A recente visita do primeiro-ministro português José Sócrates ao Brasil reveste-se de grande oportunidade e significado político. Sendo uma visita com uma agenda centrada no estreitamente dos laços económicos entre os dois países e subsidiariamente a dar mais alguns (tímidos) passos na cooperação cultural, revestiu-se de um significado político que transcendeu o inicialmente previsto. Ainda bem que assim foi
As relações entre Portugal e o Brasil são de importância capital para Portugal, mas podem ser também muito mais vantajosas para o Brasil do que é normalmente percebido pela sua diplomacia.
José Sócrates disse-o de forma rigorosa aos empresários brasileiro “Portugal pode significar para o Brasil o mesmo que a Irlanda significou para os Estados Unidos”. Esta frase subentende o não-dito de que o Brasil pode significar para Portugal o que os Estados Unidos significaram para o desenvolvimento da Irlanda.
Além disso, a cooperação empenhada dos dois países em projectos, como a CPLP, é essencial para o seu sucesso.
Os portugueses re-descobriram o Brasil depois do 25 de Abril, primeiro através das telenovelas. Quem não recorda a importância que teve a telenovela “Gabriela, Cravo e Canela”, a partir do livro de Jorge Amado, com Sónia Braga O novo achamento, permitam-me que use esta antiga e bela palavra portuguesa, prosseguiu em todas as áreas e sectores do futebol, à informática, à cultura, aos dicionários de português, à imigração e ao turismo. Com os governos de António Guterres passou a ser uma opção política estimular o investimento português no Brasil, que hoje é de grande significado em sectores estratégicos. É a hora de estimular o novo achamento de Portugal pelo povo brasileiro, que apesar de tudo o vai descobrindo, privilegiando Portugal como destino de imigração, mas também pelas novas elites emergentes económicas, culturais e políticas.
Temos que partir de uma análise objectiva de situação para a alterarmos e não ignorar as resistências da tradicional doutrina diplomática brasileira.
Não podemos ignorar o que afirmou o Embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa; diplomata de grande cultura e inteligência, que na entrevista concedeu a Maria João Avillez (Única, Expresso, nº1762,5 de Agosto2006) refere ser um leitor de blogues com regularidade, cuja leitura completa é imprescindível. Registo a afirmação: «A nossa relação política [Portugal e Brasil] será sempre desigual e assimétrica. Porquê? Porque para nós, a lusofonia é um elemento axial da nossa afirmação externa». Outra constatação a reter: «está a desaparecer no Brasil a geração, política e cultural, que tinha uma relação de afectividade profunda com Portugal».
Isto significa que temos de promover um novo achamento recíproco, que para ser possível exige determinação e persistência política. Pessoalmente nunca esquecerei a homenagem que organizei com Dulce Pereira, então responsável máxima da CPLP, em Durban (África do Sul) durante “A Conferência Mundial Contra o Racismo”, a Fernando Pessoa, em cuja estátua depusemos flores, depois de uma marcha, na qual a maioria dos participantes para além de alguns emigrantes portugueses (poucos) eram sobretudo políticos brasileiros, mulheres e homens, próximos do Movimento Negro Brasileiro, o qual é uma realidade que a diplomacia portuguesa não pode ignorar.
Outra constatação pessoal, metade das visitas a este blogue vêm do Brasil. Penso que algo de semelhante acontecerá com outros.
O facto do maior número de imigrantes em Portugal ser constituído por brasileiros é uma oportunidade estratégica para esse novo achamento de Portugal pelo Brasil. É preciso, como para todos os imigrantes sem excepção criar condições para uma integração de qualidade.
É positivo que José Sócrates tenha anunciado a legalização de seis mil e quinhentos brasileiros, durante a visita ao Brasil. Alguma imprensa portuguesa considerou este facto como um apoio à reeleição de Lula da Silva, estimulando o voto dos imigrantes na sua re-candidatura. Se tiver esse efeito, como socialista, não deixarei de me regozijar, mas foi sobretudo um acto de justiça que abrangerá também outros milhares de imigrantes de outras nacionalidades que tinham ficado a meio dos burocráticos processos de legalização promovidos pelo governo de Durão Barroso. Foi também um acto de eminente interesse nacional, já que só imigrantes legalizados, podem ter uma boa integração e contribuir para um bom relacionamento de Portugal e os seus países de origem.
PS. 1- Uma breve nota para saudar o facto da nova proposta de lei do Governo sobre a entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros ter tido em conta sugestões e críticas, designadamente, de associações de imigrantes, durante o período de discussão pública. Esperemos que a Assembleia da República não se deixe impressionar pelo CDS e pelo BE, que «acusam o Governo de fazer um convite à imigração ilegal», segundo o Público de 12.08.2006. Diremos detalhadamente, em Setembro, porque não é verdade.
Nesta semana Francis Obikwelo brindou-nos com mais duas medalhas de ouro, e João Vieira com uma medalha de bronze.
Saudamos os dois atletas portugueses pelas suas vitórias. Só com o esforço de todos os portugueses, quer os que aqui nasceram, quer os que se nos juntaram por decisão livre e consciente, é que podemos estar à altura dos desafios em todos os campos. Portugal, quando se não fecha sobre si mesmo, descobre que terá de ser cada vez mais uma Nação cosmopolita.
PS. 2- A prova de que os blogues podem, contribuir para desenvolver o melhor conhecimento entre os países de língua oficial portuguesa, actuando espontaneamente em rede, foi ilustrado esta semana pela sinergia que se estabeleceu entre o que escrevemos sobre S. Tomé e Príncipe e textos e imagens que dois excelentes blogues decidiram também editar sobre S.Tomé e Príncipe no passado dia 7 de Agosto de 2006. Referimo-nos aos blogues OS DOIS PILARES DA CRIAÇÃO e RELIGARE.
Seria muito interessante que pudéssemos criar uma rede de cumplicidade com blogues de S.Tomé e Príncipe, do Brasil, de Portugal e dos outros Estados-Membros da CPLP. Existe uma enorme riqueza cultural que vale a pena divulgar e partilhar, bem como boas práticas em matéria de inclusão e cidadania em diferentes países que podem inspirar projectos e iniciativas noutros países.
Vamos pensar no que podemos fazer para o concretizar, durante a curta pausa estival que vamos fazer. Até breve.
domingo, agosto 13, 2006
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