Centro de Reflexão Cristã
Novo ciclo de colóquios do CRC- 2011-2012
Colóquio I
13 de Dezembro de 2011
Terça-feira, às 18h30
Giovanni Greco, Deus Ex Machina (2008)
FERNANDO BELO
JOSÉ TRIBOLET
Local: Centro Nacional de Cultura – Galeria Fernando Pessoa
Largo do Picadeiro, nº 10, 1º - Lisboa.
[Metro: Baixa-Chiado]
ENTRADA LIVRE
domingo, dezembro 04, 2011
domingo, novembro 20, 2011
O CHALET DA MEMÓRIA DE TONY JUDT
O Chalet da Memória de Tony Judt reúne os últimos ensaios publicados no New York Review of Books, escritas depois do livro Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos, que foi o seu testamento político e a que nos referimos aqui.
O livro está bem traduzido, e escrito de acordo com a nova ortografia portuguesa, lendo-se com grande prazer.
São crónicas construídas mentalmente durante as noites de insónia por Tony Judt numa fase já muito avançada da esclerose lateral amiotrópica (ELA), a doença de Lou Gehrig, que o vitimou e ditadas durante o dia, quando isso lhe era ainda possível.
Tony Judt combateu a doença, com força e determinação, que honra a dignidade e a coragem do género humano, mas este não é um livro sobre a doença, é sobre a vida que viveu, a situação cultural e política, porque a doença “o inferno não é uma experiência transmissível”, como escreveu Timothy Garton Ash.
A realidade da doença é-nos dada expressamente através de um ensaio intitulado Noite, que situa as condições em que surgiram estes ensaios e muito a propósito do desconforto que sente refere a Metamorfose de Franz Kafka.
É admirável como os ensaios se articulam de forma a constituírem uma construção ordenada e coerente a partir da memória decisiva de um momento marcante da sua vida, as férias de Inverno passadas em 1957 ou 1958 num chalet, “uma pequena pensione, um hotel de família na vila antiquada de Chesières, no sopé da abastada região de esqui de Villars, na Suiça francófona”.
As narrativas e ensaios têm uma subtil, mas real ligação entre si. O autor refere-o: “… durante estes pequenos exercícios, percebi que estava a reconstruir - como se fossem legos – segmentos entrelaçados do meu próprio passado que antes nunca pensei que estivessem relacionados”.
É um livro de memórias mas que nunca estão desligadas das suas opções sociais e políticas. Ao falar dos Autocarros da linha Verde e do seu cheiro, de a Comida ou dos comboios em o Desejo Mimético, o historiador e o cidadão estão bem presentes na análise crítica das involuções verificadas em matéria de políticas públicas de transportes.
O autor é um cidadão, cosmopolita, um social-democrata universalista, que não se limita a recordar, mas que através destes feuilletons, continua a intervir, com inteligência como humor e mesmo com ironia. Leiam-se, por exemplo, Paris foi ontem, Revolucionários ou Raparigas, raparigas, raparigas. São muito interessantes as reflexões que faz sobre a fase em que defendeu um sionismo de esquerda, os ensinamentos que disso retirou, e o olhar crítico sobre as políticas de identidade defendidas por muitos académicos, seus colegas da universidade.
Tony Judt tem o que se designa como uma identidade hifenizada, um inglês, que se considera nova-iorquino, um judeu assumido como se pode ver em Toni, que confessa “conheço melhor a liturgia do anglicanismo do que muitos ritos e práticas do judaísmo”, receia que o futuro nos traga demasiada identidades excludentes. Afirma; “… iremos ter saudades dos tolerantes, dos que estão à margem: a gente das franjas. A minha gente.” Daí o seu gosto pelas “cidades mundiais”, o seu amor por Nova Iorque.
Termina a sua viagem pelas recordações regressando às Montanhas Mágicas da Suiça, neste caso a Murren, onde “nunca nada ali correu mal”, evocando um pequeno comboio na montanha. Ele que tanto gostava de comboios, diz: “Não podemos escolher onde começar a nossa vida, mas podemos acabar onde quisermos. Sei onde estarei: a ir a lado nenhum em especial naquele pequeno comboio para todo o sempre”.
É um livro a ler e a reler, escrito por um ser humano excepcional, por um intelectual, que se afirmou até ao limite das suas forças como um social-democrata universalista.
Há só um aspecto em que espero, se engane. O comboio em que embarcou para todo o sempre não está condenado a ir a lado nenhum.
O livro está bem traduzido, e escrito de acordo com a nova ortografia portuguesa, lendo-se com grande prazer.
São crónicas construídas mentalmente durante as noites de insónia por Tony Judt numa fase já muito avançada da esclerose lateral amiotrópica (ELA), a doença de Lou Gehrig, que o vitimou e ditadas durante o dia, quando isso lhe era ainda possível.
Tony Judt combateu a doença, com força e determinação, que honra a dignidade e a coragem do género humano, mas este não é um livro sobre a doença, é sobre a vida que viveu, a situação cultural e política, porque a doença “o inferno não é uma experiência transmissível”, como escreveu Timothy Garton Ash.
A realidade da doença é-nos dada expressamente através de um ensaio intitulado Noite, que situa as condições em que surgiram estes ensaios e muito a propósito do desconforto que sente refere a Metamorfose de Franz Kafka.
É admirável como os ensaios se articulam de forma a constituírem uma construção ordenada e coerente a partir da memória decisiva de um momento marcante da sua vida, as férias de Inverno passadas em 1957 ou 1958 num chalet, “uma pequena pensione, um hotel de família na vila antiquada de Chesières, no sopé da abastada região de esqui de Villars, na Suiça francófona”.
As narrativas e ensaios têm uma subtil, mas real ligação entre si. O autor refere-o: “… durante estes pequenos exercícios, percebi que estava a reconstruir - como se fossem legos – segmentos entrelaçados do meu próprio passado que antes nunca pensei que estivessem relacionados”.
É um livro de memórias mas que nunca estão desligadas das suas opções sociais e políticas. Ao falar dos Autocarros da linha Verde e do seu cheiro, de a Comida ou dos comboios em o Desejo Mimético, o historiador e o cidadão estão bem presentes na análise crítica das involuções verificadas em matéria de políticas públicas de transportes.
O autor é um cidadão, cosmopolita, um social-democrata universalista, que não se limita a recordar, mas que através destes feuilletons, continua a intervir, com inteligência como humor e mesmo com ironia. Leiam-se, por exemplo, Paris foi ontem, Revolucionários ou Raparigas, raparigas, raparigas. São muito interessantes as reflexões que faz sobre a fase em que defendeu um sionismo de esquerda, os ensinamentos que disso retirou, e o olhar crítico sobre as políticas de identidade defendidas por muitos académicos, seus colegas da universidade.
Tony Judt tem o que se designa como uma identidade hifenizada, um inglês, que se considera nova-iorquino, um judeu assumido como se pode ver em Toni, que confessa “conheço melhor a liturgia do anglicanismo do que muitos ritos e práticas do judaísmo”, receia que o futuro nos traga demasiada identidades excludentes. Afirma; “… iremos ter saudades dos tolerantes, dos que estão à margem: a gente das franjas. A minha gente.” Daí o seu gosto pelas “cidades mundiais”, o seu amor por Nova Iorque.
Termina a sua viagem pelas recordações regressando às Montanhas Mágicas da Suiça, neste caso a Murren, onde “nunca nada ali correu mal”, evocando um pequeno comboio na montanha. Ele que tanto gostava de comboios, diz: “Não podemos escolher onde começar a nossa vida, mas podemos acabar onde quisermos. Sei onde estarei: a ir a lado nenhum em especial naquele pequeno comboio para todo o sempre”.
É um livro a ler e a reler, escrito por um ser humano excepcional, por um intelectual, que se afirmou até ao limite das suas forças como um social-democrata universalista.
Há só um aspecto em que espero, se engane. O comboio em que embarcou para todo o sempre não está condenado a ir a lado nenhum.
RELAÇÕES IGREJA / CULTURA
« Diálogo com criadores culturais não pressupõe
O que é mais importante (criar, manter, repensar) na relação da Igreja com a Cultura?
A Igreja para manter uma relação mutuamente enriquecedora com a Cultura tem que encarar sem medo as transformações culturais, sociais e políticas e saber ler (e reler) permanentemente os sinais dos tempos. Tem que aprender a viver com naturalidade num mundo num processo acelerado e vertiginoso de mutação.
Num mundo em que as crises económicas e financeiras dos Estados até agora dominantes anunciam o advento de uma nova época e a emergência de novos Estados, línguas e culturas e em que os frutos da revolução científica e tecnológica e as novas tecnologias de informação invadem o quotidiano dos cidadãos, a Igreja tem de repensar permanentemente as suas relações com a Cultura.
Em Portugal, a Igreja tem vindo a promover uma Pastoral da Cultura que tem sido capaz de estabelecer pontes com muitos criadores culturais, crentes e não-crentes, e despertado comunidades cristãs para a importância da cultura para a pessoa humana ter acesso verdadeiro e pleno à humanidade. Naturalmente que há muito para fazer e repensar.
Num País em que a crise financeira, se transformou numa crise económica, existem riscos sérios de subalternização da importância da Cultura e do trabalho dos criadores culturais. O discurso sobre a necessidade do empobrecimento num contexto de crise corre o risco de esquecer que uma coisa é ter menos recursos para gastar, outra coisa é esquecer que não só de pão vive o homem, mas precisa de sentido e beleza. As despesas com a Cultura não são gastos, são investimentos numa sociedade mais justa, humana e solidária e contribuem para aumentar as exportações.
Não desistimos de ter esperança estamos certos que o desenvolvimento individual e coletivo é possível, mobilizando todos os recursos disponíveis, nomeadamente, o contributo dos criadores culturais, não apenas dos escritores e poetas, mas também dos cineastas, dos músicos, filósofos, dos arquitetos, dos dançarinos, de todos os criadores culturais sem exceção.
O repensar da relação da Igreja com a Cultura em Portugal passa por alargar e descentralizar o diálogo com os criadores culturais, crentes e não-crentes, ao longo de todo o País, estabelecendo pontes com os que se encontram espalhados pelo mundo e com o mundo de Língua Portuguesa.
O repensar da relação da Igreja com a Cultura deve assentar no direito de todos à cultura e à sua realização prática, no promover em cada pessoa a consciência do direito à cultura e do dever de se cultivar.
A atitude da Igreja no diálogo com os criadores culturais não pressupõe o silenciamento das diferenças e das divergências, mas deve ser marcada pelo saber escutar as críticas, as inquietações, as perguntas.
A relação da Igreja com a Cultura deve, como defendeu Júlia Kristeva, em Assis [27.10.2011], ousar a “aposta na renovação contínua da capacidade dos homens e das mulheres para crer e viver em conjunto (...) para que a humanidade possa prosseguir por muito tempo o seu destino criador”.
Este meu depoimento integra a edição de novembro de 2011 do "Observatório da Cultura" (n.º 16). Leia mais respostas à pergunta.
A Igreja para manter uma relação mutuamente enriquecedora com a Cultura tem que encarar sem medo as transformações culturais, sociais e políticas e saber ler (e reler) permanentemente os sinais dos tempos. Tem que aprender a viver com naturalidade num mundo num processo acelerado e vertiginoso de mutação.
Num mundo em que as crises económicas e financeiras dos Estados até agora dominantes anunciam o advento de uma nova época e a emergência de novos Estados, línguas e culturas e em que os frutos da revolução científica e tecnológica e as novas tecnologias de informação invadem o quotidiano dos cidadãos, a Igreja tem de repensar permanentemente as suas relações com a Cultura.
Em Portugal, a Igreja tem vindo a promover uma Pastoral da Cultura que tem sido capaz de estabelecer pontes com muitos criadores culturais, crentes e não-crentes, e despertado comunidades cristãs para a importância da cultura para a pessoa humana ter acesso verdadeiro e pleno à humanidade. Naturalmente que há muito para fazer e repensar.
Num País em que a crise financeira, se transformou numa crise económica, existem riscos sérios de subalternização da importância da Cultura e do trabalho dos criadores culturais. O discurso sobre a necessidade do empobrecimento num contexto de crise corre o risco de esquecer que uma coisa é ter menos recursos para gastar, outra coisa é esquecer que não só de pão vive o homem, mas precisa de sentido e beleza. As despesas com a Cultura não são gastos, são investimentos numa sociedade mais justa, humana e solidária e contribuem para aumentar as exportações.
Não desistimos de ter esperança estamos certos que o desenvolvimento individual e coletivo é possível, mobilizando todos os recursos disponíveis, nomeadamente, o contributo dos criadores culturais, não apenas dos escritores e poetas, mas também dos cineastas, dos músicos, filósofos, dos arquitetos, dos dançarinos, de todos os criadores culturais sem exceção.
O repensar da relação da Igreja com a Cultura em Portugal passa por alargar e descentralizar o diálogo com os criadores culturais, crentes e não-crentes, ao longo de todo o País, estabelecendo pontes com os que se encontram espalhados pelo mundo e com o mundo de Língua Portuguesa.
O repensar da relação da Igreja com a Cultura deve assentar no direito de todos à cultura e à sua realização prática, no promover em cada pessoa a consciência do direito à cultura e do dever de se cultivar.
A atitude da Igreja no diálogo com os criadores culturais não pressupõe o silenciamento das diferenças e das divergências, mas deve ser marcada pelo saber escutar as críticas, as inquietações, as perguntas.
A relação da Igreja com a Cultura deve, como defendeu Júlia Kristeva, em Assis [27.10.2011], ousar a “aposta na renovação contínua da capacidade dos homens e das mulheres para crer e viver em conjunto (...) para que a humanidade possa prosseguir por muito tempo o seu destino criador”.
Este meu depoimento integra a edição de novembro de 2011 do "Observatório da Cultura" (n.º 16). Leia mais respostas à pergunta.
domingo, novembro 13, 2011
DE OLHOS BEM ABERTOS DE MANUEL MARIA CARRILHO
Para estarmos à altura do que nos acontece, precisamos de perceber como aqui chegámos e o que podemos fazer para sair daqui.
De Olhos Bem Abertos de Manuel Maria Carrilho, reúne no essencial crónicas que publicou no DN, revela-se um contributo imprescindível para este exercício. Apesar de serem crónicas datadas revelam-se de uma paradoxal actualidade, porque nascem de um olhar que soube ver para além do momento. Apenas um exemplo: “…por muito sombria e aflitiva que seja, e é, a situação no curto prazo, não vale a pena ter ilusões: só no médio/longo prazo será possível ultrapassar as dificuldades que enfrentamos”. Esta constatação não é de agora, é do ano passado, mas toda a crónica em que se insere se mantém actual.
A arquitectura do livro assenta em quatro pilares: crise, Europa, democracia/cultura e Portugal. Manuel Maria Carrilho parte da conjuntura, mas olhando sempre para além do curto prazo, tendo em consideração as reflexões de outros, que enriquecem a sua visão.
É um livro escrito com inteligência que se lê com prazer, porque é sempre inteligente e estimulante, mesmos que não partilhemos todas as suas análises e todas as suas teses, particularmente, sobre os últimos anos de governação do PS.
Se quisermos renovar a prática política dos socialistas, precisamos de o fazer com ideias novas, sem esquecer os momentos socialistas das nossas anteriores governações, mas sem escamotear que se verifica o esgotamento do modelo de desenvolvimento que foi seguido nas últimas décadas.
Partilho com Manuel Maria Carrilho a ideia que foi uma tragédia da nossa história política recente que António Guterres “o líder mais qualificado, mais dotado e mais preparado, de todos os líderes que o PS teve, não tenha tido a maioria absoluta”.
Todo o livro nos convoca para o desafio, com que conclui o prefácio: “… lutar por uma Nova República, isto é, por uma visão de futuro que (…) se estruture em torno de um novo paradigma de desenvolvimento assente na qualificação do território, das suas instituições e das pessoas, bem como a renovação dos valores da democracia e da reinvenção das causas e dos objectivos da esquerda social-democrata …”.
Manuel Maria Carrilho não é apenas um pensador, é um cidadão politicamente comprometido, que já demonstrou quando foi chamado a exercer funções políticas, que sabe fazer, e que sabe dizer não.
Teve razão quando era embaixador de Portugal na UNESCO e se recusou a votar na candidatura do egípcio Farouk Hosni, conhecido pelas suas posições anti-semitas e anti-democráticas para Director-Geral da UNESCO, o qual felizmente não foi eleito e está hoje na prisão no Egipto.
Este é um livro que se pode ler não respeitando a arquitectura que lhe deu o seu autor, mas sendo guiado pelos nossos próprios interesses ou curiosidade, saltar, por exemplo, de “E o que será um novo paradigma?” (pp40-41), para “Fado candidato” (pp.111-115) ou “A missa lusófona” (pp 115-117), e para “Fazer contas não basta” (pp. 193-196) ou as entrevistas nele transcritas.
O debate sobre o futuro de Portugal no contexto europeu e mundial numa óptica da esquerda social-democrata exige a mobilização dos cidadãos para além do âmbito do PS, como António Guterres teve a coragem de fazer quando promoveu os Estados Gerais para uma Nova Maioria. Não se trata de multiplicar reuniões, de contabilizar presenças, ou sequer contributos para legitimar resultados previamente definidos. É necessário promover um verdadeiro debate, não esquecendo que as palavras e as ideias podem ser performativas.
A crise internacional, a desconstrução da União Europeia a que assistimos, a ausência de políticas que conjuguem a necessária austeridade com crescimento económico e desenvolvimento em Portugal, tornam mais premente renovar o programa socialista sem esquecer, como refere Manuel Maria Carrilho, os “… grandes valores do socialismo, à sua matriz igualitária, e às suas grandes causas, como a igualdade, a educação, e a cultura”.
O facto deste livro nos convocar para essa tarefa, torna a sua leitura imprescindível.
De Olhos Bem Abertos de Manuel Maria Carrilho, reúne no essencial crónicas que publicou no DN, revela-se um contributo imprescindível para este exercício. Apesar de serem crónicas datadas revelam-se de uma paradoxal actualidade, porque nascem de um olhar que soube ver para além do momento. Apenas um exemplo: “…por muito sombria e aflitiva que seja, e é, a situação no curto prazo, não vale a pena ter ilusões: só no médio/longo prazo será possível ultrapassar as dificuldades que enfrentamos”. Esta constatação não é de agora, é do ano passado, mas toda a crónica em que se insere se mantém actual.
A arquitectura do livro assenta em quatro pilares: crise, Europa, democracia/cultura e Portugal. Manuel Maria Carrilho parte da conjuntura, mas olhando sempre para além do curto prazo, tendo em consideração as reflexões de outros, que enriquecem a sua visão.
É um livro escrito com inteligência que se lê com prazer, porque é sempre inteligente e estimulante, mesmos que não partilhemos todas as suas análises e todas as suas teses, particularmente, sobre os últimos anos de governação do PS.
Se quisermos renovar a prática política dos socialistas, precisamos de o fazer com ideias novas, sem esquecer os momentos socialistas das nossas anteriores governações, mas sem escamotear que se verifica o esgotamento do modelo de desenvolvimento que foi seguido nas últimas décadas.
Partilho com Manuel Maria Carrilho a ideia que foi uma tragédia da nossa história política recente que António Guterres “o líder mais qualificado, mais dotado e mais preparado, de todos os líderes que o PS teve, não tenha tido a maioria absoluta”.
Todo o livro nos convoca para o desafio, com que conclui o prefácio: “… lutar por uma Nova República, isto é, por uma visão de futuro que (…) se estruture em torno de um novo paradigma de desenvolvimento assente na qualificação do território, das suas instituições e das pessoas, bem como a renovação dos valores da democracia e da reinvenção das causas e dos objectivos da esquerda social-democrata …”.
Manuel Maria Carrilho não é apenas um pensador, é um cidadão politicamente comprometido, que já demonstrou quando foi chamado a exercer funções políticas, que sabe fazer, e que sabe dizer não.
Teve razão quando era embaixador de Portugal na UNESCO e se recusou a votar na candidatura do egípcio Farouk Hosni, conhecido pelas suas posições anti-semitas e anti-democráticas para Director-Geral da UNESCO, o qual felizmente não foi eleito e está hoje na prisão no Egipto.
Este é um livro que se pode ler não respeitando a arquitectura que lhe deu o seu autor, mas sendo guiado pelos nossos próprios interesses ou curiosidade, saltar, por exemplo, de “E o que será um novo paradigma?” (pp40-41), para “Fado candidato” (pp.111-115) ou “A missa lusófona” (pp 115-117), e para “Fazer contas não basta” (pp. 193-196) ou as entrevistas nele transcritas.
O debate sobre o futuro de Portugal no contexto europeu e mundial numa óptica da esquerda social-democrata exige a mobilização dos cidadãos para além do âmbito do PS, como António Guterres teve a coragem de fazer quando promoveu os Estados Gerais para uma Nova Maioria. Não se trata de multiplicar reuniões, de contabilizar presenças, ou sequer contributos para legitimar resultados previamente definidos. É necessário promover um verdadeiro debate, não esquecendo que as palavras e as ideias podem ser performativas.
A crise internacional, a desconstrução da União Europeia a que assistimos, a ausência de políticas que conjuguem a necessária austeridade com crescimento económico e desenvolvimento em Portugal, tornam mais premente renovar o programa socialista sem esquecer, como refere Manuel Maria Carrilho, os “… grandes valores do socialismo, à sua matriz igualitária, e às suas grandes causas, como a igualdade, a educação, e a cultura”.
O facto deste livro nos convocar para essa tarefa, torna a sua leitura imprescindível.
domingo, outubro 30, 2011
EM ASSIS CRENTES E NÃO-CRENTES PEREGRINOS DA VERDADE, PEREGRINOS DA PAZ
O encontro promovido em Assis no passado dia 27 de Outubro por iniciativa de Bento XVI sob o lema Peregrinos da Verdade - Peregrinos da Paz foi um acontecimento portador de futuro.
O encontro foi apresentado como jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e pela justiça no mundo e reuniu 300 líderes religiosos, dos quais 200 não-cristãos e, pela primeira vez, e por iniciativa pessoal de Bento XVI, intelectuais não-crentes.
Cristãos de diversas confissões juntaram-se nesta iniciativa com muçulmanos provenientes de dezanove países, judeus, hindus, sikhs, budistas, taoistas, confucionistas, um zoroastriano, um baha’i e animistas africanos. Os ismaelitas estiveram representados pelo português Nazim Ahmad, facto que não é alheio à excelente colaboração existente em Portugal entre a Comunidade Ismaili e a Igreja Católica em Portugal.
Os intelectuais não-crentes eram, para além da filósofa, linguista e psicanalista francesa, de origem búlgara, Julia Kristeva, que usou da palavra no encontro, o filósofo italiano Remo Bodei, o filósofo mexicano Guilherme Hurtado, o economista austríaco Walter Baier, membro do Partido Comunista.
O encontro recordou e retomou a iniciativa que teve lugar há 25 anos, no Ano Internacional da Paz, por iniciativa de João Paulo II, associando 130 representantes de diferentes confissões religiosas para rezar pela paz, associando esta iniciativa à memória de Francisco de Assis.
Como afirmou Guilherme Hurtado aqui: “Devemos promover o diálogo entre crentes e não-crentes neste momento da história, em que estamos submersos em uma crise muito grande, para encontrar soluções comuns para os problemas comuns”.
Aliás, na passada segunda-feira, o Conselho Pontifício Justiça e Paz do Vaticano voltou a defender a criação de uma autoridade financeira mundial e criticou asperamente o “liberalismo económico sem regras e sem controlo”.
Os dois factos novos que marcam este encontro são, em meu entender, a participação de não-cristãos e a participação e a intervenção de uma mulher não-crente, Júlia Kristeva.
Bento XVI tem nos últimos tempos sublinhado a importância do contributo dos descrentes, com as suas interrogações e questões para a purificação da fé dos crentes.
A participação de Júlia Kristeva por iniciativa de Bento XVI num Encontro tem um enorme significado, que questiona o estatuto da mulher nas diferentes confissões religiosas, como muito bem sublinhou Faranaz Keshavjee num excelente post no seu blogue Crónicas de Uma Muçulmana aqui.
Júlia Kristeva, cujo discurso pode encontrar na íntegra aqui, começou por dizer:
“As palavras de João Paulo II, «Não tenhais medo», não se dirigem apenas aos crentes para os encorajar a resistir ao totalitarismo. O apelo do Papa - apóstolo dos direitos dos homens incita-nos a não recear a cultura europeia, mas pelo contrário a ousar o humanismo construindo cumplicidades entre o humanismo cristão e aquele que proveniente da Renascença e das Luzes, ambiciona elucidar as vias em risco da liberdade (…). Obrigado, hoje, a Bento XVI pelo facto de ter convidado pela primeira vez humanistas para o meio de vós para esta iniciativa (…)”. Tendo afirmado, nomeadamente, que o humanismo é um processo de refundação permanente e que o humanismo é um feminismo, que o humanismo nos incita a cuidar, o homem não faz a história, mas a história somos nós, concluiu:
“(…) A era da suspeita não é suficiente. Face às crises e às ameaças agravadas, chegou a era da aposta. Ousemos apostar na renovação contínua da capacidade dos homens e das mulheres para crer e viver em conjunto. Para que nestes múltiplos universos cercados de vazio, a humanidade possa prosseguir por muito tempo o seu destino criador”.
Na sessão pública intervieram antes do Papa onze líderes religiosos e Julia Kristeva.
Bento XVI na sua excelente intervenção, que pode ser lida na íntegra aqui , analisou as relações entre religião e violência ao longo dos tempos, condenou o terrorismo em nome da religião, e afirmou:
“(...) É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família (…)”
Assis foi um marco importante para todos os que consideram, que todos os seres humanos, independentemente das suas crenças, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade, empenharem-se na procura da verdade e na construção da paz.
O encontro foi apresentado como jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e pela justiça no mundo e reuniu 300 líderes religiosos, dos quais 200 não-cristãos e, pela primeira vez, e por iniciativa pessoal de Bento XVI, intelectuais não-crentes.
Cristãos de diversas confissões juntaram-se nesta iniciativa com muçulmanos provenientes de dezanove países, judeus, hindus, sikhs, budistas, taoistas, confucionistas, um zoroastriano, um baha’i e animistas africanos. Os ismaelitas estiveram representados pelo português Nazim Ahmad, facto que não é alheio à excelente colaboração existente em Portugal entre a Comunidade Ismaili e a Igreja Católica em Portugal.
Os intelectuais não-crentes eram, para além da filósofa, linguista e psicanalista francesa, de origem búlgara, Julia Kristeva, que usou da palavra no encontro, o filósofo italiano Remo Bodei, o filósofo mexicano Guilherme Hurtado, o economista austríaco Walter Baier, membro do Partido Comunista.
O encontro recordou e retomou a iniciativa que teve lugar há 25 anos, no Ano Internacional da Paz, por iniciativa de João Paulo II, associando 130 representantes de diferentes confissões religiosas para rezar pela paz, associando esta iniciativa à memória de Francisco de Assis.
Como afirmou Guilherme Hurtado aqui: “Devemos promover o diálogo entre crentes e não-crentes neste momento da história, em que estamos submersos em uma crise muito grande, para encontrar soluções comuns para os problemas comuns”.
Aliás, na passada segunda-feira, o Conselho Pontifício Justiça e Paz do Vaticano voltou a defender a criação de uma autoridade financeira mundial e criticou asperamente o “liberalismo económico sem regras e sem controlo”.
Os dois factos novos que marcam este encontro são, em meu entender, a participação de não-cristãos e a participação e a intervenção de uma mulher não-crente, Júlia Kristeva.
Bento XVI tem nos últimos tempos sublinhado a importância do contributo dos descrentes, com as suas interrogações e questões para a purificação da fé dos crentes.
A participação de Júlia Kristeva por iniciativa de Bento XVI num Encontro tem um enorme significado, que questiona o estatuto da mulher nas diferentes confissões religiosas, como muito bem sublinhou Faranaz Keshavjee num excelente post no seu blogue Crónicas de Uma Muçulmana aqui.
Júlia Kristeva, cujo discurso pode encontrar na íntegra aqui, começou por dizer:
“As palavras de João Paulo II, «Não tenhais medo», não se dirigem apenas aos crentes para os encorajar a resistir ao totalitarismo. O apelo do Papa - apóstolo dos direitos dos homens incita-nos a não recear a cultura europeia, mas pelo contrário a ousar o humanismo construindo cumplicidades entre o humanismo cristão e aquele que proveniente da Renascença e das Luzes, ambiciona elucidar as vias em risco da liberdade (…). Obrigado, hoje, a Bento XVI pelo facto de ter convidado pela primeira vez humanistas para o meio de vós para esta iniciativa (…)”. Tendo afirmado, nomeadamente, que o humanismo é um processo de refundação permanente e que o humanismo é um feminismo, que o humanismo nos incita a cuidar, o homem não faz a história, mas a história somos nós, concluiu:
“(…) A era da suspeita não é suficiente. Face às crises e às ameaças agravadas, chegou a era da aposta. Ousemos apostar na renovação contínua da capacidade dos homens e das mulheres para crer e viver em conjunto. Para que nestes múltiplos universos cercados de vazio, a humanidade possa prosseguir por muito tempo o seu destino criador”.
Na sessão pública intervieram antes do Papa onze líderes religiosos e Julia Kristeva.
Bento XVI na sua excelente intervenção, que pode ser lida na íntegra aqui , analisou as relações entre religião e violência ao longo dos tempos, condenou o terrorismo em nome da religião, e afirmou:
“(...) É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família (…)”
Assis foi um marco importante para todos os que consideram, que todos os seres humanos, independentemente das suas crenças, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade, empenharem-se na procura da verdade e na construção da paz.
domingo, setembro 04, 2011
A SEPARAÇÃO DO ESTADO E DA IGREJA DE LUÍS SALGADO MATOS
Este livro de Luís Salgado de Matos é um dos mais interessantes e originais publicados durante o Centenário da República.
Quem vive hoje a experiência de Igreja(s) livre(s) numa República democrática, em que a separação do Estado e das Igrejas, é um corolário da liberdade de consciência, de religião e de culto, ignora muitas vezes o longo caminho que foi necessário percorrer para aqui chegar.
Esta obra trata uma parte significativa desse caminho. O grande mérito do estudo de Luís Salgado de Matos é, como refere, concluindo, D. Manuel Clemente “uma leitura esclarecida de acontecimentos determinantes da nossa actualidade político-religiosa”.
Como refere José Vera Jardim é um “estudo documentado, com base em investigação séria e que acompanha todo o período com profundidade e muita minúcia”, com extenso recurso a fontes primárias. Está muito bem escrito e tem a preocupação de facilitar a compreensão da complexidade da situação, quer através da cronologia inicial, quer das doze conclusões sobre a separação entre o Estado e a Igreja.
Luís Salgado de Matos tem a vantagem de ter uma formação jurídica, que lhe permite perceber a matéria sinuosa das três “cultuais” sucessivas e simultâneas previstas na Lei da Separação e os diferentes momentos da estratégia de Afonso Costa relativamente à Igreja Católica.
O trabalho de Luís Salgado Matos lança as bases de uma nova narrativa relativamente às relações entre o Estado e as Igrejas na primeira República (1910-1926), que não pactua com a reescrita da história da separação que tem sido feita por outros historiadores, de inspiração católica ou afonsista, que “coincidem em descrevê-lo como um combate entre o bem e o mal e divergem apenas na distribuição dos papéis de bom e de mau”.
O autor defende e, em nosso entender, demonstra que: “A separação efectiva resulta assim, do choque do ultramontanismo de São Pio X, que queria uma religião de Estado e, sendo impossíve,l a separação radical, com o regalismo republicano que podemos simbolizar em Afonso Costa. Nenhum deles conseguiu o seu objectivo.”
Para isso contribuíram o pluralismo de perspectivas sobre esta matéria que se manifestaram entre os republicanos, a partir de certa altura mesmo entre os “democráticos”, e as diferentes posições existentes entre os católicos, que iam dos católicos monárquicos ao Centro Católico e aos católicos republicanos. A participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial e os pontificados de Bento XV e depois de Pio XI, retomando a política de “ralliement” à República de Leão XIII, e a capacidade de reinvenção demonstrada pela Igreja Católica, de que o autor, nos vai deixando algumas notas, tiveram também uma importância decisiva.
Infelizmente, parece-me também demonstrada a última das conclusões de Luís Salgado Matos. “A questão religiosa foi central na vida e morte da Primeira República. Os extremos ganharam. Era uma vitória dispensável.”
Na síntese de D. Manuel Clemente “A leitura (…) evidencia recortes e matizes de pessoas e grupos que geralmente, foram apresentados em blocos monocromáticos e estanques, de parte a parte.”
São inúmeras as posições que foram sendo assumidas, de Afonso Costa a Sidónio Pais, passando por António José de Almeida, Pimenta de Castro ou António Maria da Silva, até ao 28 de Maio.
A Igreja Católica e os católicos, mas também os partidos republicanos, a Carbonária e a Maçonaria demonstraram ser instituições e realidades mais plurais nesta matéria do que por vezes se supõe.
Naturalmente que, entre a prática da separação consagrada na Primeira República e a situação actualmente existente nesta matéria, foi muito e muito contraditório, o caminho percorrido.
Esperemos que outras obras de igual fôlego prossigam este trabalho relativamente ao Estado Novo e à democracia construída no pós-25 de Abril até à aprovação a Lei da Liberdade Religiosa (2001) e à nova Concordata (2004).
Concorde-se ou não com todas as teses defendidas por Luís Salgado de Matos, este é, sem sombra de dúvida, um livro imprescindível para todos os que se interessam pelo processo histórico de construção da liberdade de consciência, religião e culto em Portugal e a separação do Estado e da Igreja, de que analisa um período decisivo.
Quem vive hoje a experiência de Igreja(s) livre(s) numa República democrática, em que a separação do Estado e das Igrejas, é um corolário da liberdade de consciência, de religião e de culto, ignora muitas vezes o longo caminho que foi necessário percorrer para aqui chegar.
Esta obra trata uma parte significativa desse caminho. O grande mérito do estudo de Luís Salgado de Matos é, como refere, concluindo, D. Manuel Clemente “uma leitura esclarecida de acontecimentos determinantes da nossa actualidade político-religiosa”.
Como refere José Vera Jardim é um “estudo documentado, com base em investigação séria e que acompanha todo o período com profundidade e muita minúcia”, com extenso recurso a fontes primárias. Está muito bem escrito e tem a preocupação de facilitar a compreensão da complexidade da situação, quer através da cronologia inicial, quer das doze conclusões sobre a separação entre o Estado e a Igreja.
Luís Salgado de Matos tem a vantagem de ter uma formação jurídica, que lhe permite perceber a matéria sinuosa das três “cultuais” sucessivas e simultâneas previstas na Lei da Separação e os diferentes momentos da estratégia de Afonso Costa relativamente à Igreja Católica.
O trabalho de Luís Salgado Matos lança as bases de uma nova narrativa relativamente às relações entre o Estado e as Igrejas na primeira República (1910-1926), que não pactua com a reescrita da história da separação que tem sido feita por outros historiadores, de inspiração católica ou afonsista, que “coincidem em descrevê-lo como um combate entre o bem e o mal e divergem apenas na distribuição dos papéis de bom e de mau”.
O autor defende e, em nosso entender, demonstra que: “A separação efectiva resulta assim, do choque do ultramontanismo de São Pio X, que queria uma religião de Estado e, sendo impossíve,l a separação radical, com o regalismo republicano que podemos simbolizar em Afonso Costa. Nenhum deles conseguiu o seu objectivo.”
Para isso contribuíram o pluralismo de perspectivas sobre esta matéria que se manifestaram entre os republicanos, a partir de certa altura mesmo entre os “democráticos”, e as diferentes posições existentes entre os católicos, que iam dos católicos monárquicos ao Centro Católico e aos católicos republicanos. A participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial e os pontificados de Bento XV e depois de Pio XI, retomando a política de “ralliement” à República de Leão XIII, e a capacidade de reinvenção demonstrada pela Igreja Católica, de que o autor, nos vai deixando algumas notas, tiveram também uma importância decisiva.
Infelizmente, parece-me também demonstrada a última das conclusões de Luís Salgado Matos. “A questão religiosa foi central na vida e morte da Primeira República. Os extremos ganharam. Era uma vitória dispensável.”
Na síntese de D. Manuel Clemente “A leitura (…) evidencia recortes e matizes de pessoas e grupos que geralmente, foram apresentados em blocos monocromáticos e estanques, de parte a parte.”
São inúmeras as posições que foram sendo assumidas, de Afonso Costa a Sidónio Pais, passando por António José de Almeida, Pimenta de Castro ou António Maria da Silva, até ao 28 de Maio.
A Igreja Católica e os católicos, mas também os partidos republicanos, a Carbonária e a Maçonaria demonstraram ser instituições e realidades mais plurais nesta matéria do que por vezes se supõe.
Naturalmente que, entre a prática da separação consagrada na Primeira República e a situação actualmente existente nesta matéria, foi muito e muito contraditório, o caminho percorrido.
Esperemos que outras obras de igual fôlego prossigam este trabalho relativamente ao Estado Novo e à democracia construída no pós-25 de Abril até à aprovação a Lei da Liberdade Religiosa (2001) e à nova Concordata (2004).
Concorde-se ou não com todas as teses defendidas por Luís Salgado de Matos, este é, sem sombra de dúvida, um livro imprescindível para todos os que se interessam pelo processo histórico de construção da liberdade de consciência, religião e culto em Portugal e a separação do Estado e da Igreja, de que analisa um período decisivo.
Para saber mais sobre esta questão recomendo que coloque o site Estado e Igreja, que pode consultar aqui , entre os seus favoritos.
domingo, agosto 14, 2011
A MORADA DE SER DE NINA CLARA TIESLER
Nina Clara Tiesler é autora de estudos imprescindíveis para compreender a nova presença islâmica (NPI) em Portugal. O seu profundo conhecimento da nova presença islâmica em Portugal é também visível neste livro, em que teve em conta, designadamente, não só a acção de Suleiman Valy Mamede, mas também, por exemplo, os" diálogos pessoais" com Abdool-Karim Vakil.
A publicação da sua tese de doutoramento defendida em 2006 na Universidade de Leibniz, Hannover, em livro intitulado em português, A Morada de Ser, Muçulmanos na Europa e políticas de identidade reveste-se por isso de particular significado e é um livro de referência não apenas para académicos, mas para os agentes políticos e os cidadãos conscientes.
De notar desde logo a qualidade da tradução em português, que se deve aos tradutores João Barrento, Guilherme Dutschke e Rui Cabral e à revisora de tradução Fátima Dias, reconhecida expressamente pela autora.
Nina Clara Tiesler “defende a tese de que as políticas de identidade das minorias muçulmanas na Europa constituem uma reacção às das maiorias societais não muçulmanas. O contexto histórico e desenvolvimental destas novas experiências societais e subjectivas, que se reflectem nas polémicas de identidade, é a Europa. No cerne dos debates, das lutas de poder e das considerações sobre as subjectividades colectivas (formuladas como “identidades”) encontram-se conceitos de espaço e de pertença)”.
Por outras palavras o livro é uma resposta à questão, o que é que os muçulmanos europeus chamam casa. Nina Clara Tiesler parte na sua análise do conceito de Morada do Ser, que filia no “heimat” de Ernst Bloch.
É um livro muito informado e inteligente, que ensaia uma resposta aprofundada a esta questão.
A experiência com que estão confrontados os muçulmanos europeus é o de viver como muçulmano, em minoria, num território que não é terra do Islão, o que coloca desafios à própria forma de compreender a ligação à Umma, à comunidade dos crentes na Europa, para lá da distinção tradicional entre dar-al-Islam (casa do Islão) e dar al-Harb (casa da guerra).
Nina Clara Tiesler conclui: “Os muçulmanos são parte integrante das sociedades europeias. São cidadãos europeus e a maior parte deles não tem outra terra concreta além desta (…) A Europa como local de vida e Morada do Ser para os muçulmanos não se podia explicar através de categorias islâmicas. Tariq Ramadan chamou-lhe espaço de profissão da fé. A sua popularidade também se baseia nisto: ele acabou com a procura do conceito que é utilizado quando as velhas terras e certezas se perdem”.
A conclusão deste livro é um ponto de chegada e simultaneamente um novo ponto de partida para novos estudos, que permitam perceber a complexidade da realidade dos muçulmanos na Europa, entre a exclusão e a cidadania, como referi aqui, que continua a modificar-se num contexto marcado pela crise e por reacções islamofobas, pelas novas experiências de transição democrática emergentes em sociedades de maioria islâmica do Norte de África e do Médio Oriente,
Os muçulmanos na Europa são uma realidade plural, não podendo ser descritos de forma essencializada como uma comunidade, ou um conjunto de comunidades homogéneas. Os imigrantes provenientes de sociedades de maioria islâmica confrontam-se com culturas europeias diversificadas, mas também com outros muçulmanos com tradições culturais, históricas e espirituais e práticas muito diversificadas.
Creio que teremos de partir para a análise da situação dos muçulmanos na Europa de um conceito alargado, em termos idênticos ao que adoptaríamos se quiséssemos estudar, por exemplo, a situação dos cristãos luteranos, dos hindus ou dos judeus, e não de categorias islâmicas.
Categorias como muçulmanos não praticantes ou muçulmanos culturais ou non-muslim muslim são conceitos que têm de ser questionados antes de ser utilizados, porque correm o risco de ter um efeito performativo.
Será útil conjugar estudos de conjunto como este livro incontornável de Nina Clara Tiesler, que coloca a questão num contexto europeu, com estudos detalhados da presença islâmica nos diferentes países europeus, como os que a autora tem feito com grande rigor sobre a nova presença islâmica em Portugal, como podem ver aqui.
A publicação da sua tese de doutoramento defendida em 2006 na Universidade de Leibniz, Hannover, em livro intitulado em português, A Morada de Ser, Muçulmanos na Europa e políticas de identidade reveste-se por isso de particular significado e é um livro de referência não apenas para académicos, mas para os agentes políticos e os cidadãos conscientes.
De notar desde logo a qualidade da tradução em português, que se deve aos tradutores João Barrento, Guilherme Dutschke e Rui Cabral e à revisora de tradução Fátima Dias, reconhecida expressamente pela autora.
Nina Clara Tiesler “defende a tese de que as políticas de identidade das minorias muçulmanas na Europa constituem uma reacção às das maiorias societais não muçulmanas. O contexto histórico e desenvolvimental destas novas experiências societais e subjectivas, que se reflectem nas polémicas de identidade, é a Europa. No cerne dos debates, das lutas de poder e das considerações sobre as subjectividades colectivas (formuladas como “identidades”) encontram-se conceitos de espaço e de pertença)”.
Por outras palavras o livro é uma resposta à questão, o que é que os muçulmanos europeus chamam casa. Nina Clara Tiesler parte na sua análise do conceito de Morada do Ser, que filia no “heimat” de Ernst Bloch.
É um livro muito informado e inteligente, que ensaia uma resposta aprofundada a esta questão.
A experiência com que estão confrontados os muçulmanos europeus é o de viver como muçulmano, em minoria, num território que não é terra do Islão, o que coloca desafios à própria forma de compreender a ligação à Umma, à comunidade dos crentes na Europa, para lá da distinção tradicional entre dar-al-Islam (casa do Islão) e dar al-Harb (casa da guerra).
Nina Clara Tiesler conclui: “Os muçulmanos são parte integrante das sociedades europeias. São cidadãos europeus e a maior parte deles não tem outra terra concreta além desta (…) A Europa como local de vida e Morada do Ser para os muçulmanos não se podia explicar através de categorias islâmicas. Tariq Ramadan chamou-lhe espaço de profissão da fé. A sua popularidade também se baseia nisto: ele acabou com a procura do conceito que é utilizado quando as velhas terras e certezas se perdem”.
A conclusão deste livro é um ponto de chegada e simultaneamente um novo ponto de partida para novos estudos, que permitam perceber a complexidade da realidade dos muçulmanos na Europa, entre a exclusão e a cidadania, como referi aqui, que continua a modificar-se num contexto marcado pela crise e por reacções islamofobas, pelas novas experiências de transição democrática emergentes em sociedades de maioria islâmica do Norte de África e do Médio Oriente,
Os muçulmanos na Europa são uma realidade plural, não podendo ser descritos de forma essencializada como uma comunidade, ou um conjunto de comunidades homogéneas. Os imigrantes provenientes de sociedades de maioria islâmica confrontam-se com culturas europeias diversificadas, mas também com outros muçulmanos com tradições culturais, históricas e espirituais e práticas muito diversificadas.
Creio que teremos de partir para a análise da situação dos muçulmanos na Europa de um conceito alargado, em termos idênticos ao que adoptaríamos se quiséssemos estudar, por exemplo, a situação dos cristãos luteranos, dos hindus ou dos judeus, e não de categorias islâmicas.
Categorias como muçulmanos não praticantes ou muçulmanos culturais ou non-muslim muslim são conceitos que têm de ser questionados antes de ser utilizados, porque correm o risco de ter um efeito performativo.
Será útil conjugar estudos de conjunto como este livro incontornável de Nina Clara Tiesler, que coloca a questão num contexto europeu, com estudos detalhados da presença islâmica nos diferentes países europeus, como os que a autora tem feito com grande rigor sobre a nova presença islâmica em Portugal, como podem ver aqui.
sexta-feira, julho 22, 2011
FRANCISCO ASSIS - REFUNDAR O PS E CONSTRUIR UMA ALTERNATIVA CREDÍVEL
O Partido Socialista perdeu as eleições legislativas num contexto de grave crise económica e financeira, a nível nacional e internacional, depois de um período em que o debate político a nível interno e a abertura do partido à sociedade foram secundarizados em nome das urgências da governação.
Muitos cidadãos encaram com inquietação o futuro, assistem à degradação da sua qualidade de vida, encontram-se desempregados ou em situação precária, sentem que estamos perante uma crise sistémica de evolução imprevisível e que há necessidade de debate e de análise em tempo real da evolução da situação nacional e internacional.
Estamos, além disso, sujeitos ao agravamento dos juros da dívida soberana portuguesa e da de outros países, com destaque para a Grécia, com reflexos na situação portuguesa e limitados pelo memorando da troika e pelas hesitações e ausência de estratégia eficaz por parte da União Europeia.
Nunca foi tão exigente liderar a oposição socialista. Não é uma questão meramente de simpatia ou de marketing, mas de contínua análise exigente da governação e de apresentação de propostas com substância e portadoras de uma alternativa sustentável.
Está em causa escolher o melhor dos candidatos para exercer as funções de Secretário-Geral do Partido Socialista.
É para mim evidente que o melhor é Francisco Assis, pela coragem, pela cultura, pela visão política, pela competência com que tem exercido as funções que lhe têm sido confiadas, desde a Câmara de Amarante, ao Parlamento Europeu e como líder parlamentar na Assembleia da República. Francisco Assis age com frontalidade, com lealdade e sabe que só é vencido quem desiste de lutar. A forma como Francisco Assis liderou com lealdade, eficácia e independência de espírito o Grupo Parlamentar do Partido Socialista capacita-o para o exercício dessas funções.
Neste contexto difícil é necessário valorizar a identidade histórica do PS, os contributos que tem dado para a modernização da sociedade portuguesa, para a construção de uma sociedade, mais livre, mais justa e mais igualitária, mas não hesitar em promover as rupturas necessárias para construir o futuro.
Para isso é necessário refundar o PS, como tem sido defendido por Francisco Assis e Mário Soares, e construir uma alternativa credível.
Para refundar o PS é necessário, como tem defendido Francisco Assis, devolver o partido aos militantes, estimulando a sua participação no quotidiano da vida partidária. Não se pode também deixar de abrir sem hesitação o PS à sociedade, criando condições para que os simpatizantes e votantes do PS se juntem aos militantes socialistas na escolha, nomeadamente, dos candidatos a presidentes de câmaras municipais nas próximas eleições locais. É imprescindível dialogar com os cidadãos que defendem o progresso social: nas universidades, no sindicalismo, nas redes e movimentos sociais.
Não se pode continuar a assistir à aliança da direita a nível autárquico, perante uma esquerda incapaz de se entender. Francisco Assis propõe-se apoiar o diálogo à esquerda, a construção de soluções eleitorais que favoreçam condições de governabilidade à esquerda no poder local, seguindo um caminho já aberto por Jorge Sampaio.
Construir uma alternativa credível passa por apostar na força das ideias do socialismo democrático e da social-democracia, na nossa capacidade de formular novas políticas públicas, novas propostas alternativas que respondam, nomeadamente, às necessidades de desenvolvimento económico e de articulação do Estado Estratega, do Estado Social e do sistema de relações laborais. Os critérios do universalismo e da cidadania têm uma tradução na concepção dos serviços públicos, que devem permanecer públicos, de acesso universal tendencialmente gratuito e de qualidade, como defende Francisco Assis na sua moção A Força das Ideias.
Creio que para refundar o PS, devolvendo-o aos militantes e abrindo-o à sociedade, para construir uma alternativa credível, para merecer ganhar de novo a confiança da maioria dos portugueses, precisamos de Francisco Assis, como Secretário-Geral do PS.
Editado no jornal Público, 22/07/2011, p.41
Muitos cidadãos encaram com inquietação o futuro, assistem à degradação da sua qualidade de vida, encontram-se desempregados ou em situação precária, sentem que estamos perante uma crise sistémica de evolução imprevisível e que há necessidade de debate e de análise em tempo real da evolução da situação nacional e internacional.
Estamos, além disso, sujeitos ao agravamento dos juros da dívida soberana portuguesa e da de outros países, com destaque para a Grécia, com reflexos na situação portuguesa e limitados pelo memorando da troika e pelas hesitações e ausência de estratégia eficaz por parte da União Europeia.
Nunca foi tão exigente liderar a oposição socialista. Não é uma questão meramente de simpatia ou de marketing, mas de contínua análise exigente da governação e de apresentação de propostas com substância e portadoras de uma alternativa sustentável.
Está em causa escolher o melhor dos candidatos para exercer as funções de Secretário-Geral do Partido Socialista.
É para mim evidente que o melhor é Francisco Assis, pela coragem, pela cultura, pela visão política, pela competência com que tem exercido as funções que lhe têm sido confiadas, desde a Câmara de Amarante, ao Parlamento Europeu e como líder parlamentar na Assembleia da República. Francisco Assis age com frontalidade, com lealdade e sabe que só é vencido quem desiste de lutar. A forma como Francisco Assis liderou com lealdade, eficácia e independência de espírito o Grupo Parlamentar do Partido Socialista capacita-o para o exercício dessas funções.
Neste contexto difícil é necessário valorizar a identidade histórica do PS, os contributos que tem dado para a modernização da sociedade portuguesa, para a construção de uma sociedade, mais livre, mais justa e mais igualitária, mas não hesitar em promover as rupturas necessárias para construir o futuro.
Para isso é necessário refundar o PS, como tem sido defendido por Francisco Assis e Mário Soares, e construir uma alternativa credível.
Para refundar o PS é necessário, como tem defendido Francisco Assis, devolver o partido aos militantes, estimulando a sua participação no quotidiano da vida partidária. Não se pode também deixar de abrir sem hesitação o PS à sociedade, criando condições para que os simpatizantes e votantes do PS se juntem aos militantes socialistas na escolha, nomeadamente, dos candidatos a presidentes de câmaras municipais nas próximas eleições locais. É imprescindível dialogar com os cidadãos que defendem o progresso social: nas universidades, no sindicalismo, nas redes e movimentos sociais.
Não se pode continuar a assistir à aliança da direita a nível autárquico, perante uma esquerda incapaz de se entender. Francisco Assis propõe-se apoiar o diálogo à esquerda, a construção de soluções eleitorais que favoreçam condições de governabilidade à esquerda no poder local, seguindo um caminho já aberto por Jorge Sampaio.
Construir uma alternativa credível passa por apostar na força das ideias do socialismo democrático e da social-democracia, na nossa capacidade de formular novas políticas públicas, novas propostas alternativas que respondam, nomeadamente, às necessidades de desenvolvimento económico e de articulação do Estado Estratega, do Estado Social e do sistema de relações laborais. Os critérios do universalismo e da cidadania têm uma tradução na concepção dos serviços públicos, que devem permanecer públicos, de acesso universal tendencialmente gratuito e de qualidade, como defende Francisco Assis na sua moção A Força das Ideias.
Creio que para refundar o PS, devolvendo-o aos militantes e abrindo-o à sociedade, para construir uma alternativa credível, para merecer ganhar de novo a confiança da maioria dos portugueses, precisamos de Francisco Assis, como Secretário-Geral do PS.
Editado no jornal Público, 22/07/2011, p.41
domingo, junho 05, 2011
UM DEUS QUE DANÇA
(Rua da Prata, 108 - junto à Igreja de São Nicolau)
Com a presença do autor, José Tolentino Mendonça, o prefaciador,Luís Miguel Cintra, e o ilustrador, João Norton
Com a presença do autor, José Tolentino Mendonça, o prefaciador,Luís Miguel Cintra, e o ilustrador, João Norton
Um Deus que Dança – Itinerários para a Oração é, no contexto das obras de José Tolentino Mendonça, um caso particular – porque o seu conteúdo não foi pensado, originalmente, para ser lido, mas para ser escutado.
A primeira parte – “Livro das Pausas” – é constituída por um conjunto de meditações intituladas Sete Pausas na Beleza, inspiradas em sete textos bíblicos e compostas para acompanhar o Verão dos milhares de internautas que usam diariamente o site http://www.passo-a-rezar.net/. A segunda parte – “Livro dos Andamentos” – consta de orações poéticas lidas, ao longo de meses, aos microfones da Rádio Renascença.
Na obra agora publicada, estes dois conjuntos integram-se harmoniosamente, constituindo um itinerário orante para o quotidiano da vida cristã. Sem perderem a sonoridade própria do registo áudio para que foram criados, ganham uma força nova, própria da palavra escrita, a que faz inteira justiça o Prefácio de Luís Miguel Cintra, intitulado Oração: “Porque mais do que palavras julgo que a oração é um estado. Um estado de humildade e um estado de alegria”.As orações são ilustradas por João Norton e o livro é acompanhado por um CD gratuito, com as Sete Pausas na Beleza, como foram apresentadas no site antes referido, ditas pelos actores Susana Arrais e Pedro Granger. O leitor tem, assim, a oportunidade de descobrir, por si, a força dos textos ditos e o poder da palavra escrita...
Passo a rezar aqui.
A primeira parte – “Livro das Pausas” – é constituída por um conjunto de meditações intituladas Sete Pausas na Beleza, inspiradas em sete textos bíblicos e compostas para acompanhar o Verão dos milhares de internautas que usam diariamente o site http://www.passo-a-rezar.net/. A segunda parte – “Livro dos Andamentos” – consta de orações poéticas lidas, ao longo de meses, aos microfones da Rádio Renascença.
Na obra agora publicada, estes dois conjuntos integram-se harmoniosamente, constituindo um itinerário orante para o quotidiano da vida cristã. Sem perderem a sonoridade própria do registo áudio para que foram criados, ganham uma força nova, própria da palavra escrita, a que faz inteira justiça o Prefácio de Luís Miguel Cintra, intitulado Oração: “Porque mais do que palavras julgo que a oração é um estado. Um estado de humildade e um estado de alegria”.As orações são ilustradas por João Norton e o livro é acompanhado por um CD gratuito, com as Sete Pausas na Beleza, como foram apresentadas no site antes referido, ditas pelos actores Susana Arrais e Pedro Granger. O leitor tem, assim, a oportunidade de descobrir, por si, a força dos textos ditos e o poder da palavra escrita...
Passo a rezar aqui.
domingo, maio 29, 2011
A ESQUERDA QUER GANHAR AS ELEIÇÕES?
No momento em que se inicia a última semana de campanha eleitoral quero deixar claro as razões porque entendo que não apenas os socialistas, mas o povo de esquerda, em geral, deve votar no PS.
É para todos evidente que o que está em causa é a possibilidade da vitória do PS ou a vitória do PSD. É a possibilidade de defender o essencial do Estado Social, que construímos duramente depois do 25 de Abril e com o qual o PS está comprometido aqui e de impedirmos a privatização das Águas de Portugal, da Caixa Geral de Depósitos e da RTP. Quem tiver dúvidas, basta reler o projecto de revisão constitucional e o programa eleitoral do PSD.
A defesa do Estado Social não depende do BE ou da CDU elegerem mais ou menos deputados, mas depende do PS ter mais deputados que o PSD. Aliás, a CDU e o BE seguiram uma estratégia de fragilização da esquerda, e devem ser punidos por isso pelo eleitorado de esquerda. Primeiro, uniram-se à direita para derrubar o governo do PS, sem que tivessem condições para construir qualquer alternativa ou fossem capazes de apresentar qualquer programa comum. Nada está mais afastado politicamente que as propostas de governo patriótico de esquerda da CDU e um federalismo europeu imaginário defendido pelo BE.
O BE e a CDU têm como ambição para estas eleições apenas ganhar alguns deputados à custa do PS repetindo à exaustão o ataque ao memorando de entendimento entre o Governo Português e o FMI, a União Europeia e o Banco Central Europeu. O que é importante recordar é que foi o chumbo do PEC IV, que obrigou a este acordo.
O BE e a CDU, ao contrário do PS, da UGT, e mesmo da CGTP-IN, não contribuíram para estabelecer balizas a esse acordo, porque não deram qualquer contributo útil por demissão e falta de comparência. Essa negociação foi uma luta dura face às pressões da Direita que pretendia aproveitá-la para consagrar a liquidação do Estado Social. O BE e a CDU não demonstraram ter capacidades de negociação para defenderem Portugal nesta crise, mas isso não os impede de acenarem com uma nova negociação imaginária.
Os cidadãos que consideram que o PS terá de ser desafiado a reequacionar políticas, que é necessário discutir políticas públicas e novas propostas à esquerda, não podem iludir-se. Esse debate é possível e necessário, mas só será viável se o PS ganhar as eleições. Se o PS as perder o que restará à esquerda serão lutas defensivas e derrotas anunciadas face à concretização do desmantelamento do Estado Social na saúde, na educação, na segurança social, na legislação sobre despedimentos se existir uma maioria de Direita.
Nada tenho, em abstracto, contra a CDU ou o BE, tirando o facto da minha opção ser outra, o PS. Considero que as alianças autárquicas em Lisboa entre o PS e a CDU, foram muito positivas para desenvolver boas políticas para a Cidade. Foi positiva a colaboração com o BE na candidatura presidencial de Manuel Alegre, mas a estratégia seguida depois disso pelo BE provocou uma ruptura total com os socialistas. O BE, de forma oportunista e com uma grande ingenuidade julgou que podia manipular uma parte do eleitorado socialista contra o PS aproveitando as dificuldades causadas pela crise.
Os permanentes apelos do coordenador do BE aos eleitores socialistas, terão como resposta um virar de costas de muitos eleitores, que perceberam que o BE não ambiciona ser parte numa solução de esquerda para o País, mas apenas em ter mais deputados, mas não representa qualquer verdadeira alternativa de poder e de transformação social.
Nestas eleições só há uma forma da esquerda ganhar as eleições. Só o pode fazer votando no PS, porque só PS pode derrotar o PSD e o seu programa de desmantelamento do Estado Social, porque o PS continua a ser, como afirmou Manuel Alegre aqui “a melhor garantia da defesa da escola pública, do SNS, da protecção dos trabalhadores nas leis laborais, dos valores da tolerância.”, o único partido capaz de vencer a crise e manter aberto o caminho da construção de um País mais livre, mais solidário, mais justo, que assegure maior igualdade oportunidades a todos sem discriminações.
É para todos evidente que o que está em causa é a possibilidade da vitória do PS ou a vitória do PSD. É a possibilidade de defender o essencial do Estado Social, que construímos duramente depois do 25 de Abril e com o qual o PS está comprometido aqui e de impedirmos a privatização das Águas de Portugal, da Caixa Geral de Depósitos e da RTP. Quem tiver dúvidas, basta reler o projecto de revisão constitucional e o programa eleitoral do PSD.
A defesa do Estado Social não depende do BE ou da CDU elegerem mais ou menos deputados, mas depende do PS ter mais deputados que o PSD. Aliás, a CDU e o BE seguiram uma estratégia de fragilização da esquerda, e devem ser punidos por isso pelo eleitorado de esquerda. Primeiro, uniram-se à direita para derrubar o governo do PS, sem que tivessem condições para construir qualquer alternativa ou fossem capazes de apresentar qualquer programa comum. Nada está mais afastado politicamente que as propostas de governo patriótico de esquerda da CDU e um federalismo europeu imaginário defendido pelo BE.
O BE e a CDU têm como ambição para estas eleições apenas ganhar alguns deputados à custa do PS repetindo à exaustão o ataque ao memorando de entendimento entre o Governo Português e o FMI, a União Europeia e o Banco Central Europeu. O que é importante recordar é que foi o chumbo do PEC IV, que obrigou a este acordo.
O BE e a CDU, ao contrário do PS, da UGT, e mesmo da CGTP-IN, não contribuíram para estabelecer balizas a esse acordo, porque não deram qualquer contributo útil por demissão e falta de comparência. Essa negociação foi uma luta dura face às pressões da Direita que pretendia aproveitá-la para consagrar a liquidação do Estado Social. O BE e a CDU não demonstraram ter capacidades de negociação para defenderem Portugal nesta crise, mas isso não os impede de acenarem com uma nova negociação imaginária.
Os cidadãos que consideram que o PS terá de ser desafiado a reequacionar políticas, que é necessário discutir políticas públicas e novas propostas à esquerda, não podem iludir-se. Esse debate é possível e necessário, mas só será viável se o PS ganhar as eleições. Se o PS as perder o que restará à esquerda serão lutas defensivas e derrotas anunciadas face à concretização do desmantelamento do Estado Social na saúde, na educação, na segurança social, na legislação sobre despedimentos se existir uma maioria de Direita.
Nada tenho, em abstracto, contra a CDU ou o BE, tirando o facto da minha opção ser outra, o PS. Considero que as alianças autárquicas em Lisboa entre o PS e a CDU, foram muito positivas para desenvolver boas políticas para a Cidade. Foi positiva a colaboração com o BE na candidatura presidencial de Manuel Alegre, mas a estratégia seguida depois disso pelo BE provocou uma ruptura total com os socialistas. O BE, de forma oportunista e com uma grande ingenuidade julgou que podia manipular uma parte do eleitorado socialista contra o PS aproveitando as dificuldades causadas pela crise.
Os permanentes apelos do coordenador do BE aos eleitores socialistas, terão como resposta um virar de costas de muitos eleitores, que perceberam que o BE não ambiciona ser parte numa solução de esquerda para o País, mas apenas em ter mais deputados, mas não representa qualquer verdadeira alternativa de poder e de transformação social.
Nestas eleições só há uma forma da esquerda ganhar as eleições. Só o pode fazer votando no PS, porque só PS pode derrotar o PSD e o seu programa de desmantelamento do Estado Social, porque o PS continua a ser, como afirmou Manuel Alegre aqui “a melhor garantia da defesa da escola pública, do SNS, da protecção dos trabalhadores nas leis laborais, dos valores da tolerância.”, o único partido capaz de vencer a crise e manter aberto o caminho da construção de um País mais livre, mais solidário, mais justo, que assegure maior igualdade oportunidades a todos sem discriminações.
domingo, maio 01, 2011
DAS SOCIEDADES HUMANAS ÀS SOCIEDADES ARTIFICIAIS
Dia 3 de Maio de 2011, terça-feira, no CNC (Centro Nacional de Cultura), das 18.30 às 20,00h, na Rua António Maria Cardoso, n.º68, Lisboa (metro:Baixa-Chiado), apresentação do livro Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais de Porfírio Silva, pelo Prof. Pedro Lima, ISR- Instituto de Sistemas e Robótica, Professor do Instituto Superior Técnico. Edição: Âncora Editora. Estará presente o Dr. Guilherme d’ Oliveira Martins, Presidente do CNC.
“Este livro é sobre a possibilidade de que as sociedades em que vivemos sofram determinadas transformações que tornem apropriado dizer que são sociedades artificiais”.
Porfírio Silva é licenciado e mestre em Filosofia. Doutorou-se em Epistemologia e Filosofia das Ciências, em 2007, com uma tese sobre as ciências do artificial como ciências do humano. Foi Investigador Visitante no Institut Supérieur de Philosophie, da Université Catholique de Louvain e na Faculdade de Filosofia da Universidade Complutense de Madrid. Actualmente é Investigador no Instituto de Sistemas e Robótica (pólo do Instituto Superior Técnico). Aí têm sido organizador de Ciclos de Conferências com o título genérico Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais, actividade multidisciplinar que vai em 2011 para a terceira edição como pode ver aqui. Publicou anteriormente: A Filosofia da Ciência de Paul Feyrabend (1998, Piaget), e A Cibernética: Onde os Reinos se Fundem (2007, Quasi).
Porfírio Silva é o autor do Blogue Machina Specularix e sobre este evento pode ver mais no Facebook aqui.
“Este livro é sobre a possibilidade de que as sociedades em que vivemos sofram determinadas transformações que tornem apropriado dizer que são sociedades artificiais”.
Porfírio Silva é licenciado e mestre em Filosofia. Doutorou-se em Epistemologia e Filosofia das Ciências, em 2007, com uma tese sobre as ciências do artificial como ciências do humano. Foi Investigador Visitante no Institut Supérieur de Philosophie, da Université Catholique de Louvain e na Faculdade de Filosofia da Universidade Complutense de Madrid. Actualmente é Investigador no Instituto de Sistemas e Robótica (pólo do Instituto Superior Técnico). Aí têm sido organizador de Ciclos de Conferências com o título genérico Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais, actividade multidisciplinar que vai em 2011 para a terceira edição como pode ver aqui. Publicou anteriormente: A Filosofia da Ciência de Paul Feyrabend (1998, Piaget), e A Cibernética: Onde os Reinos se Fundem (2007, Quasi).
Porfírio Silva é o autor do Blogue Machina Specularix e sobre este evento pode ver mais no Facebook aqui.
domingo, abril 24, 2011
DESIGN ATRÁS DAS GRADES
No dia 25 de Abril, estreia na RTP 2, às 19h15 do novo filme-documentário de Margarida Leitão (ver aqui e aqui) Design Atrás das Grades.
Design Atrás das Grades junta o improvável: prisões e design, num mundo que procura um futuro sustentável. Do pequeno estúdio de costura do Estabelecimento Prisional de Tires sai uma mistura de idiomas, aqui são produzidas as consagradas malas La.ga. Vikki, uma reclusa romena, diz que o tempo que passa na “fábrica” voa. Como as La.ga, as mulheres também saem das prisões com um carimbo. Seguimos a sua luta para melhorar e fortalecer as suas vidas em Portugal, dentro de Tires, e na Venezuela, onde a ex-reclusa Yanetzi continua a coser.
Design Atrás das Grades junta o improvável: prisões e design, num mundo que procura um futuro sustentável. Do pequeno estúdio de costura do Estabelecimento Prisional de Tires sai uma mistura de idiomas, aqui são produzidas as consagradas malas La.ga. Vikki, uma reclusa romena, diz que o tempo que passa na “fábrica” voa. Como as La.ga, as mulheres também saem das prisões com um carimbo. Seguimos a sua luta para melhorar e fortalecer as suas vidas em Portugal, dentro de Tires, e na Venezuela, onde a ex-reclusa Yanetzi continua a coser.
sexta-feira, abril 22, 2011
CONFERÊNCIAS DE MAIO DO CRC 2011
CONCÍLIO-REVISITÁ-LO E PENSAR O FUTURO
2 de Maio - O mundo mudado depois do Vaticano II
Eduardo Lourenço
P. José Tolentino de Mendonça
9 de Maio -Como organizar a Igreja - com que estruturas e ministérios?
Fr. Bento Domingues,o.p.
Emília Nadal
16 de Maio - As questões não resolvidas
Pedro Mexia
António Marujo
23 de Maio - Como continuar o Vaticano II ?
Manuela Silva
P. Peter Stilwell
Horário: 18h30m
Local: Lago do Picadeiro, 10, Lisboa - Metro: Baixa:Chiado
Organização: Centro de Reflexão Cristã
2 de Maio - O mundo mudado depois do Vaticano II
Eduardo Lourenço
P. José Tolentino de Mendonça
9 de Maio -Como organizar a Igreja - com que estruturas e ministérios?
Fr. Bento Domingues,o.p.
Emília Nadal
16 de Maio - As questões não resolvidas
Pedro Mexia
António Marujo
23 de Maio - Como continuar o Vaticano II ?
Manuela Silva
P. Peter Stilwell
Horário: 18h30m
Local: Lago do Picadeiro, 10, Lisboa - Metro: Baixa:Chiado
Organização: Centro de Reflexão Cristã
quarta-feira, abril 20, 2011
A SITUAÇÃO NO JAPÃO E O NUCLEAR
Os cidadãos japoneses e os cidadãos estrangeiros residentes no Japão, entre os quais muitos portugueses e brasileiros, enfrentaram, com coragem e com determinação invulgares, um conjunto de cataclismos desde o primeiro terramato, ao tsunami que e lhe seguiu, bem como o conjunto de sismos de menor intensidade, que se têm verificado.
Temos muito a aprender com elevada organização social japonesa, com a forma como através da aplicação efectiva de medidas anti-sísmicas nas construções, conseguiram diminuir o impacto destruidor dos sismos, como se verificou na Cidade de Tóquio.
Não podemos também deixar de retirar as devidas conclusões da situação de alerta de catástrofe, que se mantém na Central Nuclear de Fukushima Dailichi.
Temos motivos para nos congratulamos pelo facto de Portugal ter optado por promover a utilização das energias renováveis e continuar a recusar a opção nuclear
Saudamos por isso o facto da Assembleia Municipal de Lisboa, onde estão representados o PS, o PSD, o PCP, o CDS/PP, o BE, o MPT, PPM, o Partido Ecologista “Os Verdes” e deputados Independentes, eleitos nas listas do PS, ter aprovado no dia 19 de Abril, por unanimidade, a seguinte moção, que apresentei conjuntamente com o Líder da Bancada do PS, Miguel Coelho.
Temos muito a aprender com elevada organização social japonesa, com a forma como através da aplicação efectiva de medidas anti-sísmicas nas construções, conseguiram diminuir o impacto destruidor dos sismos, como se verificou na Cidade de Tóquio.
Não podemos também deixar de retirar as devidas conclusões da situação de alerta de catástrofe, que se mantém na Central Nuclear de Fukushima Dailichi.
Temos motivos para nos congratulamos pelo facto de Portugal ter optado por promover a utilização das energias renováveis e continuar a recusar a opção nuclear
Saudamos por isso o facto da Assembleia Municipal de Lisboa, onde estão representados o PS, o PSD, o PCP, o CDS/PP, o BE, o MPT, PPM, o Partido Ecologista “Os Verdes” e deputados Independentes, eleitos nas listas do PS, ter aprovado no dia 19 de Abril, por unanimidade, a seguinte moção, que apresentei conjuntamente com o Líder da Bancada do PS, Miguel Coelho.
A SITUAÇÃO NO JAPÃO
Considerando que o Japão tem sido vítima de um conjunto de graves acidentes naturais desde o primeiro tremor de terra, ocorrido em 11 de Março de 2011, a que se seguiu um tsunami e novos sismos e que os japoneses e, em geral todos os cidadãos residentes no Japão, têm enfrentado a situação com extraordinária coragem e uma imensa dignidade;
Considerando que a comunidade internacional deve primeiro que tudo homenagear as vítimas, e ser solidária com o povo japonês, manifestando-lhe o seu respeito e os laços de amizade, que os japoneses designam por “kizuna”;
Considerando que a comunidade internacional e as cidades globais como Lisboa, devem exaltar todos os cuidados para fazer face a cataclismos, que as cidades como Tóquio têm tomado, nomeadamente, a criação de estruturas anti-sísmicas que, apesar da imprevista intensidade e violência dos abalos e do tsunami, limitaram, de alguma forma o seu alcance devastador;
Considerando que apesar do tempo decorrido, para além dos sismos que ainda se têm verificado, se mantém uma grave ameaça nuclear na Central Nuclear de Fukushima Dailichi;
Considerando que, apesar dos enormes esforços desenvolvidos pelos responsáveis japoneses e da cooperação científica internacional, se tem revelado ser muito difícil fazer face com sucesso aos graves riscos que as centrais nucleares fazem sentir sobre a qualidade do solo, da água, com consequências a nível internacional, levando países como a Alemanha a ordenar o encerramento de várias centrais nucleares;
A Assembleia Municipal de Lisboa reunida em assembleia ordinária em 19 de Abril de 2011, decide:
1-Manifestar o respeito, solidariedade e os laços de amizade que nos ligam ao povo japonês e aos cidadãos estrangeiros residentes no Japão, que foram sujeitos a crises naturais de rara violência, que provocaram milhares de mortos, feridos e um imenso sofrimento e que têm dado provas de uma enorme determinação, coragem e dignidade no enfrentar da situação.
2-Reafirmar a importância que atribui à implementação da legislação anti- sísmica em matéria de construções, que demonstraram no caso de Tóquio, poderem contribuir para diminuir o impacto dos tremores de terra, e de todas as medidas que reforcem a eficácia dos sistemas de protecção civil.
3-Congratular-se pela sistemática recusa em Portugal da opção pelo nuclear cujos riscos se revelam extremamente elevados, mesmo em países com grande desenvolvimento tecnológico e com um elevado grau de organização social como o Japão, e pela aposta nas energias renováveis.
4-Reafirmar a importância da Cidade de Lisboa continuar a promover a eficiência energética e a apoiar a utilização das energias renováveis.
Considerando que o Japão tem sido vítima de um conjunto de graves acidentes naturais desde o primeiro tremor de terra, ocorrido em 11 de Março de 2011, a que se seguiu um tsunami e novos sismos e que os japoneses e, em geral todos os cidadãos residentes no Japão, têm enfrentado a situação com extraordinária coragem e uma imensa dignidade;
Considerando que a comunidade internacional deve primeiro que tudo homenagear as vítimas, e ser solidária com o povo japonês, manifestando-lhe o seu respeito e os laços de amizade, que os japoneses designam por “kizuna”;
Considerando que a comunidade internacional e as cidades globais como Lisboa, devem exaltar todos os cuidados para fazer face a cataclismos, que as cidades como Tóquio têm tomado, nomeadamente, a criação de estruturas anti-sísmicas que, apesar da imprevista intensidade e violência dos abalos e do tsunami, limitaram, de alguma forma o seu alcance devastador;
Considerando que apesar do tempo decorrido, para além dos sismos que ainda se têm verificado, se mantém uma grave ameaça nuclear na Central Nuclear de Fukushima Dailichi;
Considerando que, apesar dos enormes esforços desenvolvidos pelos responsáveis japoneses e da cooperação científica internacional, se tem revelado ser muito difícil fazer face com sucesso aos graves riscos que as centrais nucleares fazem sentir sobre a qualidade do solo, da água, com consequências a nível internacional, levando países como a Alemanha a ordenar o encerramento de várias centrais nucleares;
A Assembleia Municipal de Lisboa reunida em assembleia ordinária em 19 de Abril de 2011, decide:
1-Manifestar o respeito, solidariedade e os laços de amizade que nos ligam ao povo japonês e aos cidadãos estrangeiros residentes no Japão, que foram sujeitos a crises naturais de rara violência, que provocaram milhares de mortos, feridos e um imenso sofrimento e que têm dado provas de uma enorme determinação, coragem e dignidade no enfrentar da situação.
2-Reafirmar a importância que atribui à implementação da legislação anti- sísmica em matéria de construções, que demonstraram no caso de Tóquio, poderem contribuir para diminuir o impacto dos tremores de terra, e de todas as medidas que reforcem a eficácia dos sistemas de protecção civil.
3-Congratular-se pela sistemática recusa em Portugal da opção pelo nuclear cujos riscos se revelam extremamente elevados, mesmo em países com grande desenvolvimento tecnológico e com um elevado grau de organização social como o Japão, e pela aposta nas energias renováveis.
4-Reafirmar a importância da Cidade de Lisboa continuar a promover a eficiência energética e a apoiar a utilização das energias renováveis.
domingo, abril 17, 2011
AGENDA CULTURAL (46)
A SEPARAÇÃO DO ESTADO E DA IGREJA de LUÍS SALGADO MATOS apresentado por MÁRIO SOARES terça-feira, dia 19 de Abril de 2011, às 18h30 no Auditório da Fundação Mário Soares Rua de S.Bento,166-1200-821 Lisboa _________________________ apresentado por DOM MANUEL CLEMENTE quarta-feira, dia 20 de Abril de 2011, às 18h30 no Palácio da Bolsa- Porto
FERREL, CHERNOBYL E FUKUSHIMA
Passaram trinta e cinco na passada terça-feira desde que em 12 de Abril de 1976 os habitantes de Ferrel se rebelaram contra a possibilidade de aí se construir a primeira central nuclear portuguesa, como recordou a Gazetas das Caldas aqui. A existência de uma fractura sísmica na zona de Ferrel juntou-se aos restantes argumentos contra os perigos da energia nuclear. Nessa altura os defensores do nuclear sublinharam os progressos tecnológicos verificados, que em sua opinião tornavam segura a opção pelo nuclear. Passados anos, o trágico acidente nuclear, ocorrido em 26 de Abril de 1986, em Chernobyl, veio demonstrar que a segurança afirmada era manifestamente exagerada. Posteriormente os defensores do nuclear passaram, de novo, ao ataque. O seu grande argumento consiste no enorme desenvolvimento tecnológico que se verificou desde Chernobyl que teria tornado ainda mais seguras as centrais nucleares. A sucessão de trágicos acontecimentos que se têm verificado no Japão, veio demonstrar, com clareza, as ameaças que a opção nuclear implica para a vida, segurança e saúde dos cidadãos. Como sublinhava o Expresso neste fim-de-semana: “…mais de um mês depois do terramoto e do tsunami (…) o nível de alerta da catástrofe de Fukushima Daiichi passou de cinco para sete, devido à quantidade de produtos radioactivos já libertados na atmosfera”, que corresponde ao máximo da escala de segurança, “o que significa simplesmente que a situação está fora de controle, à semelhança do que aconteceu em Chernobyl e que não se podem ainda prever as consequências da actual situação. Ninguém ignora que são invulgares as situações de desastre natural que contribuíram para esta situação. Também não podemos ignorar a evolução tecnológica, a cooperação científica e tecnológica que se tem verificado para apoiar os responsáveis japoneses, nem o elevado nível de organização social que se verifica no Japão. Apesar disso e do tempo já decorrido a situação permanece com a gravidade que se conhece. Não foi, por acaso, que Angela Merkel mandou encerrar um conjunto de centrais nucleares e que tantos milhares de cidadãos promovem no Facebook uma campanha contra a utilização do nuclear a nível da Europa exigindo um referendo sobre esta matéria. Portugal está numa posição privilegiada, porque os governos socialistas de José Sócrates não só têm recusado a opção pelo nuclear, como têm estimulado o desenvolvimento das energias renováveis (eólica, fotovoltaica) e da energia hídrica. Portugal é hoje um exemplo a seguir, um país em que o consume de electricidade renovável proveniente dos pequenos produtores descentralizados é maior do que o das grandes centrais térmicas a carvão e a gás natural. Neste momento de depressão, provocada pela crise da dívida soberana, é fundamental ter consciência que esta é uma marca de desenvolvimento sustentável baseado em fontes alternativas de energia. É verdade que a produção de energia renovável tem sido subsidiada por todos nós através das facturas de electricidade, mas os subsídios estão a diminuir e deixarão de existir a partir de 1029. Não se pode ignorar, além disso, que a aposta nas renováveis tem diminuído a nossa dependência energética e os gastos na compra de energia ao exterior, tendo permitido gastar menos 800 milhões de euros na importação de energia em 2010. Também não podemos ignorar as conclusões de uma simulação de um acidente nuclear como o de Fukushima, realizada na Escola Prática de Engenharia do Exército, em Tancos, um acidente em Portugal. Segundo o Público, de 17/04/2011l, concluiu-se que a radioactividade chegaria a 12 mil Km2, afectaria 1,6 milhões de pessoas em 48 horas, dos quais 1671 teriam de receber cuidados de saúde. Os riscos e os custos da energia nuclear têm sido sistematicamente subestimados. É lamentável que só acidentes como o de Fukushima obriguem a opinião pública a tê-los em conta. Nesta matéria é sintomática a forma como se esquecem no dia-a-dia os riscos e os custos do armazenamento dos resíduos nucleares. É significativo, que no mesmo jornal, Carlos Pimenta, ex-Secretário de Estado do Ambiente, recorde que uma fuga grave de radioactividade na central nuclear espanhola de Almaraz, o tenho levado nessa altura a quase ordenar o corte do abastecimento de água a Lisboa. Por tudo isto devemos recordar a revolta dos habitantes de Ferrel e saudá-la, bem como, o facto dos governos socialistas de José Sócrates, como já referimos, terem sempre apoiado o desenvolvimento das energias renováveis e recusado a opção pelo nuclear.
sábado, março 19, 2011
DIA MUNDIAL PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÂO RACIAL
Realiza-se no dia 21 de Março um Seminário no âmbito das Celebrações do Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial promovido pela CICDR- Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, que terá lugar
no Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL) - Picoas Plaza - Lisboa com o seguinte Programa
Acolhimento dos Participantes 9h30
Sessão de Abertura 9h45 / 10h15
Rosário Farmhouse, Alta-Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural
e Presidente da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial
Pedro Silva Pereira, Ministro da Presidência
Apresentação e Discussão do Estudo do Observatório
da Imigração: Discursos do Racismo em Portugal 10h15 / 11h00
Moderadora:
Catarina Reis Oliveira,
Coordenadora do Gabinete de Estudos e Relações Internacionais do ACIDI
Autores do estudo:
Edite Rosário, Tiago Santos e Silvia Lima
Debate 10h45
Pausa para Café 11h00 / 11h15
Painel Técnico Jurídico:
Leis da Discriminação Racial em Portugal 11h15 / 13h00
Moderador:
Vasco Malta, Jurista do ACIDI
Gonçalo Matias, Professor da Universidade Católica Portuguesa
Mário Manuel Varges Gomes, Juiz Conselheiro/Inspector Geral da Administração Interna
António Samara, Vice-Presidente do Conselho Geral da Ordem dos Advogados
José Leitão, Advogado
Debate 12h30
Pausa para Almoço 13h00 / 15h00
15h00 / 16h15 Painel Temático I:
Combate à xenofobia e racismo no local de trabalho
Moderadora:
Celeste Correia, Deputada da Assembleia da República e Conselheira da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial
Carlos Trindade, Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP)
Catarina Tavares, União Geral dos Trabalhadores (UGT)
António Vergueiro, Confederação da Indústria Portuguesa (CIP)
Pedro Almeida Freire, Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP)
Carlos Montemor (ACT - Autoridade para as Condições do Trabalho)
16:15 Debate
16h15 / 16h30 Pausa para café
16h30 / 18h00 Painel Temático II:
Racismo em Portugal: Mito ou realidade?
Moderadora:
Rosário Farmhouse, Alta-Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural
e Presidente da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial
José Tolentino Mendonça, Professor da Universidade Católica Portuguesa
António Vitorino, Advogado e Mestre em Direito
Conceição Queiroz, Jornalista da TVI
17h30 Debate
18h00 Sessão de Encerramento
Rosário Farmhouse
Alta-Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural e Presidente da Comissão para
Igualdade e contra a Discriminação Racial
no Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL) - Picoas Plaza - Lisboa com o seguinte Programa
Acolhimento dos Participantes 9h30
Sessão de Abertura 9h45 / 10h15
Rosário Farmhouse, Alta-Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural
e Presidente da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial
Pedro Silva Pereira, Ministro da Presidência
Apresentação e Discussão do Estudo do Observatório
da Imigração: Discursos do Racismo em Portugal 10h15 / 11h00
Moderadora:
Catarina Reis Oliveira,
Coordenadora do Gabinete de Estudos e Relações Internacionais do ACIDI
Autores do estudo:
Edite Rosário, Tiago Santos e Silvia Lima
Debate 10h45
Pausa para Café 11h00 / 11h15
Painel Técnico Jurídico:
Leis da Discriminação Racial em Portugal 11h15 / 13h00
Moderador:
Vasco Malta, Jurista do ACIDI
Gonçalo Matias, Professor da Universidade Católica Portuguesa
Mário Manuel Varges Gomes, Juiz Conselheiro/Inspector Geral da Administração Interna
António Samara, Vice-Presidente do Conselho Geral da Ordem dos Advogados
José Leitão, Advogado
Debate 12h30
Pausa para Almoço 13h00 / 15h00
15h00 / 16h15 Painel Temático I:
Combate à xenofobia e racismo no local de trabalho
Moderadora:
Celeste Correia, Deputada da Assembleia da República e Conselheira da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial
Carlos Trindade, Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP)
Catarina Tavares, União Geral dos Trabalhadores (UGT)
António Vergueiro, Confederação da Indústria Portuguesa (CIP)
Pedro Almeida Freire, Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP)
Carlos Montemor (ACT - Autoridade para as Condições do Trabalho)
16:15 Debate
16h15 / 16h30 Pausa para café
16h30 / 18h00 Painel Temático II:
Racismo em Portugal: Mito ou realidade?
Moderadora:
Rosário Farmhouse, Alta-Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural
e Presidente da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial
José Tolentino Mendonça, Professor da Universidade Católica Portuguesa
António Vitorino, Advogado e Mestre em Direito
Conceição Queiroz, Jornalista da TVI
17h30 Debate
18h00 Sessão de Encerramento
Rosário Farmhouse
Alta-Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural e Presidente da Comissão para
Igualdade e contra a Discriminação Racial
informações e inscrições - T: 21 810 61 70
com o apoio de: iniciativa promovida por:
seminarios@acidi.gov.pt
com o apoio de: iniciativa promovida por:
seminarios@acidi.gov.pt
quarta-feira, março 16, 2011
domingo, fevereiro 27, 2011
ENCONTRO HOMENAGEM A MARIA IOANNIS BAGANHA
10-Abertura-Comissão de Honra
Manuel Jarmela Palos-Director Nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
José Reis-Director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Pedro Hespanha-Director Executivo do Centro de Estudos Sociais
Rosário Farmhouse-Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural
Charles Buchanan-Administrador da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento
10h45-Primeiro Painel-Cidadania e Diversidade Cultural
Moderação:Joana de Sousa Ribeiro
Constança Urnano de Sousa-Imigração e ideal democrático de um "demos" inclusivo: os conceitos de estrangeiroo, nacionalidade e cidadania.
Lucinda Fonseca-Modelos de relacionamento e representação do espaço em três bairros multiétnicos de Lisboa: uma análise exploratória
David Justino-Portugal: migrações e dualismo social:uma perspectiva de longa duração
Rainer Baubok-(vídeo-comunicação) Acess to Citzenship: The Portuguese exception to European trends
11h45-Intervalo
12h00-Segundo Painel-Política de Imigração, Organização e Associativismo
Moderação:Pedro Goís
Ana Paula Beja Horta-Participação Política e Cívica dos Imigrantes na àrea Metropolitana de Lisboa
José Carlos Marques-Narrativas de gestão de fluxos: a política de imigração portuguesa
Margarida Marques-As intituições de origem imigrante enquanto agentes de articulação de interesses
Rinus Penninx-(vídeo-comunicação) A brief in Memoriam for Maria Ioannis Baganha by Rinus Penninx, Coordinator of the IMISCOE Research Network
13h00-Almoço
15h00-Terceiro Painel-Emigração, Imigração e Mercado de Trabalho
Moderação:Carlos Nolasco
Rui Pena Pires-Relações entre Emigração e Imigração em Portugal
João Peixoto-Imigração, Emprego e Mercado do Trabalho em Portugal: os dilemas do crescimento e o impacto da recessão
Jorge Malheiros-Um regfresso ao Futuro: Portugal, país de emigração
Han Entzinger-(vídeo-comunicação)- The PEMINT project revisited
16h00-Intervalo
Moderação: Maria João Guia
Graça Fonseca-Sobrerrepresentação de estrangeiros nas prisões e discriminação judicial: que relação?
José Leitão-A protecção contra o racismo e a discriminação racial de estrangeiros e imigrantes
Maria Engrácia Leandro-A saúde dos imigrantes em terra estrangeira
Joaquín Arango-(vídeo-comunicação) Working with Maria Baganha on immigration in Southern Europe: a pleasure and a privilege
17h30-Sessão de Encerramento
MARIA IOANNIS BAGANHA(momento de homenagem através da video-comunicação de 2007)- Gestão de fluxos : um processo de aprendizagem lenta na UE
DALILA ARAÚJO-Secretária de Estado da Administração Interna
domingo, fevereiro 20, 2011
O TESOURO ESCONDIDO DE JOSÉ TOLENTINO DE MENDONÇA
Já tive oportunidade de falar aqui da poesia de José Tolentino de Mendonça como uma poesia inclusiva e fraterna.
Quero hoje falar de O Tesouro Escondido, livro recentemente publicado e que inaugura a nova colecção Poéticas do Viver Crente editada pela Paulinas Editora. Tem como subtítulo Para uma arte da procura interior e é um livro de espiritualidade bíblica de um crente que vive numa permanente atitude de procura interior e de diálogo com a cultura contemporânea.
Esse diálogo não significa silenciamento do que separa a visão cristã do mundo das meras opiniões, verdades parciais e provisórias, de paixões, aparências e modas. A vida não são cascas de cebola, para usar a sua metáfora, modos de ver, perspectivas. A visão cristã identifica-se mais com uma batata, na qual “… mesmo escondida por uma crosta ou por um véu, está uma realidade que é substanciosa e vital”.
O começo deste livro recordou-me um polemista católico muito conhecido Chesterton, que, aliás, nunca é citado, mas este não é um livro de polémica cultural. As tentações de cinismo e desleixo no que se refere à vida espiritual não se manifestam apenas nos outros, mas dentro de nós. É sobretudo, um convite a “adentrarmo-nos” na busca de Deus, para além de uma espiritualidade vaga com que muitas vezes nos contentamos. O livro inquieta-nos, desinstala-nos dos nossos comodismos e ideias feitas, para nos colocar numa atitude de procura do tesouro escondido.
É um livro de iniciação espiritual, que nos convida a fazer silêncio dentro de nós, a reaprendermos a arte da procura, acendendo a luz, varrendo as poeiras e desordens que se acumularam na nossa vida, a caminho da alegria da reconciliação.
Esta espiritualidade radica na Bíblia, mas tem em conta os contributos de escritores, intelectuais e pensadores contemporâneos, como Simone Weil, Sophia de Mello Breyner Andresen, Bento XVI, T.S. Eliot, Paul Claudel, Etty Hilleseum, Soren Kierkegaard, Dietrich Bonhoeffer, Erri de Luca, passando pela tradição mística de S. João da Cruz e do peregrino russo, a Charles de Foucauld.
Lê-se sem dificuldade, mas coloca-nos perante as nossas questões vitais, convidando-nos, nomeadamente, a reconciliarmo-nos com a beleza e a rezar até à impossibilidade de rezar.
É um livro de bolso, para ler e voltar a ler, modificando a ordem dos capítulos. Não é um texto literário, apesar de estar muito bem escrito, é um alimento espiritual, que nos desafia a vivermos dando a vida, a contrariarmos o individualismo dominante, a entendermos “a nossa vida como serviço e dedicação aos irmãos”, pois “Nós só perdemos aquilo que não damos”. A sua leitura é sempre situada e feita a partir da “circunstância” de cada um para usar a expressão de Ortega y Gasset.
A nossa vida é uma paisagem onde Deus se vê, como diz José Tolentino de Mendonça, que acrescenta “cada vida é única, há algo de único que cada um pode testemunhar sobre Deus”.
Como livro de espiritualidade dá um lugar central à oração e ao encontro com Deus para quem temos de reservar “em cada dia um quinhão para Deus e Deus só”. Não nos iludamos, não podemos dedicar a Deus uma parte do nosso tempo e vivermos o resto do tempo como se Deus não existisse.
José Tolentino de Mendonça é muito claro: “A oração cristã é ser e estar diante de Deus, colocar-se por inteiro e continuamente diante da sua presença, com uma atenção vigilante Áquele que nos convida a um diálogo sem cesuras”.
Este livro pode ser considerado a contra-corrente relativamente a algumas tendências culturais que marcam a nossa pós-modernidade, como é evidente desde logo na metáfora da cebola e da batata com que se inicia, ou na critica do individualismo com que termina, mas é sobretudo um livro que nos põe em questão, que nos convida à conversão, o que é bem mais exigente.
A dificuldade de rezar, de aceitar e dar perdão fica bem evidente nas palavras do escritor italiano Erri Luca no livro Caroço de azeitona que cita: “… Não posso admitir ser perdoado, não sei perdoar aquilo que cometi. Eis as minhas palavras de tropeço, pelas quais permaneço fora da comunidade dos crentes”.
É por não escamotear que “na oração, em todas as vidas existem limites e pedras de tropeço” que José Tolentino de Mendonça é credível quando nos incita a procurar o tesouro escondido, “o próprio amor de Deus”, e nos diz que ele está ao alcance dos que o procuram, de cada um de nós.
Quero hoje falar de O Tesouro Escondido, livro recentemente publicado e que inaugura a nova colecção Poéticas do Viver Crente editada pela Paulinas Editora. Tem como subtítulo Para uma arte da procura interior e é um livro de espiritualidade bíblica de um crente que vive numa permanente atitude de procura interior e de diálogo com a cultura contemporânea.
Esse diálogo não significa silenciamento do que separa a visão cristã do mundo das meras opiniões, verdades parciais e provisórias, de paixões, aparências e modas. A vida não são cascas de cebola, para usar a sua metáfora, modos de ver, perspectivas. A visão cristã identifica-se mais com uma batata, na qual “… mesmo escondida por uma crosta ou por um véu, está uma realidade que é substanciosa e vital”.
O começo deste livro recordou-me um polemista católico muito conhecido Chesterton, que, aliás, nunca é citado, mas este não é um livro de polémica cultural. As tentações de cinismo e desleixo no que se refere à vida espiritual não se manifestam apenas nos outros, mas dentro de nós. É sobretudo, um convite a “adentrarmo-nos” na busca de Deus, para além de uma espiritualidade vaga com que muitas vezes nos contentamos. O livro inquieta-nos, desinstala-nos dos nossos comodismos e ideias feitas, para nos colocar numa atitude de procura do tesouro escondido.
É um livro de iniciação espiritual, que nos convida a fazer silêncio dentro de nós, a reaprendermos a arte da procura, acendendo a luz, varrendo as poeiras e desordens que se acumularam na nossa vida, a caminho da alegria da reconciliação.
Esta espiritualidade radica na Bíblia, mas tem em conta os contributos de escritores, intelectuais e pensadores contemporâneos, como Simone Weil, Sophia de Mello Breyner Andresen, Bento XVI, T.S. Eliot, Paul Claudel, Etty Hilleseum, Soren Kierkegaard, Dietrich Bonhoeffer, Erri de Luca, passando pela tradição mística de S. João da Cruz e do peregrino russo, a Charles de Foucauld.
Lê-se sem dificuldade, mas coloca-nos perante as nossas questões vitais, convidando-nos, nomeadamente, a reconciliarmo-nos com a beleza e a rezar até à impossibilidade de rezar.
É um livro de bolso, para ler e voltar a ler, modificando a ordem dos capítulos. Não é um texto literário, apesar de estar muito bem escrito, é um alimento espiritual, que nos desafia a vivermos dando a vida, a contrariarmos o individualismo dominante, a entendermos “a nossa vida como serviço e dedicação aos irmãos”, pois “Nós só perdemos aquilo que não damos”. A sua leitura é sempre situada e feita a partir da “circunstância” de cada um para usar a expressão de Ortega y Gasset.
A nossa vida é uma paisagem onde Deus se vê, como diz José Tolentino de Mendonça, que acrescenta “cada vida é única, há algo de único que cada um pode testemunhar sobre Deus”.
Como livro de espiritualidade dá um lugar central à oração e ao encontro com Deus para quem temos de reservar “em cada dia um quinhão para Deus e Deus só”. Não nos iludamos, não podemos dedicar a Deus uma parte do nosso tempo e vivermos o resto do tempo como se Deus não existisse.
José Tolentino de Mendonça é muito claro: “A oração cristã é ser e estar diante de Deus, colocar-se por inteiro e continuamente diante da sua presença, com uma atenção vigilante Áquele que nos convida a um diálogo sem cesuras”.
Este livro pode ser considerado a contra-corrente relativamente a algumas tendências culturais que marcam a nossa pós-modernidade, como é evidente desde logo na metáfora da cebola e da batata com que se inicia, ou na critica do individualismo com que termina, mas é sobretudo um livro que nos põe em questão, que nos convida à conversão, o que é bem mais exigente.
A dificuldade de rezar, de aceitar e dar perdão fica bem evidente nas palavras do escritor italiano Erri Luca no livro Caroço de azeitona que cita: “… Não posso admitir ser perdoado, não sei perdoar aquilo que cometi. Eis as minhas palavras de tropeço, pelas quais permaneço fora da comunidade dos crentes”.
É por não escamotear que “na oração, em todas as vidas existem limites e pedras de tropeço” que José Tolentino de Mendonça é credível quando nos incita a procurar o tesouro escondido, “o próprio amor de Deus”, e nos diz que ele está ao alcance dos que o procuram, de cada um de nós.
domingo, fevereiro 13, 2011
O PCP, O BE E AS MOÇÕES DE CENSURA AO GOVERNO
Às recentes notícias sobre o apoio do PCP a uma eventual moção de censura do PSD, que entusiasmou Marcelo Rebelo de Sousa, seguiu-se o anúncio por parte de Francisco Louçã de que do BE irá apresentar uma moção de censura.
O Governo e o PS reagiram naturalmente alertando para os custos graves que a instabilidade política faria pagar ao País, designadamente no que se refere à difícil situação económica e financeira.
É natural e legítimo que outros partidos, designadamente, o PCP e o BE que têm programas e agendas políticas muito diferentes do Governo do PS, tenham divergências profundas relativamente às políticas prosseguidas pelo Governo em várias áreas. Têm inúmeros meios de manifestar essas posições e inclusive de procurar modificar as suas políticas. Não é admissível é que recorram à arma final da moção de censura que, a ser aprovada, abriria caminho à queda do Governo.
Como afirmou Manuel Alegre aqui “Não quero acreditar que um partido de esquerda, por muito grandes que sejam as suas divergências, esteja interessado em substituir este governo por um de direita”. Manuel Alegre colocou o dedo na ferida. O eleitorado socialista, mesmo aquele que se não reconhece nalgumas políticas do Governo do PS não perdoará a nenhum partido de esquerda que seja “muleta da direita” para abrir caminho a um governo da direita.
Não são, contudo, apenas os socialistas que assim reagem, são militantes e eleitores bloquistas e comunistas, é, em geral, o povo da esquerda. A posição do PCP tem vindo a ser objecto de “clarificações”, sendo a imprensa acusada de a ter deturpado, como se pode ver aqui.
A iniciativa da apresentação de uma moção de censura por parte do BE é ainda mais incompreensível e irresponsável. Tenho lido na Internet muitos comentários críticos de eleitores e militantes do BE, como este aqui.
Esta posição do BE produziu já efeitos negativos, descredibilizou o BE como um partido com que o PS possa vir a contar para discutir políticas públicas, para fazer parte de uma esquerda que governe.
É significativo que os socialistas que sempre criticaram qualquer possibilidade de diálogo e colaboração com o BE, vieram não apenas recordar o contributo negativo que o BE está a dar para a evolução dos juros da dívida soberana, mas também a impossibilidade de colaboração entre os dois partidos, como podem ver aqui. Francisco Louçã deu uma mão aos que sempre consideraram que só o PSD é um parceiro possível.
O desemprego, a precariedade, as desigualdades sociais, a legislação laboral, o funcionamento do sistema de justiça, e muitas outras, são questões fundamentais que tem que estar na agenda do debate político à esquerda, mas não podemos fazer de contas que não existe o problema do desequilíbrio orçamental, que podemos pura e simplesmente ignorar o contexto europeu, mesmo quando defendemos a necessidade de ser duro na defesa dos interesses nacionais e dos trabalhadores portugueses, na negociação do novo quadro institucional que está a emergir tendo como ponto de partida e pretexto os problemas que o euro enfrenta.
Também no que se refere aos debates duros que se travam neste momento na União Europeia em torno do euro e da evolução institucional, o anúncio da apresentação da moção pelo BE, é totalmente irresponsável.
A moção do BE só pode vir a ser, como escreveu Daniel Oliveira no Expresso de 12/02/2011 “pueril ou irresponsável”. Muitos no BE, e em geral na(s) esquerda(s) se a moção for aprovada não lhe perdoarão que dessa forma tenha aberto o caminho “à direita mais extremista que já esteve na iminência de vencer eleições em Portugal”.
Como foi sublinhado por André Freire aqui “O BE é co-responsável por aquilo que chama «a maioria orçamental» / «as políticas de direita»(…)”. Em primeiro lugar, temos um sistema político desequilibrado: a direita (PSD vs CDS) é capaz de cooperar; a esquerda (PS vs BE e PCP) não, nunca foi, excepto em questões marginais da luta política.
(…) o sistema partidário nasceu inclinado para a esquerda, mas vive enviesado para a direita”
Não tinha que ser assim, não tem que ser assim.
O Governo e o PS reagiram naturalmente alertando para os custos graves que a instabilidade política faria pagar ao País, designadamente no que se refere à difícil situação económica e financeira.
É natural e legítimo que outros partidos, designadamente, o PCP e o BE que têm programas e agendas políticas muito diferentes do Governo do PS, tenham divergências profundas relativamente às políticas prosseguidas pelo Governo em várias áreas. Têm inúmeros meios de manifestar essas posições e inclusive de procurar modificar as suas políticas. Não é admissível é que recorram à arma final da moção de censura que, a ser aprovada, abriria caminho à queda do Governo.
Como afirmou Manuel Alegre aqui “Não quero acreditar que um partido de esquerda, por muito grandes que sejam as suas divergências, esteja interessado em substituir este governo por um de direita”. Manuel Alegre colocou o dedo na ferida. O eleitorado socialista, mesmo aquele que se não reconhece nalgumas políticas do Governo do PS não perdoará a nenhum partido de esquerda que seja “muleta da direita” para abrir caminho a um governo da direita.
Não são, contudo, apenas os socialistas que assim reagem, são militantes e eleitores bloquistas e comunistas, é, em geral, o povo da esquerda. A posição do PCP tem vindo a ser objecto de “clarificações”, sendo a imprensa acusada de a ter deturpado, como se pode ver aqui.
A iniciativa da apresentação de uma moção de censura por parte do BE é ainda mais incompreensível e irresponsável. Tenho lido na Internet muitos comentários críticos de eleitores e militantes do BE, como este aqui.
Esta posição do BE produziu já efeitos negativos, descredibilizou o BE como um partido com que o PS possa vir a contar para discutir políticas públicas, para fazer parte de uma esquerda que governe.
É significativo que os socialistas que sempre criticaram qualquer possibilidade de diálogo e colaboração com o BE, vieram não apenas recordar o contributo negativo que o BE está a dar para a evolução dos juros da dívida soberana, mas também a impossibilidade de colaboração entre os dois partidos, como podem ver aqui. Francisco Louçã deu uma mão aos que sempre consideraram que só o PSD é um parceiro possível.
O desemprego, a precariedade, as desigualdades sociais, a legislação laboral, o funcionamento do sistema de justiça, e muitas outras, são questões fundamentais que tem que estar na agenda do debate político à esquerda, mas não podemos fazer de contas que não existe o problema do desequilíbrio orçamental, que podemos pura e simplesmente ignorar o contexto europeu, mesmo quando defendemos a necessidade de ser duro na defesa dos interesses nacionais e dos trabalhadores portugueses, na negociação do novo quadro institucional que está a emergir tendo como ponto de partida e pretexto os problemas que o euro enfrenta.
Também no que se refere aos debates duros que se travam neste momento na União Europeia em torno do euro e da evolução institucional, o anúncio da apresentação da moção pelo BE, é totalmente irresponsável.
A moção do BE só pode vir a ser, como escreveu Daniel Oliveira no Expresso de 12/02/2011 “pueril ou irresponsável”. Muitos no BE, e em geral na(s) esquerda(s) se a moção for aprovada não lhe perdoarão que dessa forma tenha aberto o caminho “à direita mais extremista que já esteve na iminência de vencer eleições em Portugal”.
Como foi sublinhado por André Freire aqui “O BE é co-responsável por aquilo que chama «a maioria orçamental» / «as políticas de direita»(…)”. Em primeiro lugar, temos um sistema político desequilibrado: a direita (PSD vs CDS) é capaz de cooperar; a esquerda (PS vs BE e PCP) não, nunca foi, excepto em questões marginais da luta política.
(…) o sistema partidário nasceu inclinado para a esquerda, mas vive enviesado para a direita”
Não tinha que ser assim, não tem que ser assim.
domingo, fevereiro 06, 2011
NUNO TEOTÓNIO PEREIRA - UM CIDADÃO GENEROSO E EXEMPLAR
Nuno Teotónio Pereira, como afirmou Jorge Sampaio na homenagem que ontem, lhe foi promovida na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, não é apropriável por ninguém e por nenhum grupo em particular.
Chamo a vossa atenção para o relato desta iniciativa por José Pedro Castanheira no Expresso online aqui.
Foi bom ver tanta e tão variada gente, vinda de todo o país para lhe testemunhar a amizade, a gratidão que lhe têm e para festejar com ele muitos combates que travaram ao seu lado e que contribuíram para o aprofundamento e consolidação da democracia.
Nem poderia ser de outra maneira se pensarmos que toda a vida tem sido um cidadão generoso e exemplar, inspirando e participando nas mais diversas iniciativas, como foi referido, por Joana Lopes, Jorge Sampaio, Mário Brochado Coelho e Júlio Pereira.
Nuno Teotónio Pereira continua a inspirar-nos, com os seus 89 anos, para não aceitarmos tudo o que de intolerável estraga a vida de tantos cidadãos, tendo-nos dito: “Apelo a todos para que, em conjunto ou individualmente, façam o que for necessário, mesmo com risco, para abar com situações de clamorosa desumanidade que existem no nosso país, muitas vezes ao nosso lado”.
A homenagem de ontem a Nuno Teotónio Pereira que pretendeu ser também alargada às gerações que animaram as cooperativas culturais Pragma (Lisboa) e Confronto (Porto), centrou-se, particularmente no seu empenhamento na luta democrática e anticolonial nas últimas décadas da ditadura, o que levou à prisão de Caxias, onde se encontrava no dia 25 de Abril de 1974.
Na sessão de homenagem foi lançado por Mário Brochado Coelho o livro “Confronto - Memória de uma Cooperativa Cultural, Porto 1966-1972”, com a qual Nuno Teotónio Pereira, que foi dirigente da Pragma também colaborou.
A homenagem teve lugar na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, de que foram autores os arquitectos Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira e que podem conhecer melhor aqui.
Nuno Teotónio Pereira que teve um papel de destaque no MRAR (Movimento de Renovação da Arte Religiosa), que não foi um movimento só de arquitectos, mas também de pintores e de músicos, como referiu no colóquio em que participou no CRC (Centro de Reflexão Cristã) aqui.
Nuno Teotónio Pereira foi responsável por edifícios que marcam a imagem de Lisboa, como, por exemplo, o edifício de habitação na Rua General Silva Freire, n.º 55 a 55 A, Olivais Norte, com António Pinto Freitas - Prémio Valmor, 1976, o edifício de escritórios e comércio na Rua Braancamp n.º 9, em Lisboa, conhecido por Franjinhas, com João Braula Reis - Prémio Valmor, 1971, e a já referida Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Com Nuno Portas - Prémio Valmor, 1975. Foi por isso com inteira justiça que António Costa lhe entregou a Medalha de Mérito Municipal da Câmara Municipal de Lisboa - Grau Ouro e vai editar um conjunto de textos e artigos da sua autoria mais um contributo como arquitecto e cidadão para esta cidade que tanto ama.
Permitam-me uma reflexão mais pessoal, Nuno Teotónio Pereira é um cidadão comprometido, totalmente alheio à lógica de carreira política, que tem levado tantos à abdicação das suas convicções. Sendo um excelente profissional, que foi dirigente do MES (Movimento de Esquerda Socialista) é hoje um discreto, mas empenhado militante do Partido Socialista. Seria natural que a importância do seu contributo fosse reconhecida por parte dos seus camaradas. Assim não aconteceu até hoje, com excepção de Jorge Sampaio e António Costa, que enquanto Presidentes da Câmara Municipal de Lisboa sempre valorizaram o seu contributo como arquitecto e cidadão. Nuno Teotónio Pereira continuou a participar com naturalidade em processos internos de debate e eleição que visaram reforçar a cidadania dos militantes, mesmo sabendo que muitos desses combates não seriam vitoriosos.
Nuno Teotónio Pereira é um cidadão generoso e empenhado, um homem bom e justo e por isso divulgar o seu trajecto profissional, cívico, e cultural, é não só um acto de justiça, mas de oportuna e necessária pedagogia política.
Chamo a vossa atenção para o relato desta iniciativa por José Pedro Castanheira no Expresso online aqui.
Foi bom ver tanta e tão variada gente, vinda de todo o país para lhe testemunhar a amizade, a gratidão que lhe têm e para festejar com ele muitos combates que travaram ao seu lado e que contribuíram para o aprofundamento e consolidação da democracia.
Nem poderia ser de outra maneira se pensarmos que toda a vida tem sido um cidadão generoso e exemplar, inspirando e participando nas mais diversas iniciativas, como foi referido, por Joana Lopes, Jorge Sampaio, Mário Brochado Coelho e Júlio Pereira.
Nuno Teotónio Pereira continua a inspirar-nos, com os seus 89 anos, para não aceitarmos tudo o que de intolerável estraga a vida de tantos cidadãos, tendo-nos dito: “Apelo a todos para que, em conjunto ou individualmente, façam o que for necessário, mesmo com risco, para abar com situações de clamorosa desumanidade que existem no nosso país, muitas vezes ao nosso lado”.
A homenagem de ontem a Nuno Teotónio Pereira que pretendeu ser também alargada às gerações que animaram as cooperativas culturais Pragma (Lisboa) e Confronto (Porto), centrou-se, particularmente no seu empenhamento na luta democrática e anticolonial nas últimas décadas da ditadura, o que levou à prisão de Caxias, onde se encontrava no dia 25 de Abril de 1974.
Na sessão de homenagem foi lançado por Mário Brochado Coelho o livro “Confronto - Memória de uma Cooperativa Cultural, Porto 1966-1972”, com a qual Nuno Teotónio Pereira, que foi dirigente da Pragma também colaborou.
A homenagem teve lugar na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, de que foram autores os arquitectos Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira e que podem conhecer melhor aqui.
Nuno Teotónio Pereira que teve um papel de destaque no MRAR (Movimento de Renovação da Arte Religiosa), que não foi um movimento só de arquitectos, mas também de pintores e de músicos, como referiu no colóquio em que participou no CRC (Centro de Reflexão Cristã) aqui.
Nuno Teotónio Pereira foi responsável por edifícios que marcam a imagem de Lisboa, como, por exemplo, o edifício de habitação na Rua General Silva Freire, n.º 55 a 55 A, Olivais Norte, com António Pinto Freitas - Prémio Valmor, 1976, o edifício de escritórios e comércio na Rua Braancamp n.º 9, em Lisboa, conhecido por Franjinhas, com João Braula Reis - Prémio Valmor, 1971, e a já referida Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Com Nuno Portas - Prémio Valmor, 1975. Foi por isso com inteira justiça que António Costa lhe entregou a Medalha de Mérito Municipal da Câmara Municipal de Lisboa - Grau Ouro e vai editar um conjunto de textos e artigos da sua autoria mais um contributo como arquitecto e cidadão para esta cidade que tanto ama.
Permitam-me uma reflexão mais pessoal, Nuno Teotónio Pereira é um cidadão comprometido, totalmente alheio à lógica de carreira política, que tem levado tantos à abdicação das suas convicções. Sendo um excelente profissional, que foi dirigente do MES (Movimento de Esquerda Socialista) é hoje um discreto, mas empenhado militante do Partido Socialista. Seria natural que a importância do seu contributo fosse reconhecida por parte dos seus camaradas. Assim não aconteceu até hoje, com excepção de Jorge Sampaio e António Costa, que enquanto Presidentes da Câmara Municipal de Lisboa sempre valorizaram o seu contributo como arquitecto e cidadão. Nuno Teotónio Pereira continuou a participar com naturalidade em processos internos de debate e eleição que visaram reforçar a cidadania dos militantes, mesmo sabendo que muitos desses combates não seriam vitoriosos.
Nuno Teotónio Pereira é um cidadão generoso e empenhado, um homem bom e justo e por isso divulgar o seu trajecto profissional, cívico, e cultural, é não só um acto de justiça, mas de oportuna e necessária pedagogia política.
A fotografia de Nuno Teotónio Pereira foi retirada do blogue do CRC.
domingo, janeiro 30, 2011
DA MONARQUIA À REPÚBLICA - CARTAS PORTUGUESAS DE ROMOLO MURRI
A participação política de católicos a título pessoal, de acordo com a sua consciência, em diferentes partidos políticos é hoje encarada como um dado natural, que não suscita emoção, nem sequer especial reflexão.
Os problemas que armadilharam e dificultaram essa participação política no passado foram ultrapassados, mas para que assim fosse muitos sofreram amargas incompreensões. Leigos ou padres, ao longo do século XX, lançaram as bases teológicas e filosóficas que a tornaram possível, antes e depois do Concílio Vaticano II.
Romolo Murri, notável pensador italiano, um dos pioneiros dessa participação, como o foi noutro tempo e modo, por exemplo, Jacques Maritain com a distinção entre agir como cristão e enquanto cristão.
As reflexões de Romolo Murri sobre a sociedade, a política e a Igreja em Portugal, resultante da sua visita a Portugal como correspondente do jornal La Stampa no limiar da queda da Monarquia e do advento da República, revestem-se de particular interesse por serem um olhar singular, de um intelectual católico e político italiano de esquerda.
A publicação pela primeira vez em português deste pequeno livro de Romolo Murri muito deve ao empenho e à qualidade profissional e académica de João Miguel Almeida, que tem publicado livros imprescindíveis para analisar a prática política dos católicos no século XX português. João Miguel Almeida faz preceder o texto de Romolo Murri de um ensaio, em que analisa com profundidade diferentes correntes de pensamento que atravessavam o catolicismo político português, a crise do rotativismo monárquico e a forma como Murri foi discutido pelos católicos portugueses na época.
Com a sua publicação disponibiliza-se uma fonte importante que “(…) contribui para o labor historiográfico, como desenvolvimento do conhecimento da realidade na sua complexidade”, como refere António Matos Ferreira, Director-adjunto do CEHR (Centro de Estudos de História Religiosa) da Universidade Católica Portuguesa.
Maurilio Guasco, Professor de História do Pensamento Político Contemporâneo na Universidadde de Piemonte Oriental; Itália., traça um retrato impressivo de “Romolo Murri: percurso de um crente, intelectual e político católico”.
Romolo Murri teve uma acção precursora durante o pontificado de Leão XIII, foi vítima das orientações políticas conservadoras de Pio X e foi excomungado, sob a acusação de modernista, apesar de ter sido sempre um pensador tomista, tendo acabado por se reconciliar plenamente com a Igreja graças à intervenção directa de Pio XII, que fora seu aluno. Romolo Murri pagou um preço muito elevado por ter sido pioneiro na defesa da intervenção política dos católicos sem sujeição à tutela eclesiástica e por defender a colaboração entre democratas-cristãos e socialistas.
Murri, aliás, nunca deixou de ser católico e de se considerar como tal. Maurilio Guasco cita as suas palavras depois da reconciliação: “O meu lugar na tradição e na vida espiritual e nas lutas de pensamento da sociedade a que pertenço está no catolicismo: e do catolicismo procurei sempre dar testemunho (…)”.
João Miguel Almeida tem razão quando afirma que “detecto ecos das questões levantadas por Rómulo Murri nos problemas que Francisco Lino Neto e Salgado Zenha enfrentaram na transição do Estado Novo para a democracia”. Os católicos democratas e oposicionistas como Francisco Lino Neto optaram por colaborar politicamente com uma geração de republicanos e socialistas, “como Salgado Zenha e Mário Soares, que se demarcaram da tradição anti-clerical” e aderiram ao Partido Socialista em vez de criarem um Partido Democrata-Cristão.
Estas opções, permitam-me que acrescente, marcaram profundamente o curso político pós 25 de Abril e contribuíram positivamente para o enraizamento sustentável do Partido Socialista, em comparação como outros congéneres europeus menos abertos à pluralidade de inspirações ideológicas.
Romolo Murri, quaisquer que tenham sido as limitações do seu pensamento, abriu um caminho que teria sido mais difícil de percorrer sem o seu contributo.
Como católico e socialista não posso deixar de considerar este livro uma leitura imprescindível, para os muitos milhares de católicos que têm feito uma opção política similar.
Os problemas que armadilharam e dificultaram essa participação política no passado foram ultrapassados, mas para que assim fosse muitos sofreram amargas incompreensões. Leigos ou padres, ao longo do século XX, lançaram as bases teológicas e filosóficas que a tornaram possível, antes e depois do Concílio Vaticano II.
Romolo Murri, notável pensador italiano, um dos pioneiros dessa participação, como o foi noutro tempo e modo, por exemplo, Jacques Maritain com a distinção entre agir como cristão e enquanto cristão.
As reflexões de Romolo Murri sobre a sociedade, a política e a Igreja em Portugal, resultante da sua visita a Portugal como correspondente do jornal La Stampa no limiar da queda da Monarquia e do advento da República, revestem-se de particular interesse por serem um olhar singular, de um intelectual católico e político italiano de esquerda.
A publicação pela primeira vez em português deste pequeno livro de Romolo Murri muito deve ao empenho e à qualidade profissional e académica de João Miguel Almeida, que tem publicado livros imprescindíveis para analisar a prática política dos católicos no século XX português. João Miguel Almeida faz preceder o texto de Romolo Murri de um ensaio, em que analisa com profundidade diferentes correntes de pensamento que atravessavam o catolicismo político português, a crise do rotativismo monárquico e a forma como Murri foi discutido pelos católicos portugueses na época.
Com a sua publicação disponibiliza-se uma fonte importante que “(…) contribui para o labor historiográfico, como desenvolvimento do conhecimento da realidade na sua complexidade”, como refere António Matos Ferreira, Director-adjunto do CEHR (Centro de Estudos de História Religiosa) da Universidade Católica Portuguesa.
Maurilio Guasco, Professor de História do Pensamento Político Contemporâneo na Universidadde de Piemonte Oriental; Itália., traça um retrato impressivo de “Romolo Murri: percurso de um crente, intelectual e político católico”.
Romolo Murri teve uma acção precursora durante o pontificado de Leão XIII, foi vítima das orientações políticas conservadoras de Pio X e foi excomungado, sob a acusação de modernista, apesar de ter sido sempre um pensador tomista, tendo acabado por se reconciliar plenamente com a Igreja graças à intervenção directa de Pio XII, que fora seu aluno. Romolo Murri pagou um preço muito elevado por ter sido pioneiro na defesa da intervenção política dos católicos sem sujeição à tutela eclesiástica e por defender a colaboração entre democratas-cristãos e socialistas.
Murri, aliás, nunca deixou de ser católico e de se considerar como tal. Maurilio Guasco cita as suas palavras depois da reconciliação: “O meu lugar na tradição e na vida espiritual e nas lutas de pensamento da sociedade a que pertenço está no catolicismo: e do catolicismo procurei sempre dar testemunho (…)”.
João Miguel Almeida tem razão quando afirma que “detecto ecos das questões levantadas por Rómulo Murri nos problemas que Francisco Lino Neto e Salgado Zenha enfrentaram na transição do Estado Novo para a democracia”. Os católicos democratas e oposicionistas como Francisco Lino Neto optaram por colaborar politicamente com uma geração de republicanos e socialistas, “como Salgado Zenha e Mário Soares, que se demarcaram da tradição anti-clerical” e aderiram ao Partido Socialista em vez de criarem um Partido Democrata-Cristão.
Estas opções, permitam-me que acrescente, marcaram profundamente o curso político pós 25 de Abril e contribuíram positivamente para o enraizamento sustentável do Partido Socialista, em comparação como outros congéneres europeus menos abertos à pluralidade de inspirações ideológicas.
Romolo Murri, quaisquer que tenham sido as limitações do seu pensamento, abriu um caminho que teria sido mais difícil de percorrer sem o seu contributo.
Como católico e socialista não posso deixar de considerar este livro uma leitura imprescindível, para os muitos milhares de católicos que têm feito uma opção política similar.
domingo, janeiro 16, 2011
MANUEL ALEGRE-GARANTE DA DEMOCRACIA E DO ESTADO SOCIAL
As eleições presidenciais revestem-se de importância decisiva para a definição do nosso futuro colectivo. Está em causa uma escolha clara, Manuel Alegre ou Cavaco Silva.
Manuel Alegre será um Presidente da República que exercerá os poderes que a Constituição lhe confere como um garante da qualidade da nossa democracia política, com mais paridade e sem discriminações, mas, que além disso, não esquece que a nossa democracia não é apenas política, mas também económica, social e cultural.
Os sectores mais conservadores da sociedade portuguesa pretendem, a partir de uma eventual reeleição de Cavaco Silva, abrir caminho a uma crise política num contexto que lhes seja favorável, e aceder ao poder, com condições para alterar profundamente a Constituição da República.
A actual candidatura de Cavaco Silva e a presidência que pretende exercer caso seja eleito pouco têm a ver com a sua anterior candidatura e com o mandato que agora termina. Os ataques de Cavaco Silva ao Governo, o pré-aviso de que poderá verificar-se uma grave crise política, o projecto radical da revisão constitucional do partido que é a sua principal base de apoio, o PSD, não deixam dúvidas de uma mudança do programa presidencial de Cavaco Silva.
Uma das divergências fundamentais entre Manuel Alegre e Cavaco Silva tem a ver com a defesa do Estado Social.
Cavaco Silva cita a sua simpatia pelas Misericórdias e pelas IPSS e acções como a distribuição de restos de refeições dos restaurantes, mas nunca diz defender a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde, a Segurança Social pública, ou a proibição constitucional dos despedimentos sem justa causa, tudo isto posto em causa pelo projecto de revisão constitucional de PSD, o seu principal apoio político.
Falemos claro: em Portugal existam diversas manifestações do que Boaventura Sousa Santos qualificou de sociedade providência, iniciativas individuais e colectivas de entreajuda ou de solidariedade, muitas vezes inspiradas pela Igreja Católica, que Manuel Alegre considera importantíssimas, como o afirmou na visita à Caritas Portuguesa.
Nada disto se confunde ou substitui a defesa do Estado Social, que tem vindo a ser construído arduamente nos últimos trinta e cinco anos num contexto económico difícil, através de um conjunto de políticas sociais sem paralelo na história portuguesa. Estado Social significa direitos sociais para os cidadãos, a garantia de que a sua contribuição fiscal e para a segurança social lhes conferem direitos por parte do Estado, de que são exemplo, o acesso à educação através da escola pública, o direito à saúde através do Serviço Nacional de Saúde, o direito à Segurança Social pública.
Tudo o que construímos não nos faz esquecer os novos desafios que as transformações demográficas, a pós-industrialização e a precariedade colocam e a necessidade de novas respostas que assegurem sustentabilidade e uma maior equidade.
Manuel Alegre não será cúmplice ou espectador da destruição do Estado Social. Será fiel ao juramento de defender a Constituição da República, que consagra os fundamentos do Estado Social e não permitirá a sua destruição, utilizando os poderes que lhe serão confiados.
O valor da democracia e do Estado Social só se percebem, por vezes, tragicamente, quando se perdem.
Estamos num momento decisivo, sejamos cidadãos independentes, socialistas, bloquistas, comunistas, ou cristãos, crentes de qualquer outra confissão religiosa, agnósticos ou ateus, ou simplesmente patriotas que apostam num futuro melhor para Portugal, precisamos de um Presidente da República, que seja, fraterno, justo, solidário, que a todos respeite, que garanta a democracia e o Estado Social.
Não podemos demitir-nos das nossas responsabilidades.
Manuel Alegre será um Presidente da República que exercerá os poderes que a Constituição lhe confere como um garante da qualidade da nossa democracia política, com mais paridade e sem discriminações, mas, que além disso, não esquece que a nossa democracia não é apenas política, mas também económica, social e cultural.
Os sectores mais conservadores da sociedade portuguesa pretendem, a partir de uma eventual reeleição de Cavaco Silva, abrir caminho a uma crise política num contexto que lhes seja favorável, e aceder ao poder, com condições para alterar profundamente a Constituição da República.
A actual candidatura de Cavaco Silva e a presidência que pretende exercer caso seja eleito pouco têm a ver com a sua anterior candidatura e com o mandato que agora termina. Os ataques de Cavaco Silva ao Governo, o pré-aviso de que poderá verificar-se uma grave crise política, o projecto radical da revisão constitucional do partido que é a sua principal base de apoio, o PSD, não deixam dúvidas de uma mudança do programa presidencial de Cavaco Silva.
Uma das divergências fundamentais entre Manuel Alegre e Cavaco Silva tem a ver com a defesa do Estado Social.
Cavaco Silva cita a sua simpatia pelas Misericórdias e pelas IPSS e acções como a distribuição de restos de refeições dos restaurantes, mas nunca diz defender a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde, a Segurança Social pública, ou a proibição constitucional dos despedimentos sem justa causa, tudo isto posto em causa pelo projecto de revisão constitucional de PSD, o seu principal apoio político.
Falemos claro: em Portugal existam diversas manifestações do que Boaventura Sousa Santos qualificou de sociedade providência, iniciativas individuais e colectivas de entreajuda ou de solidariedade, muitas vezes inspiradas pela Igreja Católica, que Manuel Alegre considera importantíssimas, como o afirmou na visita à Caritas Portuguesa.
Nada disto se confunde ou substitui a defesa do Estado Social, que tem vindo a ser construído arduamente nos últimos trinta e cinco anos num contexto económico difícil, através de um conjunto de políticas sociais sem paralelo na história portuguesa. Estado Social significa direitos sociais para os cidadãos, a garantia de que a sua contribuição fiscal e para a segurança social lhes conferem direitos por parte do Estado, de que são exemplo, o acesso à educação através da escola pública, o direito à saúde através do Serviço Nacional de Saúde, o direito à Segurança Social pública.
Tudo o que construímos não nos faz esquecer os novos desafios que as transformações demográficas, a pós-industrialização e a precariedade colocam e a necessidade de novas respostas que assegurem sustentabilidade e uma maior equidade.
Manuel Alegre não será cúmplice ou espectador da destruição do Estado Social. Será fiel ao juramento de defender a Constituição da República, que consagra os fundamentos do Estado Social e não permitirá a sua destruição, utilizando os poderes que lhe serão confiados.
O valor da democracia e do Estado Social só se percebem, por vezes, tragicamente, quando se perdem.
Estamos num momento decisivo, sejamos cidadãos independentes, socialistas, bloquistas, comunistas, ou cristãos, crentes de qualquer outra confissão religiosa, agnósticos ou ateus, ou simplesmente patriotas que apostam num futuro melhor para Portugal, precisamos de um Presidente da República, que seja, fraterno, justo, solidário, que a todos respeite, que garanta a democracia e o Estado Social.
Não podemos demitir-nos das nossas responsabilidades.
sexta-feira, janeiro 14, 2011
AGENDA CULTURAL ( 44 )
CRC-
CENTRO DE REFLEXÃO CRISTÃ
CICLO DE COLÓQUIOS 2010/2011
25 de Janeiro de 2011
3ª feira, 18h30m
Jesus na História, Jesus da Fé: Perspectivas comparadas
Com a participação de :
Joaquim Carreira das Neves
José Luís de Matos
José de Sousa e Brito
Local: Centro Nacional de Cultura – Galeria Fernando Pessoa
Largo do Picadeiro, nº 10, 1º, Lisboa.
[Metro: Baixa-Chiado]
Entrada Livre
José Luís de Matos
José de Sousa e Brito
Local: Centro Nacional de Cultura – Galeria Fernando Pessoa
Largo do Picadeiro, nº 10, 1º, Lisboa.
[Metro: Baixa-Chiado]
Entrada Livre
domingo, janeiro 02, 2011
PORQUÊ E PARA QUÊ? DE MANUEL CLEMENTE
Se quisermos resumir a atitude de Manuel Clemente no belíssimo livro Porquê e para quê? Pensar com esperança o Portugal de hoje poderíamos resumi-la em duas palavras: confiança e esperança. Confiança em Portugal e nos portugueses, Esperança, assente na “certeza firme de que, sendo verdadeiro objectivo do Estado e de todos os responsáveis sociais salvaguardar e promover a dignidade da pessoa humana, aumentaremos para isso as possibilidades materiais, culturais, e espirituais existentes, que, no conjunto, constituem o nosso bem comum, na subsidiariedade e na solidariedade.”
Manuel Clemente é um homem bom, sereno e bem-humorado, um bispo que é simultaneamente um historiador, um homem de cultura e um cidadão empenhado no futuro da cidade e que diz o que é necessário dizer com clareza e simplicidade.
Tem um jeito muito pessoal de tornar simples e coloquial o que é complexo. Um exemplo disso foi o seu discurso na aceitação do Prémio Pessoa onde, antes de nos dizer o que considera ser importante dizer sobre Portugal e os portugueses, começa por desfiar farrapos da sua memória como dos anos cinquenta no ensino primário e secundário.
Manuel Clemente não abusa das palavras, diz o que pensa e assume as suas posições, sem excessos retóricos.
Este livro é composto de fragmentos diversos, discursos e intervenções, três catequeses quaresmais, uma excelente entrevista. Os textos têm uma unidade que lhes é dada pela coerência das suas referências e do seu olhar, apesar de proferidos em contextos muito diferentes.
Estudou o contributo dos católicos liberais e o movimento católico do século XIX e princípio do século XX, como Francisco de Azeredo Teixeira de Aguilar, Conde de Samodães, Visconde de Azevedo e não deixa de recordar o seu contributo “para estabelecer na doutrina e na convivência social o regime das liberdades cívicas e políticas”. Seria muito importante conhecer o que foi esta intervenção e dispor de uma antologia de textos mais importantes por eles produzidos. A valorização da intervenção dos leigos católicos é uma constante de um bispo que chama justamente à releitura da exortação apostólica pós-sinodal Christifidelis Laici
Nas suas intervenções está bem presente a importância da doutrina social da Igreja e os horizontes abertos pela encíclica Caritas in Veritate de Bento XVI.
Outros textos exprimem a sua leitura muito estimulante sobre Portugal e os portugueses, como o já referido discurso na entrega do Prémio Pessoa ou a excelente entrevista conduzida inteligentemente por Teresa de Sousa, publicada com o título “ Portugal é um país onde se chega e donde se parte”, sublinhando a nossa condição de “povo-cais”. Esta constatação não aponta para uma qualquer desresponsabilização, mas para a valorização das nossas competências.
Tem razão quando afirma: “Temos aqui uma batalha a vencer, que sempre foi difícil, e que é a batalha do nosso auto-reconhecimento, isso é verdade. Precisamos de olhar para a nossa realidade concreta e acreditarmos que somos o nosso próprio potencial de futuro.”
Manuel Clemente é coerente e consequente. Fazendo parte da Comissão Consultiva da Comemoração Nacional do Centenário da República, como podem ver aqui, não deixa de ter presente o facto República e de incluir a liberdade, a igualdade e fraternidade como tópicos de reflexão nas suas catequeses quaresmais de 2010.
Frei Bento Domingues tem razão quando afirmou aqui que Manuel Clemente neste livro, que qualificou de “magnífico”, vê a Igreja em Portugal e no Mundo com os olhos de historiador e de pastor, como um “optimista realista”.
Este livro foi apresentado por Manuel António Pina, um excelente escritor e cronista, o que mostra que as intervenções de Manuel Clemente continuam a abrir espaços alargados de comunhão e de diálogo na sociedade portuguesa.
Manuel Clemente é um homem bom, sereno e bem-humorado, um bispo que é simultaneamente um historiador, um homem de cultura e um cidadão empenhado no futuro da cidade e que diz o que é necessário dizer com clareza e simplicidade.
Tem um jeito muito pessoal de tornar simples e coloquial o que é complexo. Um exemplo disso foi o seu discurso na aceitação do Prémio Pessoa onde, antes de nos dizer o que considera ser importante dizer sobre Portugal e os portugueses, começa por desfiar farrapos da sua memória como dos anos cinquenta no ensino primário e secundário.
Manuel Clemente não abusa das palavras, diz o que pensa e assume as suas posições, sem excessos retóricos.
Este livro é composto de fragmentos diversos, discursos e intervenções, três catequeses quaresmais, uma excelente entrevista. Os textos têm uma unidade que lhes é dada pela coerência das suas referências e do seu olhar, apesar de proferidos em contextos muito diferentes.
Estudou o contributo dos católicos liberais e o movimento católico do século XIX e princípio do século XX, como Francisco de Azeredo Teixeira de Aguilar, Conde de Samodães, Visconde de Azevedo e não deixa de recordar o seu contributo “para estabelecer na doutrina e na convivência social o regime das liberdades cívicas e políticas”. Seria muito importante conhecer o que foi esta intervenção e dispor de uma antologia de textos mais importantes por eles produzidos. A valorização da intervenção dos leigos católicos é uma constante de um bispo que chama justamente à releitura da exortação apostólica pós-sinodal Christifidelis Laici
Nas suas intervenções está bem presente a importância da doutrina social da Igreja e os horizontes abertos pela encíclica Caritas in Veritate de Bento XVI.
Outros textos exprimem a sua leitura muito estimulante sobre Portugal e os portugueses, como o já referido discurso na entrega do Prémio Pessoa ou a excelente entrevista conduzida inteligentemente por Teresa de Sousa, publicada com o título “ Portugal é um país onde se chega e donde se parte”, sublinhando a nossa condição de “povo-cais”. Esta constatação não aponta para uma qualquer desresponsabilização, mas para a valorização das nossas competências.
Tem razão quando afirma: “Temos aqui uma batalha a vencer, que sempre foi difícil, e que é a batalha do nosso auto-reconhecimento, isso é verdade. Precisamos de olhar para a nossa realidade concreta e acreditarmos que somos o nosso próprio potencial de futuro.”
Manuel Clemente é coerente e consequente. Fazendo parte da Comissão Consultiva da Comemoração Nacional do Centenário da República, como podem ver aqui, não deixa de ter presente o facto República e de incluir a liberdade, a igualdade e fraternidade como tópicos de reflexão nas suas catequeses quaresmais de 2010.
Frei Bento Domingues tem razão quando afirmou aqui que Manuel Clemente neste livro, que qualificou de “magnífico”, vê a Igreja em Portugal e no Mundo com os olhos de historiador e de pastor, como um “optimista realista”.
Este livro foi apresentado por Manuel António Pina, um excelente escritor e cronista, o que mostra que as intervenções de Manuel Clemente continuam a abrir espaços alargados de comunhão e de diálogo na sociedade portuguesa.
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