Estamos num tempo para mudar a Igreja Católica em Portugal. Os dados estatísticos não enganam: há menos sacerdotes, menos seminaristas, menos baptizados, menos católicos em Portugal. Existe, contudo, um número muito significativo do que se designa por católicos não-praticantes o que aconselha uma leitura mais aprofundada destes dados.
A recente visita ad limina dos Bispos portugueses ao Papa Bento XVI, para uma análise da situação da Igreja em Portugal, trouxe esta realidade para a primeira página dos jornais. Tendo esta crise sido assumida iniciou-se um tempo para mudar no qual todos os que mantemos algum tipo de laço com a Igreja Católica nos sentimos chamados a participar.
Há um défice de participação dos leigos na Igreja e na sociedade. Não é por acaso que D. José Policarpo, assumindo a crise existente defende uma instituição “menos clerical”. O que está em causa não é saber se a Igreja Católica tem mais ou menos poder é saber de que forma deverá anunciar com mais eficácia Jesus Cristo e a sua mensagem como uma verdadeira Boa Nova de salvação para as angústias e esperanças de todos os que vivem em Portugal.
Se não há dúvida que este é um tempo para mudar, é importante saber qual o horizonte da mudança e essa terá de ser na linha de uma maior vivência das opções do Concílio Vaticano II. Não se trata de ficarmos a olhar para trás, mas de encontrar novas respostas a partir das orientações do Concílio Vaticano II. Algumas tomadas de posição recentes, como a D. José Policarpo, de 14 de Setembro passado, a propósito da liturgia, vão nesta linha, sublinhando a forma como a Reforma Litúrgica «modelou a nossa forma de ser cristão e imprimiu um rosto às comunidades cristãs que aprenderam a viver a liturgia não apenas como manifestação de fé pessoal, mas como expressão viva de um Povo que se reconhece como comunidade enquanto celebra a Sagrada Liturgia».
O caminho tem de ser partir dos problemas concretos das mulheres e dos homens, procurando ajudá-los a descobrir as respostas para as suas inquietações e esperanças mais profundas, à luz do memorial da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. É esta a missão e a razão de ser da Igreja.
O facto de se estimarem em 9,35 milhões o número de católicos para uma população de 10,4 milhões de pessoas, mas menos de 2 milhões de católicos serem praticantes, deve levar a muitas reflexões, designadamente, sobre a eficácia dos ritos de iniciação como foi sugerido pelo Papa, cuja intervenção na íntegra pode ler aqui, mas é também significativo do eco do Evangelho na sociedade portuguesa. É um dado que não pode ser ignorado por ninguém e que vai ter um peso significativo na realidade, social e cultural portuguesa, tanto maior quanto a Igreja souber acolher esses cristãos, que se continuam a sentir ligados por uma fé comum, que têm muito a aprender com os católicos praticantes, que também podem aprender muito com eles.
Aliás, as expressões praticantes e não praticantes recobrem situações humanas muito diversificadas, mas as realidades espirituais são apenas de forma superficial traduzidas por estas categorias. Há que começar por não apagar a chama que fumega, para procurar depois vivificá-la.
A Igreja tem também de continuar a procurar uma inserção adequada na sociedade, democrática, laica e plural, num processo de profunda mutação cultural, como é a portuguesa.
A forma como forem geridas as negociações sobre a regulamentação da Concordata e a forma como a Igreja participar nas comemorações do centenário da implantação da República terá relevância no relacionamento da Igreja com a sociedade e o Estado.
No que se refere à regulamentação da Concordata é exigível rigor e boa fé de todos. O recente envolvimento pessoal do Primeiro-Ministro, José Sócrates é positivo por significar que da parte do Estado, a negociação será conduzida de forma responsável. O mesmo terá de acontecer da parte da Igreja. Nesta matéria, como na das comemorações do centenário da República há que ser objectivo e rigoroso, não permitindo aproveitamentos ou manipulações políticas por parte de quem quer que seja.
Há dois erros que não devem ser cometidos: fazer do afrontamento da Igreja com o Estado e as suas opções uma pretensa forma de afirmação da Igreja, como tem acontecido em Espanha, e que tem contribuído para afastar a Igreja da sociedade espanhola; sobrevalorizar ou deixar-se condicionar pela acção de pequenos grupos militantemente anti-religiosos.
Torna-se fundamental, para além do diálogo inter-religioso que deve prosseguir de forma empenhada, promover um diálogo plural com os não-crentes, à semelhança do que foi desenvolvido entre D. José Policarpo e Eduardo Prado Coelho. A grande maioria dos não-crentes, como a grande maioria dos crentes procura a verdade e o sentido para a vida, respeita o outro, e abomina cruzadas, sejam elas em nome da religião ou da anti-religião.
Estamos num limiar de um tempo novo, que comporta riscos e oportunidades novas, é tempo de mudar na Igreja Católica em Portugal.
domingo, novembro 11, 2007
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1 comentário:
Meu caro, o que deveria ser mudado é a visão daqueles que estão acantonados na Maçonaria, e em grupos diletantes como aqueles que escrevem horrores no blog "Diário Ateísta" e em jornais de referência, como o "DN" - caso do Carlos Esperança com a sua eterna e estúpida cruzada contra a Fé e contra aqueles que a têm...(infelizmente são todos ou quase todos do PS...).
Porquê a "militância" antireligiosa? Ainda resquícios da 1ª República?... Que triste País este!...
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