domingo, novembro 18, 2007

TIMOR-LESTE - RAMOS-HORTA EM LISBOA

A visita a Lisboa do Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, foi um acontecimento que veio recordar a necessidade de seguir com atenção a evolução política em Timor-Leste.
Ramos-Horta deve ter sentido que depois da mobilização sem paralelo que se verificou em Portugal no passado recente, houve um certo distanciamento de uma parte da opinião pública nos últimos anos. A instabilidade política, a divisão entre dirigentes políticos que tinham estado unidos na luta pela independência, a que na altura nos referimos aqui, provocou algum arrefecimento emocional da opinião pública portuguesa.
No seu improviso na Câmara Municipal de Lisboa depois de ter evocado um tocante gesto de solidariedade recebido no passado, quando uma portuguesa pobre de Lourosa lhe deu mil escudos para apoiar a luta do povo timorense, que manifestamente lhe faziam falta, que hesitou em aceitar, resolveu responder a esse sentimento.
Referiu que, apesar da responsabilidade pelos confrontos ocorridos pertencer aos timorenses, e, particularmente os que eram titulares dos órgãos de soberania, era necessário compreender o contexto em que se verificaram. Considerou que o maior erro foi não ter havido um maior período de transição sob a égide das Nações Unidas e recordou a instabilidade política que também se verificou em Portugal após o 25 de Abril para nos ajudar a fazer compreender o que se passou em Timor-Leste. Falou desta forma para os amigos que se emocionam profundamente, mas que também se decepcionam com facilidade.
Portugal é hoje o maior parceiro de cooperação com Timor-Leste, que é o maior destinatário da nossa ajuda pública ao desenvolvimento. Os sectores prioritários de cooperação são o ensino da língua portuguesa, a educação, a capacitação institucional, particularmente na área da justiça.
Das intervenções públicas de Ramos-Horta ressaltam algumas questões que têm de ter resposta adequada: a necessidade de prosseguir o apoio ao enraizamento do português a par do tétum como língua oficial; a necessidade de manter a presença de forças internacionais, designadamente, da GNR e da PSP durante alguns anos para assegurar a estabilidade.
Ramos-Horta, embora sublinhando os progressos no ensino da língua portuguesa, dizendo que o “o desenvolvimento nota-se” (Público, 16-11-2007), insistiu que o uso da língua portuguesa é um esforço de longo prazo, que só deverá estar completo dentro de duas gerações.
Cavaco Silva sentiu a necessidade que temos de apoiar ainda mais o enraizamento do português, bem como a impossibilidade de o fazermos sozinhos e apelou ao empenhamento nesse processo de outros países lusófonos, designadamente, Cabo Verde. Cavaco Silva acrescentou que: «Todos os países da CPLP devem estar envolvidos na consolidação da língua portuguesa ao lado do tétum em Timor-Leste».
Recordemos que até agora os custos têm sido suportados por Portugal e também pelo Brasil. Pela primeira vez o governo timorense inscreveu no orçamento para o próximo ano verbas para o efeito.
Esta visita foi também uma oportunidade para recordarmos os cerca de duzentos professores portugueses, bem com a cerca de duas dezenas de profissionais da área da justiça, que «tem desempenhado as suas funções com dedicação, sacrifício pessoal e grande profissionalismo», como recordou Cavaco Silva.
As dificuldades que Timor-Leste enfrenta no presente, não nos deve fazer esquecer que é um país com grandes possibilidades de desenvolvimento, pelo facto da natureza o ter dotado de petróleo e gás natural, e que tem dificuldade em canalizar os recursos obtidos dos acordos celebrados para a sua exploração para o desenvolvimento humano dos timorenses.
Esta é uma realidade que não pode ser ignorada no futuro do relacionamento e da cooperação entre Portugal e Timor-Leste, que temos de aprofundar e alargar através de iniciativas públicas e privadas, com seriedade e eficácia.

2 comentários:

José Manuel Dias disse...

Caro José Leitão

Pensei que hoje teria a oportunidade de te cumprimentar. Abraço

José Leitão disse...

Caro Amigo,
Não tendo tido oportunidade de te cumprimentar, vou seguindo sempre com atenção o que publicas no teu interessante blogue Cogir.
Um abraço
José Leitão