“Viva o Povo Brasileiro” é um dos grandes livros do escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, a quem foi atribuído o Prémio Camões 2008.
Para os que se limitaram a ler “A Casa dos Budas Ditosos” (1999) ou para os que nunca leram este escritor, recomendo a leitura do “Viva o Povo Brasileiro” (1984), que só por si, seria suficiente para consagrar o autor como um dos grandes escritores de Língua Portuguesa.
Li o livro na ortografia original do autor, edição D. Quixote, Lisboa (1998), e fiquei fascinado pela forma como o autor utiliza a Língua Portuguesa e constrói o seu romance.
João Ubaldo Ribeiro, baiano, de Itaparica, escreve um português bem diferente da escrita que o meu conterrâneo, beirão, Aquilino Ribeiro utiliza, por exemplo, nesse livro, igualmente notável “A Casa Grande de Romarigães” (1957), mas quem não for capaz de ler com prazer, qualquer uma destas obras, é um português, um brasileiro ou um leitor de português insuficientemente alfabetizado.
As literaturas de Língua Portuguesa, incluindo as ricas literaturas africanas de Língua Portuguesa, em que avultam escritores como Luandino Vieira, Mia Couto, Pepetela, Germano Almeida, José Eduardo Agualusa devem fazer parte do cânone cultural dos cultores da Língua Portuguesa. É fundamental que se estimule o conhecimento, o contacto, a troca cultural entre os falantes da Língua Portuguesa. Promover a Língua Portuguesa no Mundo passa também por promover as literaturas de Língua Portuguesa.
João Ubaldo Ribeiro dá a voz a figuras muito diversas e utiliza para isso o recurso a diferentes modos de falar, incorporando permanentemente palavras que têm a ver com as diferentes componentes do código genético do Povo Brasileiro, designadamente, índio, negro e português.
Para dar dois exemplos contrastantes confronte-se, a fala de Dadinha e a do Cónego Visitador D. Francisco Manuel de Araújo Marques.
João Ubaldo Ribeiro, com grande conhecimento histórico e com grande mestria na utilização das técnicas narrativas dá-nos elementos para percebermos o processo de formação do Povo Brasileiro, ao longo de quatro séculos, alternando um registo irónico ou mesmo sarcástico com a ternura com que envolve, nomeadamente, Maria da Fé.
Esta leitura baiana da história brasileira não dispensa a de um livro da história do Brasil, mas ajudará a entender o que fica por dizer na generalidade dessas abordagens.
Só um grande escritor, com uma grande erudição e domínio do vocabulário e das técnicas narrativas poderia permitir-se abordar a guerra do Paraguai num registo épico-trágico, que me lembrou muito a forma como Camões envolveu os deuses nos descobrimentos portugueses em “Os Lusíadas”. Vénus, Marte e Júpiter, utilizados por Luís de Camões são aqui substituídos por um conjunto alargado de divindades afro-brasileiras, desde o orixá Oxóssi, a Oxalá, pai dos homens, passando por Xangó, o que atira pedras, por Ogum, cujo nome é a própria guerra, e por Iansá, domadora dos ventos e dos espíritos.
O que me comoveu, contudo, mais na leitura deste livro foi o imenso sofrimento dos escravos e do povo, permanentemente alvo de violências, da exploração e da opressão dos poderosos, mas que nunca se rendeu, nem nunca se rende, que se levanta pela Justiça e ganha consciência histórica.
Depois de ler este livro «não há como não acreditar», para citar Lourenço, filho de Maria da Fé e de Patrício Macário, «que existe a Irmandade do Povo Brasileiro e a Irmandade do Homem» e que temos e esperança e razões para continuar a lutar por mais Justiça e Cidadania para todos.
Para os que se limitaram a ler “A Casa dos Budas Ditosos” (1999) ou para os que nunca leram este escritor, recomendo a leitura do “Viva o Povo Brasileiro” (1984), que só por si, seria suficiente para consagrar o autor como um dos grandes escritores de Língua Portuguesa.
Li o livro na ortografia original do autor, edição D. Quixote, Lisboa (1998), e fiquei fascinado pela forma como o autor utiliza a Língua Portuguesa e constrói o seu romance.
João Ubaldo Ribeiro, baiano, de Itaparica, escreve um português bem diferente da escrita que o meu conterrâneo, beirão, Aquilino Ribeiro utiliza, por exemplo, nesse livro, igualmente notável “A Casa Grande de Romarigães” (1957), mas quem não for capaz de ler com prazer, qualquer uma destas obras, é um português, um brasileiro ou um leitor de português insuficientemente alfabetizado.
As literaturas de Língua Portuguesa, incluindo as ricas literaturas africanas de Língua Portuguesa, em que avultam escritores como Luandino Vieira, Mia Couto, Pepetela, Germano Almeida, José Eduardo Agualusa devem fazer parte do cânone cultural dos cultores da Língua Portuguesa. É fundamental que se estimule o conhecimento, o contacto, a troca cultural entre os falantes da Língua Portuguesa. Promover a Língua Portuguesa no Mundo passa também por promover as literaturas de Língua Portuguesa.
João Ubaldo Ribeiro dá a voz a figuras muito diversas e utiliza para isso o recurso a diferentes modos de falar, incorporando permanentemente palavras que têm a ver com as diferentes componentes do código genético do Povo Brasileiro, designadamente, índio, negro e português.
Para dar dois exemplos contrastantes confronte-se, a fala de Dadinha e a do Cónego Visitador D. Francisco Manuel de Araújo Marques.
João Ubaldo Ribeiro, com grande conhecimento histórico e com grande mestria na utilização das técnicas narrativas dá-nos elementos para percebermos o processo de formação do Povo Brasileiro, ao longo de quatro séculos, alternando um registo irónico ou mesmo sarcástico com a ternura com que envolve, nomeadamente, Maria da Fé.
Esta leitura baiana da história brasileira não dispensa a de um livro da história do Brasil, mas ajudará a entender o que fica por dizer na generalidade dessas abordagens.
Só um grande escritor, com uma grande erudição e domínio do vocabulário e das técnicas narrativas poderia permitir-se abordar a guerra do Paraguai num registo épico-trágico, que me lembrou muito a forma como Camões envolveu os deuses nos descobrimentos portugueses em “Os Lusíadas”. Vénus, Marte e Júpiter, utilizados por Luís de Camões são aqui substituídos por um conjunto alargado de divindades afro-brasileiras, desde o orixá Oxóssi, a Oxalá, pai dos homens, passando por Xangó, o que atira pedras, por Ogum, cujo nome é a própria guerra, e por Iansá, domadora dos ventos e dos espíritos.
O que me comoveu, contudo, mais na leitura deste livro foi o imenso sofrimento dos escravos e do povo, permanentemente alvo de violências, da exploração e da opressão dos poderosos, mas que nunca se rendeu, nem nunca se rende, que se levanta pela Justiça e ganha consciência histórica.
Depois de ler este livro «não há como não acreditar», para citar Lourenço, filho de Maria da Fé e de Patrício Macário, «que existe a Irmandade do Povo Brasileiro e a Irmandade do Homem» e que temos e esperança e razões para continuar a lutar por mais Justiça e Cidadania para todos.
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