O Afeganistão está mais do que nunca no centro da agenda política internacional, depois de Hamid Karzai ter sido levado a aceitar a eliminação dos votos fraudulentos nas eleições recentemente realizadas e de reconhecer a necessidade de efectuar uma segunda volta nas eleições presidenciais. Este reconhecimento é um facto sem precedentes em processos políticos recentes. Estamos numa encruzilhada política, marcada por uma grande incerteza relativamente ao futuro.
O Afeganistão está perto de nós não apenas por ter sido o ponto de partida de actos terroristas promovidos por Bin Laden, pelo facto de que a solução política que for ensaiada terá repercussões no nosso futuro colectivo, mas também porque os militares portugueses nele têm assegurado uma presença de grande dignidade.
Para saber um pouco mais sobre o Afeganistão é indispensável ler o livro Caderno Afegão, recentemente publicado por Alexandra Lucas Coelho, com prefácio de Carlos Vaz Marques numa belíssima e cuidada edição da Tinta da China, com capa dura, ilustração e fitilho.
É um excelente livro que se lê, de seguida, pelo prazer de ler, mas que nos ajuda a entender a complexidade da situação, os elementos culturais que não podem ser subestimados na construção das políticas, escrito por uma jornalista culta, inteligente e corajosa, que escreve literariamente um livro de viagens como fazia Bruce Chatwin.
A forma subtil como nos chama a atenção para os pormenores, da gastronomia, à forma como as mulheres se cobrem e descobrem, para os cheiros nauseabundos, mas também para as rosas e os jardins, para a beleza das pessoas, para as estratégias de segurança necessárias para circular, para o palimpsesto, a expressão é minha, de culturas sobrepostas e rasuradas de que é feito o Afeganistão, prende-nos e dá-nos pistas para entendermos as notícias que são publicadas nos jornais.
Dá-nos o quotidiano de coragem dos que regressaram e não desistem de reconstruir o país, o trabalho persistente de organizações como a Cruz Vermelha Internacional ou a Fundação Aga Khan.
Muita dessa gente é discreta na forma como pretende reconstruir uma sociedade civil, nomeadamente, a Fundação Aga Khan que vai lançando os alicerces de um futuro melhor, recuperando bairros inteiros nos centros históricos de Cabul e Herat, o que implica «- edifícios, materiais, artes e ofícios -, mas também desenvolvimento - educação, saúde, emprego, esgotos, pavimentos» ou edificando escolas em zonas remotas do Afeganistão, em terras de xiitas.
Ajuda-nos a perceber a riqueza cultural e espiritual que se esconde por trás da violência e da corrupção e que se exprime nesta frase de inspiração sufi de um velho e culto afegão “Cada pessoa tem valor por estar viva” ou a espantosa luta do livreiro de Cabul, que desde a monarquia à actualidade, passando pelo regime comunista e dos talibans persistiu na sua resistência cultural.
Cabul, Herat, Jalabad, Kandahar, Mazar-I-Sharif, Bamiyan, Band-E-Amir, Bamyan tornaram-se mais familiares, depois da leitura deste livro escrito com paixão. Senti agudamente como a nossa vida e experiência é limitada e pensei que, provavelmente, nunca terei oportunidade de visitar o Afeganistão, mas que deixou de ser para mim um país distante. Não esquecerei, por exemplo os Budas que foram destruídos pelos talibans em Bamyan, as ideias sobre a sua (limitada) reconstrução, mas também a beleza da paisagem que vi através da escrita de Alexandra Lucas Coelho. Não esquecerei as águas de Band-e-Amir, «a sombra azulada de uma grande superfície na montanha» e «três lagos mais belos que os lagos mais belos, entre montanhas dramáticas, de um turquesa impossível». Seria interessante que fosse publicada uma edição ilustrada desta viagem. Existem algumas fotografias e estão disponíveis aqui, mas as palavras são, neste caso, ainda mais expressivas do que as imagens.
Vale a pena traduzir este livro noutras línguas, mas quem poder ler Caderno Afegão na sua língua original será um privilegiado, porque está escrito num português magnífico, de uma forma viva, ágil e expressiva, que transmite com precisão factos e emoções.
O Afeganistão está perto de nós não apenas por ter sido o ponto de partida de actos terroristas promovidos por Bin Laden, pelo facto de que a solução política que for ensaiada terá repercussões no nosso futuro colectivo, mas também porque os militares portugueses nele têm assegurado uma presença de grande dignidade.
Para saber um pouco mais sobre o Afeganistão é indispensável ler o livro Caderno Afegão, recentemente publicado por Alexandra Lucas Coelho, com prefácio de Carlos Vaz Marques numa belíssima e cuidada edição da Tinta da China, com capa dura, ilustração e fitilho.
É um excelente livro que se lê, de seguida, pelo prazer de ler, mas que nos ajuda a entender a complexidade da situação, os elementos culturais que não podem ser subestimados na construção das políticas, escrito por uma jornalista culta, inteligente e corajosa, que escreve literariamente um livro de viagens como fazia Bruce Chatwin.
A forma subtil como nos chama a atenção para os pormenores, da gastronomia, à forma como as mulheres se cobrem e descobrem, para os cheiros nauseabundos, mas também para as rosas e os jardins, para a beleza das pessoas, para as estratégias de segurança necessárias para circular, para o palimpsesto, a expressão é minha, de culturas sobrepostas e rasuradas de que é feito o Afeganistão, prende-nos e dá-nos pistas para entendermos as notícias que são publicadas nos jornais.
Dá-nos o quotidiano de coragem dos que regressaram e não desistem de reconstruir o país, o trabalho persistente de organizações como a Cruz Vermelha Internacional ou a Fundação Aga Khan.
Muita dessa gente é discreta na forma como pretende reconstruir uma sociedade civil, nomeadamente, a Fundação Aga Khan que vai lançando os alicerces de um futuro melhor, recuperando bairros inteiros nos centros históricos de Cabul e Herat, o que implica «- edifícios, materiais, artes e ofícios -, mas também desenvolvimento - educação, saúde, emprego, esgotos, pavimentos» ou edificando escolas em zonas remotas do Afeganistão, em terras de xiitas.
Ajuda-nos a perceber a riqueza cultural e espiritual que se esconde por trás da violência e da corrupção e que se exprime nesta frase de inspiração sufi de um velho e culto afegão “Cada pessoa tem valor por estar viva” ou a espantosa luta do livreiro de Cabul, que desde a monarquia à actualidade, passando pelo regime comunista e dos talibans persistiu na sua resistência cultural.
Cabul, Herat, Jalabad, Kandahar, Mazar-I-Sharif, Bamiyan, Band-E-Amir, Bamyan tornaram-se mais familiares, depois da leitura deste livro escrito com paixão. Senti agudamente como a nossa vida e experiência é limitada e pensei que, provavelmente, nunca terei oportunidade de visitar o Afeganistão, mas que deixou de ser para mim um país distante. Não esquecerei, por exemplo os Budas que foram destruídos pelos talibans em Bamyan, as ideias sobre a sua (limitada) reconstrução, mas também a beleza da paisagem que vi através da escrita de Alexandra Lucas Coelho. Não esquecerei as águas de Band-e-Amir, «a sombra azulada de uma grande superfície na montanha» e «três lagos mais belos que os lagos mais belos, entre montanhas dramáticas, de um turquesa impossível». Seria interessante que fosse publicada uma edição ilustrada desta viagem. Existem algumas fotografias e estão disponíveis aqui, mas as palavras são, neste caso, ainda mais expressivas do que as imagens.
Vale a pena traduzir este livro noutras línguas, mas quem poder ler Caderno Afegão na sua língua original será um privilegiado, porque está escrito num português magnífico, de uma forma viva, ágil e expressiva, que transmite com precisão factos e emoções.
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