domingo, outubro 09, 2005

OUTRO LADO DA CAMPANHA AUTÁRQUICA

A recente campanha para as eleições autárquicas, em que tive a honra de me bater pela candidatura de Manuel Maria Carrilho para a Câmara de Lisboa, permitiu-me contactar pessoalmente com muitos milhares de cidadãos, participar em debates, mas também conhecer ainda melhor a cidade de Lisboa. Olhar de frente a exclusão, o abandono, o sofrimento intolerável de tanta gente, jovens, mulheres, idosos, nacionais e imigrantes, a esperança que o dia de amanhã, que nunca mais chega, seja diferente.
No decorrer da campanha pude estar em contacto com diversas formas de presença da Igreja Católica na cidade de Lisboa, levar-lhes as propostas do PS para Mudar Lisboa, mas também ver e sentir o testemunho cristão que a sua acção encerra.
Destacaria três momentos: a visita a um trabalho com crianças denominado Educação Popular no Bairro da Liberdade, em Campolide; a Residência de Velhinhos das Irmãzinhas dos Pobres, na Rua de Campolide; o debate com as diferentes candidaturas à Junta de Freguesia de Benfica realizado pela paróquia do Bairro da Boavista, em Benfica.
Visitei um outro extenso complexo social da responsabilidade da Igreja, mas não senti senão respeito pelo empreendimento, não senti o espírito da instituição. Podia ser uma empresa, uma instituição particular de solidariedade social sem inspiração cristã.
Foi a Educação Popular, na Rua da Capela, no Bairro da Liberdade que mais me tocou pelo seu profissionalismo, a preocupação com as crianças desde bebés, a preocupação em educar para o amor, o respeito, mas também para a beleza através de uma cuidada educação artística. A simpatia, a capacidade de nos saber ouvir, mas também a simplicidade com que nos foi dada informação sobre a sua ordem, a Congregação das Irmãs do Amor de Deus tocaram-me profundamente e por isso mesmo quero deixar um obrigado à Irmã Nazaré. Foi, estou certo que não apenas para mim, um testemunho do Amor de Deus.
Na visita à Residência de Velhinhos das Irmãzinhas dos Pobres o clima foi mais reservado, embora mais distendido à medida que se trocavam impressões sobre a forma como entendem o acolhimento e o cuidado com as pessoas idosas pobres. Vê-se que há uma preocupação genuína com as pessoas idosas, não apenas uma organização e uma limpeza exemplar, mas uma nota que sensibilizou alguns de nós, o facto de incentivarem a participação solidária dos idosos em algumas das tarefas que asseguram a qualidade de vida na Residência. A reserva a que aludi das Irmãs tem a ver com uma preocupação de não criarem dependências de ninguém, benfeitores privados ou instituições oficiais, mas a visita terminou de uma forma mais cordial tendo alguns de nós procurado saber mais sobre o carisma e a acção desta ordem e recebido a informação que nos deram.
Diferente foi o debate organizado numa das últimas noites de campanha eleitoral no Bairro da Boavista pela paróquia local e para o qual foram convidados todos os candidatos à Junta de Freguesia de Benfica. É uma paróquia recente, com poucos meios, mas activa. Quando chegámos um camarada, que julgo que não é cristão, disse-me logo que tinham organizado já uma linda procissão e um convívio cultural.
O debate foi aberto pelo Pároco que explicou o valor positivo com que a Igreja encara a participação política, lendo um longo e interessante texto do Papa João Paulo II. Depois convidou os presentes a acompanhá-lo na oração de São Francisco de Assis, tendo sido seguido pela maioria dos presentes, militantes dos diferentes partidos. Usaram da palavra os candidatos do PS, PSD, CDS e um representante da CDU. Apenas o Bloco de Esquerda não se fez representar O debate foi, por vezes, tenso, reproduzindo a conflitualidade existente nalgumas áreas do bairro, estimulado pelo estilo adoptado pelo candidato do PSD. O pároco foi moderando o debate, as pessoas ficaram com a sensação de que poderia ter sido mais interessante, mas louvaram a iniciativa da paróquia.
Ao referir este lado da campanha gostava de acrescentar que como católico senti que as Irmãs das instituições que visitámos e o Pároco da Boavista transmitiram uma imagem da sua acção que foi sentida como positiva por mim e estou certo que pela maioria dos camaradas com quem estive nestas acções da campanha.
Estou certo que, do ponto de vista eleitoral, são visitas e acções pouco rentáveis, mas têm um papel muito importante aproximar a experiência humana e social de pessoas que no dia-a-dia raramente se cruzam.

2 comentários:

Teresa Frazão disse...

Gosto muito de ler o teu blog.
Escrevo na manhã de 10.
E estou num país onde venceu a desonestidade, com tempo de antena em directo.
E quero, queremos dizer sempre a esperança.
Como também tu. Obrigada

Teresa Frazão disse...

Gosto muito de ler o teu blog.
Escrevo na manhã de 10.
E estou num país onde venceu a desonestidade, com tempo de antena em directo.
E quero, queremos dizer sempre a esperança.
Como também tu. Obrigada