domingo, fevereiro 12, 2006

UMA AGENDA PARA A LÍNGUA PORTUGUESA

Durante a recente campanha presidencial Manuel Alegre e posteriormente outros candidatos referiram-se à necessidade de promover a projecção internacional da Língua Portuguesa.
Estou certo que esta é uma preocupação comum a milhões de falantes de português, mas muitas vezes sentimos que toda esta vontade não é canalizada para uma agenda que faça avançar a projecção e a utilização da Língua Portuguesa a nível mundial.
Para ser mais claro, há muitas preocupações retóricas, mas poucas acções que sejam aplicadas com determinação em função de uma agenda política claramente definida e prosseguida com determinação. Seria necessário um pouco da determinação política de que deu provas o Marquês de Pombal nesta matéria. É uma área totalmente transversal à actuação dos diferentes Ministérios, mas na qual a sociedade civil deve ter um papel fundamental a desempenhar. Espero que o novo movimento cívico “Intervenção e Cidadania” a insira nas suas prioridades de acção.
Há que reconhecer que muito está a ser feito de forma discreta pelo actual Governo em diversas áreas da sua actuação, mas penso que devia ser assumida como um desígnio estratégico.
O ensaísta e economista francês Alain Minc afirmou há alguns anos, que Portugal era um pequeno País, mas uma grande potência linguística e que a França era um grande País, mas uma pequena potência linguística. O que fazia a diferença eram os milhões de falantes de português do Brasil.
Como escreveu Manuel Alegre, Portugal entre os países do mesmo peso demográfico, é um dos poucos que pode ser um actor global, porque tem uma História, uma língua, uma cultura.
Tudo isto é verdade, mas pese embora o acontecimento que foi a publicação do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa em colaboração com a Editorial Verbo, em 2001, temos de reconhecer o que devemos aos brasileiros em matéria de dicionários da Língua Portuguesa. A Língua Portuguesa é propriedade de todos os seus falantes e não apenas dos portugueses.
Temos que privilegiar áreas de inovação como, por exemplo, a tradução automática com qualidade de e para português de todas as línguas dos Estados que já fazem parte ou venham a fazer parte da União Europeia.
A colaboração com Bill Gates, recentemente anunciada pelo Governo, pode ser muito útil em várias áreas relacionadas com as novas tecnologias da informação e é muito positivo o facto de se estar a trabalhar na criação de computadores que reconheçam as palavras ditas em Língua Portuguesa.
Mas qualquer agenda para a Língua Portuguesa tem de assentar na qualidade do ensino da Língua Portuguesa ao nível da Escola, desde o pré-escolar até ao 12º ano. Como tive o privilégio de ter tido dois excelentes professores de Português no Liceu Nacional de Viseu, o professor Simões Gomes e o professor Osório Mateus, não posso deixar de manifestar o meu apoio à petição “Pela Dignificação do Ensino”, apresentada pela professora Maria do Carmo Vieira (http://www.petitiononline.com/mercurio/) Considero que a Literatura é essencial para um ensino de qualidade da Língua Portuguesa.
Gostaria de acrescentar que nada disto é contraditório com o esforço que está ser feito para o ensino do Inglês pela actual Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, em minha opinião, uma excelente Ministra da Educação.
Considero também fundamental que a Língua Portuguesa se torne cada vez mais uma língua de trabalho a nível do maior número de organizações internacionais. Não resisto a contar uma pequena história, por ser significativa da pouca ousadia de alguma diplomacia portuguesa, que há que ultrapassar. Quando em 2001 intervim na Conferência Mundial Sobre Racismo na África do Sul, em representação de Portugal, foi-me dito pelos nossos diplomatas que o deveria fazer em inglês ou em francês, mas não em português Felizmente antes de mim falou o Presidente Pedro Pires, de Cabo Verde, em Português e só depois disso é que concordaram que falasse em Português, tendo-se improvisado a sua tradução simultânea. Escusado será dizer que Brasil, Cabo Verde e a CPLP falaram em Português.
Não ignoro que a consagração do Português como língua de trabalho custa dinheiro e haverá que repartir os custos, o que é mais uma razão para a unificação ortográfica da Língua Portuguesa.
É preciso coragem para combater a inércia e as visões de curto prazo, mas a entrada em vigor do Acordo Ortográfico, já ratificado pelos parlamentos de Portugal e do Brasil, é uma necessidade incontornável para a afirmação do Português a nível internacional.
Espero que José Sócrates se inspire nesta matéria no exemplo de determinação e visão larga do Marquês de Pombal.

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