domingo, setembro 07, 2008

AS ELEIÇÕES EM ANGOLA


As eleições para a Assembleia Nacional de Angola, nas quais 8,3 milhões de eleitores elegem 220 deputados, representam um grande passo de aproximação à democracia, que merece ser seguido com atenção e serenidade.
Representam o início de um processo imparável de democratização, porque o povo angolano demonstrou que quer construir o seu futuro com a sua participação activa.
Os angolanos levantaram-se em massa de madrugada na passada sexta-feira, cinco de Setembro, para irem votar, e esperaram a sua vez, por vezes longo tempo, nas mesas eleitorais que tardaram a abrir nalgumas zonas de Luanda.
Tendo-se verificado que 320 assembleias de voto não abriram a cinco de Setembro, devido a constrangimentos resultantes da operação logística de entrega dos materiais de apoio ao processo eleitoral, a Comissão Nacional de Eleições de Angola, conforme podem ver aqui decidiu que as eleições prosseguiriam no sábado, seis de Setembro. Foram igualmente abrangidas pela medida de continuidade da votação, as mesas que por dificuldades logísticas interromperam os seus trabalhos. O objectivo foi permitir a todos os cidadãos recenseados exercer o seu direito de voto
Foi uma decisão correcta, que pretendeu corrigir dificuldades logísticas lamentáveis, mas que não põem em causa o processo eleitoral, que decorreu com liberdade e lisura, como referiu Vital Moreira aqui.
A Comissão Nacional de Eleições de Angola veio no fim do dia seis acrescentar que «das mais de trezentas Assembleias inicialmente identificadas, apenas 48 revelaram-se problemáticas, o que levou a CNE a reagrupá-las para facilitar o processo de votação em Luanda que encerrou as 19h00 de hoje (6 de Setembro)».
A participação esmagadora dos eleitores e a sua vontade de escolher o futuro do seu país, são um factor que nenhum dirigente político angolano pode ignorar para o futuro. Depois de décadas de sofrimento, de luta pela independência, de guerra civil, de lutas fratricidas e sangrentas, inclusive no interior dos seus principais partidos, o povo angolano demonstra querer construir a democracia e demonstra uma imensa esperança no futuro.
Angola é hoje um Estado num processo de modernização, crescimento económico e democratização, apesar das grandes desigualdades sociais existentes, o que, aliás, se verifica também noutros países emergentes.
Só mais e melhor democracia, em Angola, como em qualquer país do Mundo, permitirão um desenvolvimento mais equitativo e uma drástica diminuição da corrupção.
O escritor angolano José Eduardo Agualusa, considerou, num interessante comentário, publicado no “Público”, e escrito antes do acto eleitoral: «Quaisquer que sejam os resultados das eleições…as mesmas assinalam em primeiro lugar o firme trunfo da paz. A campanha eleitoral decorreu sem sobressaltos. Ao contrário do que aconteceu em 1992 nenhum dirigente partidário subiu ao palanque de arma na mão. A imparcialidade das forças policiais foi elogiada pela generalidade dos observadores. O aspecto mais negativo terá sido a utilização pelo partido actualmente no poder das estruturas do Estado, sobretudo dos meios de informação para veicular a sua mensagem.…».
Só podemos fazer votos para que José Eduardo Agualusa tenha razão e que estas eleições representem não apenas o triunfo da paz, mas também a vitória do povo angolano, independentemente dos resultados eleitorais.
Ao ver o povo aglomerar-se nas ruas de Luanda para votar, lembrei-me da minha ida a Angola, no quadro de uma vista do então Primeiro-Ministro, António Guterres, das gentes de Luanda, Benguela, Lubango, do cheiro da terra em Luanda ao sair do avião, da chuva quente, e, sobretudo, da fraternidade com que fomos recebidos.
Não posso por isso deixar de acompanhar com emoção o desenrolar destas eleições, de felicitar o povo angolano pela sua determinação em construir a democracia e uma vida melhor para todos. Faço votos que se ultrapassem todas as dificuldades, com bom senso, para que os angolanos construam um grande país desenvolvido, justo e livre.
Imagem retirada do sítio do IPAD - Instituto Português de Apoio ao Desenvovimento daqui.


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