Nina Clara Tiesler é autora de estudos imprescindíveis para compreender a nova presença islâmica (NPI) em Portugal. O seu profundo conhecimento da nova presença islâmica em Portugal é também visível neste livro, em que teve em conta, designadamente, não só a acção de Suleiman Valy Mamede, mas também, por exemplo, os" diálogos pessoais" com Abdool-Karim Vakil.
A publicação da sua tese de doutoramento defendida em 2006 na Universidade de Leibniz, Hannover, em livro intitulado em português, A Morada de Ser, Muçulmanos na Europa e políticas de identidade reveste-se por isso de particular significado e é um livro de referência não apenas para académicos, mas para os agentes políticos e os cidadãos conscientes.
De notar desde logo a qualidade da tradução em português, que se deve aos tradutores João Barrento, Guilherme Dutschke e Rui Cabral e à revisora de tradução Fátima Dias, reconhecida expressamente pela autora.
Nina Clara Tiesler “defende a tese de que as políticas de identidade das minorias muçulmanas na Europa constituem uma reacção às das maiorias societais não muçulmanas. O contexto histórico e desenvolvimental destas novas experiências societais e subjectivas, que se reflectem nas polémicas de identidade, é a Europa. No cerne dos debates, das lutas de poder e das considerações sobre as subjectividades colectivas (formuladas como “identidades”) encontram-se conceitos de espaço e de pertença)”.
Por outras palavras o livro é uma resposta à questão, o que é que os muçulmanos europeus chamam casa. Nina Clara Tiesler parte na sua análise do conceito de Morada do Ser, que filia no “heimat” de Ernst Bloch.
É um livro muito informado e inteligente, que ensaia uma resposta aprofundada a esta questão.
A experiência com que estão confrontados os muçulmanos europeus é o de viver como muçulmano, em minoria, num território que não é terra do Islão, o que coloca desafios à própria forma de compreender a ligação à Umma, à comunidade dos crentes na Europa, para lá da distinção tradicional entre dar-al-Islam (casa do Islão) e dar al-Harb (casa da guerra).
Nina Clara Tiesler conclui: “Os muçulmanos são parte integrante das sociedades europeias. São cidadãos europeus e a maior parte deles não tem outra terra concreta além desta (…) A Europa como local de vida e Morada do Ser para os muçulmanos não se podia explicar através de categorias islâmicas. Tariq Ramadan chamou-lhe espaço de profissão da fé. A sua popularidade também se baseia nisto: ele acabou com a procura do conceito que é utilizado quando as velhas terras e certezas se perdem”.
A conclusão deste livro é um ponto de chegada e simultaneamente um novo ponto de partida para novos estudos, que permitam perceber a complexidade da realidade dos muçulmanos na Europa, entre a exclusão e a cidadania, como referi aqui, que continua a modificar-se num contexto marcado pela crise e por reacções islamofobas, pelas novas experiências de transição democrática emergentes em sociedades de maioria islâmica do Norte de África e do Médio Oriente,
Os muçulmanos na Europa são uma realidade plural, não podendo ser descritos de forma essencializada como uma comunidade, ou um conjunto de comunidades homogéneas. Os imigrantes provenientes de sociedades de maioria islâmica confrontam-se com culturas europeias diversificadas, mas também com outros muçulmanos com tradições culturais, históricas e espirituais e práticas muito diversificadas.
Creio que teremos de partir para a análise da situação dos muçulmanos na Europa de um conceito alargado, em termos idênticos ao que adoptaríamos se quiséssemos estudar, por exemplo, a situação dos cristãos luteranos, dos hindus ou dos judeus, e não de categorias islâmicas.
Categorias como muçulmanos não praticantes ou muçulmanos culturais ou non-muslim muslim são conceitos que têm de ser questionados antes de ser utilizados, porque correm o risco de ter um efeito performativo.
Será útil conjugar estudos de conjunto como este livro incontornável de Nina Clara Tiesler, que coloca a questão num contexto europeu, com estudos detalhados da presença islâmica nos diferentes países europeus, como os que a autora tem feito com grande rigor sobre a nova presença islâmica em Portugal, como podem ver aqui.
A publicação da sua tese de doutoramento defendida em 2006 na Universidade de Leibniz, Hannover, em livro intitulado em português, A Morada de Ser, Muçulmanos na Europa e políticas de identidade reveste-se por isso de particular significado e é um livro de referência não apenas para académicos, mas para os agentes políticos e os cidadãos conscientes.
De notar desde logo a qualidade da tradução em português, que se deve aos tradutores João Barrento, Guilherme Dutschke e Rui Cabral e à revisora de tradução Fátima Dias, reconhecida expressamente pela autora.
Nina Clara Tiesler “defende a tese de que as políticas de identidade das minorias muçulmanas na Europa constituem uma reacção às das maiorias societais não muçulmanas. O contexto histórico e desenvolvimental destas novas experiências societais e subjectivas, que se reflectem nas polémicas de identidade, é a Europa. No cerne dos debates, das lutas de poder e das considerações sobre as subjectividades colectivas (formuladas como “identidades”) encontram-se conceitos de espaço e de pertença)”.
Por outras palavras o livro é uma resposta à questão, o que é que os muçulmanos europeus chamam casa. Nina Clara Tiesler parte na sua análise do conceito de Morada do Ser, que filia no “heimat” de Ernst Bloch.
É um livro muito informado e inteligente, que ensaia uma resposta aprofundada a esta questão.
A experiência com que estão confrontados os muçulmanos europeus é o de viver como muçulmano, em minoria, num território que não é terra do Islão, o que coloca desafios à própria forma de compreender a ligação à Umma, à comunidade dos crentes na Europa, para lá da distinção tradicional entre dar-al-Islam (casa do Islão) e dar al-Harb (casa da guerra).
Nina Clara Tiesler conclui: “Os muçulmanos são parte integrante das sociedades europeias. São cidadãos europeus e a maior parte deles não tem outra terra concreta além desta (…) A Europa como local de vida e Morada do Ser para os muçulmanos não se podia explicar através de categorias islâmicas. Tariq Ramadan chamou-lhe espaço de profissão da fé. A sua popularidade também se baseia nisto: ele acabou com a procura do conceito que é utilizado quando as velhas terras e certezas se perdem”.
A conclusão deste livro é um ponto de chegada e simultaneamente um novo ponto de partida para novos estudos, que permitam perceber a complexidade da realidade dos muçulmanos na Europa, entre a exclusão e a cidadania, como referi aqui, que continua a modificar-se num contexto marcado pela crise e por reacções islamofobas, pelas novas experiências de transição democrática emergentes em sociedades de maioria islâmica do Norte de África e do Médio Oriente,
Os muçulmanos na Europa são uma realidade plural, não podendo ser descritos de forma essencializada como uma comunidade, ou um conjunto de comunidades homogéneas. Os imigrantes provenientes de sociedades de maioria islâmica confrontam-se com culturas europeias diversificadas, mas também com outros muçulmanos com tradições culturais, históricas e espirituais e práticas muito diversificadas.
Creio que teremos de partir para a análise da situação dos muçulmanos na Europa de um conceito alargado, em termos idênticos ao que adoptaríamos se quiséssemos estudar, por exemplo, a situação dos cristãos luteranos, dos hindus ou dos judeus, e não de categorias islâmicas.
Categorias como muçulmanos não praticantes ou muçulmanos culturais ou non-muslim muslim são conceitos que têm de ser questionados antes de ser utilizados, porque correm o risco de ter um efeito performativo.
Será útil conjugar estudos de conjunto como este livro incontornável de Nina Clara Tiesler, que coloca a questão num contexto europeu, com estudos detalhados da presença islâmica nos diferentes países europeus, como os que a autora tem feito com grande rigor sobre a nova presença islâmica em Portugal, como podem ver aqui.