É necessário pensar Portugal, o seu passado e a sua identidade, para melhor perspectivar o presente e as opções em aberto para o futuro.
Guilherme d’Oliveira Martins em “Portugal. Identidade e Diferença”, editado pela Gradiva, dá-nos algumas fichas de leitura de momentos marcantes da história e da cultura portuguesas para despertar a nossa própria reflexão.
Fá-lo com muita clareza, mas simultaneamente por aproximações sucessivas, como quem desenha uma tapeçaria, como disse na apresentação do livro, o escritor e diplomata, Marcello Duarte Matias, que no posfácio sublinha e prolonga as linhas de força deste livro.
Como refere Guilherme d’Oliveira Martins na nota inicial: «A cultura só se enriquece se for aberta e cosmopolita, se for ponto de encontro e encruzilhada, a partir das várias culturas da língua portuguesa, mas também lugar de intercâmbio e exigências que envolva a cooperação além fronteiras e um diálogo activo com a educação e a ciência…».
Não é possível compreender Portugal hoje sem conhecer e dialogar com os pensadores e os criadores das outras culturas de língua portuguesa. Guilherme d’Oliveira Martins revela essa atenção. Escritores e pensadores brasileiros como Manuel Bandeira, Euclides da Cunha, Gilberto Freyre, João Guimarães Rosa, Sérgio Buarque de Holanda, mas também José Sarney, Alberto Costa e Silva, Antonio Cândido de Melo Sousa e Celso Lafer estão presentes nestas páginas. Estão também presentes escritores e ensaístas de outros países de língua portuguesa como, por exemplo: Baltazar Lopes, Germano de Almeida, Vera Duarte, Corsino Fortes, Dina Salústio, José Vicente Lopes, de Cabo Verde; Mário de Andrade e Luandino Vieira, de Angola; Nazaré Ceita e Alda do Espírito Santo, de São Tomé e Príncipe; Mia Couto, de Moçambique. Este é um dos méritos deste livro, em confronto com outras reflexões sobre Portugal muito provincianas, por ignorância da riqueza das várias culturas de língua portuguesa.
Guilherme d’Oliveira Martins faz uma abordagem de diferentes pistas de identificação de Portugal, valorizando elementos como a geografia, a terra e a língua, a memória e o património e tendo em conta os trabalhos de Orlando Ribeiro e José Mattoso, mas também outros contributos de Eduardo Lourenço, Manuel Villaverde Cabral, ou as teses sobre Portugal de Boaventura de Sousa Santos.
Não é possível resumir todo o conjunto de linhas de abordagem de Guilherme d’Oliveira Martins, que mais do que uma resposta nos dão elementos para reflectir. Há um lado pedagógico neste livro a que não é alheio o facto de muitas páginas terem sido escritas no contexto do ensino da História da Cultura Portuguesa.
Guilherme d’Oliveira Martins é conhecido pelo carácter enciclopédico da sua cultura, mais uma vez patente neste livro, que não reúne toda a vasta colaboração que tem vindo a publicar, designadamente, no “JL, Jornal de Letras, de Artes e de Ideias” que refere justamente como um «instrumento único para a difusão da cultura portuguesa e das culturas de língua portuguesa no mundo».
Seria por isso muito aliciante conhecer a opinião de Guilherme d’Oliveira Martins sobre o contributo para pensar a identidade portuguesa das obras de Manuel Alegre e de Nuno de Bragança.
Guilherme d’Oliveira Martins não ignora a necessidade de pensar a identidade portuguesa no contexto da integração europeia. Como refere «no campo europeísta surge muitas vezes a tentação de dar ênfase a uma “identidade europeia”, que sucederia às antigas identidades nacionais», mas adverte: «O Estado-nação já não é o alfa e o ómega da vida política e social contemporânea, mas tem um lugar insubstituível». E acrescenta: «As identidades nacionais coexistem e completam-se e só se enriquecem abrindo-se num contexto cosmopolita e universalista».
A permanente redefinição da identidade portuguesa é condição e consequência da nossa vitalidade cultural e cívica.
Marcello Duarte Matias refere no posfácio, que importa preservar a identidade «sabendo…integrar de forma harmoniosa as diferenças, nomeadamente, o pluralismo étnico, pois o intercâmbio é a primeira dimensão da vida internacional». É nesta linha que se situa este livro.
Espero que este livro se torne uma referência e que seja lido, estudado, discutido, e reescrito, pelos mais jovens escritores, ensaístas, pensadores e criadores culturais de todos os países de língua portuguesa.
domingo, maio 13, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário