagem digna, e representa uma forma de continuar a sua obra e a sua acção. O nome completo do poeta nascido no dia de nascimento de Santo António, 13 de Junho, que se chamava Fernando de Bulhões, foi por isso mesmo Fernando António Nogueira Pessoa, que podem conhecder melhor aqui.
Lisboa é a cidade onde nasceu Fernando Pessoa e que ele amou mais do que qualquer outra e a Câmara de Lisboa tem procurado contribuir para o melhor conhecimento e internacionalização da sua obra, o que faz de forma permanente com a Casa – Museu Fernando Pessoa, que pode conhecer melhor aqui.
Lisboa foi para Fernando Pessoa a pátria, condensadamente no dizer de Teresa Rita Lopes, no prefácio que escreveu para aquele Guia, editado com o título Lisboa: O que o turista deve ver, Livros Horizonte, 1992, edição patrocinada pela Câmara Municipal de Lisboa.
O poeta escreveu este texto em inglês para promover internacionalmente a cidade. Inseria-se num conjunto de publicações, intitulado All about Portugal, que desejava editar, como refere Teresa Rita Lopes, que acrescenta também que ele pretendia criar uma firma significativamente denominada Cosmopolis para realizar este e outros projectos afins. Fernando Pessoa pretendia, desta forma, exportar a nossa cultura, e não apenas importar a cultura estrangeira, lutar contra a nossa descategorização europeia, a nossa descategorização civilizacional animado pelo seu nacionalismo cosmopolita.
José Fonseca e Costa partiu deste escrito, adaptando-o para servir de guião ao filme. A versão original do filme é narrada em inglês pelo escritor americano Peter Coyote, mas foram feitas: duas versões em português, uma portuguesa de Paulo Pires, outra brasileira de Marília Gabriela; versões em francês, italiano, castelhano e alemão. Cumprem-se desta forma o objectivo com que Fernando Pessoa escreveu o seu guia em inglês.
Este projecto deve-se também ao entusiasmo e estímulo inicial do Presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, sem os quais, como afirmou Fonseca e Costa talvez não tivesse realizado o filme. José Fonseca e Costa realizou um belíssimo filme sobre Lisboa, cumprindo de forma admirável o projecto do poeta de iniciação dos estrangeiros (e nacionais) ao conhecimento de Lisboa. Fê-lo com grande rigor, tendo em conta não apenas o escrito de Fernando Pessoa, mas também a Lisboa de poemas de Álvaro de Campos.
A Lisboa do Guia de Pessoa, datada de 1925, era também necessariamente diferente da actual. José Fonseca e Costa manteve-se fiel à Lisboa de Pessoa, dando dela contudo, necessariamente uma versão actualista. Os sons correspondentes aos ambientes são outros e foram gravados com muito rigor, as casas ganharam cor, o Chiado foi reconstruído, mas Pessoa reconheceria facilmente a Lisboa, que conheceu. José Fonseca e Costa teve o cuidado de ao iniciar o filme dar a ver algumas imagens da Lisboa que não existia, o Parque das Nações, a Gare do Oriente, de deixar ver o Centro Cultural de Belém, antes de filmar os Jerónimos.
É, como já referimos, um belíssimo filme que fica a fazer parte da iconografia de Lisboa, tal como os filmes Dans la Ville Blanche de Alain Tanner ou Lisbon Story de Wim Wenders.
A cidade de Fernando Pessoa mudou muito, criou novas centralidades, tornou-se mais cosmopolita, os alfacinhas enriqueceram-se com a vinda de novos lisboetas, vindos de todo o país e de vários continentes, a cidade tornou-se mais ecuménica, tendo ao lado das magníficas Igrejas de que nos fala o filme novas Igrejas católicas, mas também uma Mesquita, um Templo Ismaíli, um Templo Hindu, para lá da Sinagoga, que já existia.
Só podemos desejar que o sucesso deste filme abra caminho a novas visões cinematográficas de Lisboa, que prossigam o projecto de Fernando Pessoa de lutar contra a descategorização europeia, contribuindo para afirmar Lisboa como cidade global, uma grande metrópole cosmopolita.

1 comentário:

Philippe disse...

The book in English is available at http://lisbon.pessoa.free.fr ;).