O encontro promovido em Assis no passado dia 27 de Outubro por iniciativa de Bento XVI sob o lema Peregrinos da Verdade - Peregrinos da Paz foi um acontecimento portador de futuro.
O encontro foi apresentado como jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e pela justiça no mundo e reuniu 300 líderes religiosos, dos quais 200 não-cristãos e, pela primeira vez, e por iniciativa pessoal de Bento XVI, intelectuais não-crentes.
Cristãos de diversas confissões juntaram-se nesta iniciativa com muçulmanos provenientes de dezanove países, judeus, hindus, sikhs, budistas, taoistas, confucionistas, um zoroastriano, um baha’i e animistas africanos. Os ismaelitas estiveram representados pelo português Nazim Ahmad, facto que não é alheio à excelente colaboração existente em Portugal entre a Comunidade Ismaili e a Igreja Católica em Portugal.
Os intelectuais não-crentes eram, para além da filósofa, linguista e psicanalista francesa, de origem búlgara, Julia Kristeva, que usou da palavra no encontro, o filósofo italiano Remo Bodei, o filósofo mexicano Guilherme Hurtado, o economista austríaco Walter Baier, membro do Partido Comunista.
O encontro recordou e retomou a iniciativa que teve lugar há 25 anos, no Ano Internacional da Paz, por iniciativa de João Paulo II, associando 130 representantes de diferentes confissões religiosas para rezar pela paz, associando esta iniciativa à memória de Francisco de Assis.
Como afirmou Guilherme Hurtado aqui: “Devemos promover o diálogo entre crentes e não-crentes neste momento da história, em que estamos submersos em uma crise muito grande, para encontrar soluções comuns para os problemas comuns”.
Aliás, na passada segunda-feira, o Conselho Pontifício Justiça e Paz do Vaticano voltou a defender a criação de uma autoridade financeira mundial e criticou asperamente o “liberalismo económico sem regras e sem controlo”.
Os dois factos novos que marcam este encontro são, em meu entender, a participação de não-cristãos e a participação e a intervenção de uma mulher não-crente, Júlia Kristeva.
Bento XVI tem nos últimos tempos sublinhado a importância do contributo dos descrentes, com as suas interrogações e questões para a purificação da fé dos crentes.
A participação de Júlia Kristeva por iniciativa de Bento XVI num Encontro tem um enorme significado, que questiona o estatuto da mulher nas diferentes confissões religiosas, como muito bem sublinhou Faranaz Keshavjee num excelente post no seu blogue Crónicas de Uma Muçulmana aqui.
Júlia Kristeva, cujo discurso pode encontrar na íntegra aqui, começou por dizer:
“As palavras de João Paulo II, «Não tenhais medo», não se dirigem apenas aos crentes para os encorajar a resistir ao totalitarismo. O apelo do Papa - apóstolo dos direitos dos homens incita-nos a não recear a cultura europeia, mas pelo contrário a ousar o humanismo construindo cumplicidades entre o humanismo cristão e aquele que proveniente da Renascença e das Luzes, ambiciona elucidar as vias em risco da liberdade (…). Obrigado, hoje, a Bento XVI pelo facto de ter convidado pela primeira vez humanistas para o meio de vós para esta iniciativa (…)”. Tendo afirmado, nomeadamente, que o humanismo é um processo de refundação permanente e que o humanismo é um feminismo, que o humanismo nos incita a cuidar, o homem não faz a história, mas a história somos nós, concluiu:
“(…) A era da suspeita não é suficiente. Face às crises e às ameaças agravadas, chegou a era da aposta. Ousemos apostar na renovação contínua da capacidade dos homens e das mulheres para crer e viver em conjunto. Para que nestes múltiplos universos cercados de vazio, a humanidade possa prosseguir por muito tempo o seu destino criador”.
Na sessão pública intervieram antes do Papa onze líderes religiosos e Julia Kristeva.
Bento XVI na sua excelente intervenção, que pode ser lida na íntegra aqui , analisou as relações entre religião e violência ao longo dos tempos, condenou o terrorismo em nome da religião, e afirmou:
“(...) É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família (…)”
Assis foi um marco importante para todos os que consideram, que todos os seres humanos, independentemente das suas crenças, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade, empenharem-se na procura da verdade e na construção da paz.
O encontro foi apresentado como jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e pela justiça no mundo e reuniu 300 líderes religiosos, dos quais 200 não-cristãos e, pela primeira vez, e por iniciativa pessoal de Bento XVI, intelectuais não-crentes.
Cristãos de diversas confissões juntaram-se nesta iniciativa com muçulmanos provenientes de dezanove países, judeus, hindus, sikhs, budistas, taoistas, confucionistas, um zoroastriano, um baha’i e animistas africanos. Os ismaelitas estiveram representados pelo português Nazim Ahmad, facto que não é alheio à excelente colaboração existente em Portugal entre a Comunidade Ismaili e a Igreja Católica em Portugal.
Os intelectuais não-crentes eram, para além da filósofa, linguista e psicanalista francesa, de origem búlgara, Julia Kristeva, que usou da palavra no encontro, o filósofo italiano Remo Bodei, o filósofo mexicano Guilherme Hurtado, o economista austríaco Walter Baier, membro do Partido Comunista.
O encontro recordou e retomou a iniciativa que teve lugar há 25 anos, no Ano Internacional da Paz, por iniciativa de João Paulo II, associando 130 representantes de diferentes confissões religiosas para rezar pela paz, associando esta iniciativa à memória de Francisco de Assis.
Como afirmou Guilherme Hurtado aqui: “Devemos promover o diálogo entre crentes e não-crentes neste momento da história, em que estamos submersos em uma crise muito grande, para encontrar soluções comuns para os problemas comuns”.
Aliás, na passada segunda-feira, o Conselho Pontifício Justiça e Paz do Vaticano voltou a defender a criação de uma autoridade financeira mundial e criticou asperamente o “liberalismo económico sem regras e sem controlo”.
Os dois factos novos que marcam este encontro são, em meu entender, a participação de não-cristãos e a participação e a intervenção de uma mulher não-crente, Júlia Kristeva.
Bento XVI tem nos últimos tempos sublinhado a importância do contributo dos descrentes, com as suas interrogações e questões para a purificação da fé dos crentes.
A participação de Júlia Kristeva por iniciativa de Bento XVI num Encontro tem um enorme significado, que questiona o estatuto da mulher nas diferentes confissões religiosas, como muito bem sublinhou Faranaz Keshavjee num excelente post no seu blogue Crónicas de Uma Muçulmana aqui.
Júlia Kristeva, cujo discurso pode encontrar na íntegra aqui, começou por dizer:
“As palavras de João Paulo II, «Não tenhais medo», não se dirigem apenas aos crentes para os encorajar a resistir ao totalitarismo. O apelo do Papa - apóstolo dos direitos dos homens incita-nos a não recear a cultura europeia, mas pelo contrário a ousar o humanismo construindo cumplicidades entre o humanismo cristão e aquele que proveniente da Renascença e das Luzes, ambiciona elucidar as vias em risco da liberdade (…). Obrigado, hoje, a Bento XVI pelo facto de ter convidado pela primeira vez humanistas para o meio de vós para esta iniciativa (…)”. Tendo afirmado, nomeadamente, que o humanismo é um processo de refundação permanente e que o humanismo é um feminismo, que o humanismo nos incita a cuidar, o homem não faz a história, mas a história somos nós, concluiu:
“(…) A era da suspeita não é suficiente. Face às crises e às ameaças agravadas, chegou a era da aposta. Ousemos apostar na renovação contínua da capacidade dos homens e das mulheres para crer e viver em conjunto. Para que nestes múltiplos universos cercados de vazio, a humanidade possa prosseguir por muito tempo o seu destino criador”.
Na sessão pública intervieram antes do Papa onze líderes religiosos e Julia Kristeva.
Bento XVI na sua excelente intervenção, que pode ser lida na íntegra aqui , analisou as relações entre religião e violência ao longo dos tempos, condenou o terrorismo em nome da religião, e afirmou:
“(...) É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família (…)”
Assis foi um marco importante para todos os que consideram, que todos os seres humanos, independentemente das suas crenças, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade, empenharem-se na procura da verdade e na construção da paz.
1 comentário:
Sobre este assunto, deixo aqui uma interessante reflexão do jornalista Joaquim Franco:
http://youtu.be/lijRK9_LTQ4
Enviar um comentário