Tenho defendido que cabe ao Partido Socialista a enorme responsabilidade de continuar a merecer, e em muitos casos recuperar, a confiança dos eleitores, quer pela sua acção governativa quer pelas políticas que defina para o novo ciclo político.
Considero essencial que seja capaz de o fazer, porque sem o Partido Socialista, a esquerda não marcará o próximo ciclo político.
Para quem tivesse alguma dúvida, a estratégia do Bloco de Esquerda para as eleições autárquicas e, particularmente, para Lisboa, não permite continuar a tê-la. Quando António Costa se empenha em criar condições para que seja possível governar Lisboa à esquerda depois das próximas eleições autárquicas, o Bloco de Esquerda apenas se preocupa com estreitas contabilidades eleitorais, mesmo tendo de romper com José Sá Fernandes e fazendo correr o risco de entregar a gestão da cidade à direita mais populista e incompetente que já governou Lisboa.
A necessária renovação da esquerda democrática e socialista não passa apenas pelo Partido Socialista, mas a expressão política do socialismo democrático é e continuará a ser o Partido Socialista, mesmo para quem tem divergências e criticou políticas que têm sido concretizadas.
O Partido Socialista deve ter, contudo, a lucidez de perceber que é necessário abrir o debate à esquerda e que podemos e devemos considerar propostas formuladas aqui, com seriedade, como estas, da responsabilidade de um conjunto de colaboradores do blogue Ladrões de Bicicletas.
A possibilidade de renovar as políticas do Partido Socialista passa por todos os seus militantes, mas a maior responsabilidade é naturalmente do seu secretário-geral, José Sócrates.
Considero positivos os sinais de preocupação com a unidade do Partido Socialista que manifestou na sua recente entrevista à SIC, bem como, a equipa que escolheu para a elaboração da moção que vai apresentar no próximo Congresso do Partido Socialista, constituída por um conjunto de quadros políticos de qualidade, com diversas sensibilidades e trajectórias dentro do Partido Socialista. A escolha de António Costa para coordenar a equipa é particularmente significativa, se tivermos em conta a recente entrevista ao DN, a que me referi aqui.
A crise do capitalismo financeiro tem levado o governo a adoptar medidas e políticas, que tornam mais nítida as diferenças entre as políticas do neo-liberalismo, protagonizado pelo PSD e as defendidas pelo PS que se inserem na tradição do socialismo democrático e da social-democracia.
Se a crise do capitalismo financeiro tornou clara a razão dos que advogam um Estado com maior intervenção na regulação da vida económica e como instrumento crucial de promoção da igualização das condições e oportunidades de vida, não podemos também deixar de estar atentos às alterações em curso na ordem política internacional.
O Partido Socialista tem que defender um papel mais activo e relevante para Portugal na cena política internacional.
Luís Amado deu um contributo fundamental para a definição desse novo papel na abertura do Seminário Diplomático, realizado esta semana. Defendeu segundo refere Luísa Meireles aqui, afirmando que é urgente «abrir novos rumos, definir pontes e estabelecer relações para “se tornar relevante” nos espaços que integra. Pois. É essa a questão fundamental nas relações internacionais, a relevância.
Amado deu mais uma achega: CPLP, mundo em português, agenda transatlântica: E acrescentou-lhe uma novidade: no século XXI, atlantismo quer dizer Atlântico Norte e Sul, América Latina e África. A relevância de Portugal passa por aqui».
Estamos num momento político decisivo e temos que escolher o que consideramos fundamental para a concretização das esperanças legítimas dos portugueses e dos que vivem e trabalham em Portugal, nos tempos difíceis marcados pelo colapso do capitalismo financeiro, privilegiando o que consideramos essencial.
Se há muitas questões sobre as quais não tenho certezas, há, contudo, uma que para mim é uma evidência. Não há semelhança entra as políticas face à crise defendidas pelo Partido Socialista e as que seriam concretizadas pela direita.
Mas não interessa fazer apenas diferente e melhor do que a direita, o Partido Socialista tem de ser mais ambicioso e exigente com a sua acção.
Sophia de Mello Breyner Andresen, no poema “A Forma Justa”, integrado no livro, «Dia Claro», escreveu:
«…Sei que é possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo…»
Não devemos ambicionar menos do que contribuir para a construção da forma justa da cidade.
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