Os recentes acontecimentos na Guiné-Bissau desde o assassinato por desconhecidos de Lamine Sanhá, ex-chefe do Estado Maior da Armada e que foi um dos mais próximos aliados do brigadeiro Ansumane Mané, líder da ex-Junta Militar, que derrubou Nino Vieira, estão a ser seguidos com angústia e preocupação em Portugal, onde vivem muitos milhares de guineenses, muitos dos quais são hoje também cidadãos portugueses.
Os guineenses têm uma grande presença em Portugal e puderam sentir durante a guerra civil, iniciada em 7 de Junho de 1998 e que só terminou em Maio de 1999, que não estavam sós nos momentos difíceis e que podiam contar com os portugueses. Vários milhares de cidadãos com dupla nacionalidade portuguesa e guineense, ou apenas com nacionalidade guineense puderam encontrar acolhimento em Portugal e beneficiar do estatuto de protecção temporária, que foi prorrogado para lá de todos os limites legais.
Portugal foi para eles um porto de abrigo, como tem sido para muitos governantes da Guiné-Bissau de Luís Cabral a Nino Vieira. É por isso natural que sigamos com preocupação as notícias que nos vêm de Bissau.
No clima de medo, insegurança, informações contraditórias e boatos, que circulam em Bissau, é difícil ter há distância uma informação completa sobre o que se passa. Sente-se no contacto com muita gente o receio de falar claro.
Cabe aos guineenses e às suas instituições encontrar os caminhos para a paz, a liberdade e o desenvolvimento.
A defesa dos direitos humanos e as obrigações humanitárias transcendem hoje, contudo, as fronteiras de qualquer Estado.
Vários acontecimentos justificam preocupação: o assassinato de Lamine Sanhá; a situação de tensão traduzida em várias agressões e manifestações de jovens; a morte de um jovem na sequência dessas manifestações; acusações recíprocas de envolvimento no referido assassinato; a tentativa de detenção do líder do PAIGC, o partido mais votado nas últimas eleições, Carlos Gomes Júnior, que se refugiou nas instalações da ONU em Bissau.
Temos seguido com atenção e solidariedade a intervenção persistente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), associação membro da FIDH (Federação Internacional dos Direitos Humanos) e as declarações do seu presidente, Luís Vaz Martins, e esperamos que possam continuar a dar um contributo para a paz e a defesa dos direitos humanos. É necessário mais do que nunca manter a cabeça fria e apelar à razão.
Todos nós desejamos que a Guiné-Bissau seja um Estado soberano, uma democracia estável e bem governada, em que a paz, a liberdade e o desenvolvimento sejam realidade.
Cabe aos guineenses e às suas instituições encontrar os melhores caminhos para que assim seja, mas os países amigos e as instituições internacionais devem estar atentos e solidários. Estou certo que a diplomacia está atenta e sensível a esta situação e que, quer a CPLP, quer as Nações Unidas, não regatearão a sua colaboração para que se construa um clima de paz e liberdade sustentável, sem o qual não se alcançará o desenvolvimento que os guineense aspiram.
A Guiné-Bissau tem todas as condições para ser um país desenvolvido, dispõe de riquezas naturais, incluindo petróleo, mas tem sobretudo um povo, que na riqueza da sua diversidade cultural, é composto por cidadãos laboriosos, muitos dos quais com elevadas qualificações académicas e profissionais.
Para concluir gostaria de fazer meu, o voto de um poeta da Guiné-Bissau, Vasco Cabral, já falecido, que lutou pela liberdade para Portugal e para a Guiné-Bissau. Nos primeiros versos de um poema publicado na “Antologia Poética da Guiné-Bissau”, ed. Editorial Inquérito, 1990, intitulado “Desabafo” diz:
«Oh! Que bom seria transformar
os falcões em pombas
e fazer as pombas sorrirem primavera?
…»
domingo, janeiro 14, 2007
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1 comentário:
As atitudes perante o que nos chega sobre o que se tem passado na Guiné oscilam entre a indiferença e o conformismo, ambas fundadas no pessimismo sobre uma evolução positiva de situação no país. Mais uma vez o meu amigo Zé Leitão pauta pela diferença que faz toda a diferença. Ergue a sua voz, interpela as consciências, chama a atenção, desafia e sobretudo exorta ao respeito daquilo que é o significado último da vida humana que é a DIGNIDADE da pessoa! A Guiné precisa urgentemente da paz, condição sine qua none para a sua sobrevivência enquanto Estado
Enquanto filha da Guiné exprimo-lhe o meu muito obrigado.
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