António Alçada Baptista é uma referência marcante na minha evolução espiritual, cultural e política, apesar das diferenças de percurso. Posso dizer que a minha vida teria sido diferente se não fosse a sua intervenção. Estou certo que para outros homens e mulheres ele foi também um encontro marcante nas suas vidas, mesmo para muitos que o não conhecem pessoalmente.
Alçada Baptista fez recentemente oitenta anos e foi editado um livro de homenagem, intitulado, «ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA Tempo Afectuoso - Homenagem ao Escritor e Amigo de Todos Nós» que merece ser lido e debatido. É uma iniciativa da sua actual editora, a Presença, em colaboração com o Centro Nacional e Cultura, no qual participaram inúmeros amigos entre os quais, Maria Helena Mira Mateus e Guilherme d’Oliveira Martins, que assinam o prefácio. Entre os quarenta e cinco amigos e amigas que colaboram nesta iniciativa contam-se: Alberto Vaz da Silva, Edgar Morin, Eduardo Lourenço, Fernando Pinto Amaral, João Bénard da Costa, Guilherme d’Oliveira Martins, Jorge Sampaio, Mário Soares, Pedro Roseta, Sidónio de Freitas Branco Paes, Pedro Tamen e Urbano Tavares Rodrigues.
Quando era ainda um jovem estudante do Liceu Nacional de Viseu foi para mim decisiva a leitura da revista «O Tempo e o Modo», de que Alçada foi criador e director. Esta revista alargou-me os horizontes e permitiu alimentar a minha dupla procura, por um lado, de uma Igreja renovada pelo Concílio Vaticano II, por outro lado, de uma esquerda que fosse ela própria inovadora e capaz de acolher os “militantes de origem cristã”, para parafrasear o título de um número especial da revista «Esprit».
Apesar dos vinte e quatro anos de idade que nos separam experimentei muito do mundo mental de que nos fala Alçada Baptista no seu primeiro livro da «Peregrinação Interior». Foi muito importante ter tido a possibilidade de ler vários livros do “Círculo de Humanismo Cristão” na descoberta de uma teologia viva que nos possibilita uma outra aproximação ao mistério e a Deus, editados pela sua Livraria Moraes. Lamentei toda a minha vida não ter comprado quando o vi, o livro «Força Para Amar» de Martin Luther King, que viria a ser apreendido e que nunca consegui encontrar até hoje.
Foi também com o “Círculo de Poesia” e com o “Circulo de Prosa” da Moraes, que descobri, por exemplo, a poesia de Sophia, designadamente, o «Livro VI» e «O Nome das Coisas», ou a prosa de Nuno Bragança de «A Noite e o Riso» e de «Directa».
Não falando já de pensadores como Mounier, Lebret, Maritain, Giorgio La Pira, Simone Weil, Adérito Sedas Nunes, Manuel Antunes e muitos outros.
Alçada Baptista teve também influência na minha vida política, de forma indirecta. Quando era estudante de Coimbra e ele foi candidato pela Oposição Democrática por Castelo Branco escrevi-lhe, manifestando o meu entusiasmo e pedindo o envio do manifesto que era um texto muito bem escrito e com linguagem inovadora. Alçada Baptista teve a gentileza de mo enviar.
Julgo que foi muito importante para a futura participação dos católicos na esquerda democrática e socialista o facto de Alçada Baptista e os seus companheiros terem convidado Mário Soares, Salgado Zenha e Jorge Sampaio a juntarem-se aos católicos que estiveram na origem de «O Tempo e o Modo».
Alçada Baptista é um notável memorialista, mas é também um novelista e um romancista de ideias. Livros como «Os Nós e os Laços», «O Riso de Deus» e «O Tecido do Outono» são romances de ideias desafiadores, que nos colocam não apenas perante reflexões sobre Deus, mas também perante novas representações das relações afectivas entre homens e mulheres, que questionam o amor e a amizade, que ainda não tiverem o tratamento crítico que merecem. Guilherme d’Oliveira Martins afirma no seu testemunho que o escritor se admira de nos tempos que correm não haver ainda uma “teologia da felicidade”. Creio que Alçada Baptista deu-nos com estes livros e as suas novelas contributos para a uma teologia da felicidade e do prazer, a construir, e que a melhor forma de prosseguir esta homenagem é continuarmos a lê-lo e a discuti-lo, qual quer que seja as respostas que entendamos dar às questões que coloca.
domingo, fevereiro 11, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Gostei muito do programa televisivo sobre o António que cavava batatas nos tempos de confusão. Hoje já não é o tempo dos Antónios cristãos e reformistas mas sim o tempo dos falcões e da destruição da democracia.
Acabei de escrever uma carta ao Provedor da RTP (publicada no meu blog) sobre a qual gostaria de saber a sua opinião, enquanto colega cristão e reformista.
José Moinho
manifestoliberista.blogspot.com
Caro Colega,
Também gostei muito do programa televisivo sobre o Alçada Baptista.Li a sua carta ao Provedor da RTP, que coloca algumas questões pertinentes, e espero que tenha resposta.Temos que ser cada vez mais cidadãos intervenientes, utilizando todas as possibilidaes abertas pelas formas de democracia participativa, consagrados entre nós.
Caro José Leitão
Obrigado pela resposta. Já escrevi uma segunda carta, pois, em resposta à primeira, o provedor dirigiu-me para o seu último programa.
Cumprimentos
Moinho
Enviar um comentário