Passaram trinta e cinco na passada terça-feira desde que em 12 de Abril de 1976 os habitantes de Ferrel se rebelaram contra a possibilidade de aí se construir a primeira central nuclear portuguesa, como recordou a Gazetas das Caldas aqui. A existência de uma fractura sísmica na zona de Ferrel juntou-se aos restantes argumentos contra os perigos da energia nuclear. Nessa altura os defensores do nuclear sublinharam os progressos tecnológicos verificados, que em sua opinião tornavam segura a opção pelo nuclear. Passados anos, o trágico acidente nuclear, ocorrido em 26 de Abril de 1986, em Chernobyl, veio demonstrar que a segurança afirmada era manifestamente exagerada. Posteriormente os defensores do nuclear passaram, de novo, ao ataque. O seu grande argumento consiste no enorme desenvolvimento tecnológico que se verificou desde Chernobyl que teria tornado ainda mais seguras as centrais nucleares. A sucessão de trágicos acontecimentos que se têm verificado no Japão, veio demonstrar, com clareza, as ameaças que a opção nuclear implica para a vida, segurança e saúde dos cidadãos. Como sublinhava o Expresso neste fim-de-semana: “…mais de um mês depois do terramoto e do tsunami (…) o nível de alerta da catástrofe de Fukushima Daiichi passou de cinco para sete, devido à quantidade de produtos radioactivos já libertados na atmosfera”, que corresponde ao máximo da escala de segurança, “o que significa simplesmente que a situação está fora de controle, à semelhança do que aconteceu em Chernobyl e que não se podem ainda prever as consequências da actual situação. Ninguém ignora que são invulgares as situações de desastre natural que contribuíram para esta situação. Também não podemos ignorar a evolução tecnológica, a cooperação científica e tecnológica que se tem verificado para apoiar os responsáveis japoneses, nem o elevado nível de organização social que se verifica no Japão. Apesar disso e do tempo já decorrido a situação permanece com a gravidade que se conhece. Não foi, por acaso, que Angela Merkel mandou encerrar um conjunto de centrais nucleares e que tantos milhares de cidadãos promovem no Facebook uma campanha contra a utilização do nuclear a nível da Europa exigindo um referendo sobre esta matéria. Portugal está numa posição privilegiada, porque os governos socialistas de José Sócrates não só têm recusado a opção pelo nuclear, como têm estimulado o desenvolvimento das energias renováveis (eólica, fotovoltaica) e da energia hídrica. Portugal é hoje um exemplo a seguir, um país em que o consume de electricidade renovável proveniente dos pequenos produtores descentralizados é maior do que o das grandes centrais térmicas a carvão e a gás natural. Neste momento de depressão, provocada pela crise da dívida soberana, é fundamental ter consciência que esta é uma marca de desenvolvimento sustentável baseado em fontes alternativas de energia. É verdade que a produção de energia renovável tem sido subsidiada por todos nós através das facturas de electricidade, mas os subsídios estão a diminuir e deixarão de existir a partir de 1029. Não se pode ignorar, além disso, que a aposta nas renováveis tem diminuído a nossa dependência energética e os gastos na compra de energia ao exterior, tendo permitido gastar menos 800 milhões de euros na importação de energia em 2010. Também não podemos ignorar as conclusões de uma simulação de um acidente nuclear como o de Fukushima, realizada na Escola Prática de Engenharia do Exército, em Tancos, um acidente em Portugal. Segundo o Público, de 17/04/2011l, concluiu-se que a radioactividade chegaria a 12 mil Km2, afectaria 1,6 milhões de pessoas em 48 horas, dos quais 1671 teriam de receber cuidados de saúde. Os riscos e os custos da energia nuclear têm sido sistematicamente subestimados. É lamentável que só acidentes como o de Fukushima obriguem a opinião pública a tê-los em conta. Nesta matéria é sintomática a forma como se esquecem no dia-a-dia os riscos e os custos do armazenamento dos resíduos nucleares. É significativo, que no mesmo jornal, Carlos Pimenta, ex-Secretário de Estado do Ambiente, recorde que uma fuga grave de radioactividade na central nuclear espanhola de Almaraz, o tenho levado nessa altura a quase ordenar o corte do abastecimento de água a Lisboa. Por tudo isto devemos recordar a revolta dos habitantes de Ferrel e saudá-la, bem como, o facto dos governos socialistas de José Sócrates, como já referimos, terem sempre apoiado o desenvolvimento das energias renováveis e recusado a opção pelo nuclear.
domingo, abril 17, 2011
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