domingo, junho 20, 2010

OBRIGADO, JOSÉ SARAMAGO

Existem muitos motivos para dizer, obrigado, José Saramago.
Deu um contributo singular não só à cultura portuguesa, mas a todas as literaturas de Língua Portuguesa, tendo sido o seu primeiro Prémio Nobel da Literatura.
Escreveu livros e criou personagens inesquecíveis, que deram origem a óperas e a filmes, mas o romance que mais me fascinou foi o da sua própria vida, como soube construir a pulso a partir de uma infância, cheia de carências económicas, com uma enorme inteligência e determinação, a sua própria obra. José Saramago foi para mim uma criação ainda mais fascinante que a própria Blimunda do Memorial do Convento. Sugiro a leitura, a este propósito, do seu discurso de aceitação do Prémio Nobel aqui.
José Saramago foi um militante comunista, que aderiu e participou com convicção nas iniciativas de unidade da esquerda que contribuíram para o progresso de Lisboa e apoiou a candidatura de António Costa nas últimas eleições municipais. Tive o gosto de ter estado em acções de campanha em que participou no tempo de Jorge Sampaio e vi a forma empenhada com que o fazia.
Afirmava-se ateu, invectiva Deus na imagem que dele tinha, mas não hesitou em aceitar participar em duas iniciativas do CRC, para as quais o convidei, uma das quais na Capela do Rato, para discutir o seu livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo.
A Pastoral da Cultura da Igreja Católica foi justa ao saudar aqui o contributo de José Saramago para a cultura e a língua portuguesa para além de divergências e polémicas.
José Saramago batia-se pelas suas ideias, pelos direitos humanos e pela preservação da natureza, não tinha medo de dizer o que pensava, não apenas quando invectiva o cristianismo ou discutia a ideia de Deus, mas também quando criticava a ocupação israelita dos territórios palestinianos, Fidel de Castro, as condições dos trabalhadores na China, a Camorra ou Berlusconi.
José Saramago era, em meu entender, um homem livre, sensível à bondade no mundo, um homem bom.
Por tudo isto, obrigado José Saramago.

sexta-feira, junho 18, 2010

MANUEL ALFREDO TITO DE MORAIS (1910-2010)-UM HOMEM DE PRINCÍPIOS

Tito de Morais é um homem de princípios, um daqueles militantes que o são não apenas uns dias, nem alguns anos, mas ao longo de toda uma vida e que por isso mesmo, como dizia Bertolt Brecht num célebre poema são imprescindíveis.
Estas palavras que escrevi no editorial do número especial do Portugal Socialista, que lhe foi dedicado em Outubro de 1996, que podem ler na íntegra aqui, continuam para mim a ser inseparáveis da coerência, verticalidade, honestidade e integridade, que o caracterizaram sempre.
Recordo a minha estranheza quando vi pela primeira vez o seu nome num número do Esquerda, publicação clandestina dos jovens socialistas para os jovens portugueses, da Associação Socialista Portuguesa (ASP), que antecedeu o Partido Socialista.
Creio que foi em 1969, que o Manuel Maria Carrilho, que estudava em Lisboa, apareceu em Viseu com um exemplar do Esquerda, que li avidamente. O socialismo democrático surgiu-me claramente desde essa altura como o projecto político por que valia a pena lutar.
Não tinha nesse momento altura qualquer contacto com a ASP, identifiquei-me com a linha política que defendiam, sabia da ligação da ASP a Mário Soares e a Salgado Zenha, mas foi ali que pela primeira vez li o nome de Tito de Morais, que se encontrava no exílio. Meses depois, tive acesso a exemplares do Portugal Socialista editado por Tito de Morais em Roma e que entrava clandestinamente no país. Não imaginava, que viria a conhecê-lo, a ser seu companheiro de luta e a ter a honra de como director do Portugal Socialista, escrever o editorial daquele número que lhe foi dedicado.
Na sequência do excelente trabalho da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do Nascimento de Manuel Tito de Morais, presidida por Carolina Tito de Morais e coordenada com inexcedível empenhamento por Luís Novais Tito, estão em curso inúmeras iniciativas que podem conhecer melhor aqui.
As comemorações do centenário do nascimento do militante socialista exemplar, que foi Manuel Tito de Morais, ultrapassam claramente o âmbito do Partido Socialista porque foi também um dos fundadores do nosso regime democrático e uma grande referência do socialismo humanista, como escreveu Jorge Sampaio aqui.
A Comissão de Honra, presidida pelo actual Presidente da República e a que tenho o gosto de pertencer, exprime a forma como esta homenagem congregou o apoio da República Portuguesa.
Não posso por isso deixar de registar aqui uma palavra de gratidão a Tito de Morais pelo militante socialista exemplar que foi e de apelar a todos os camaradas para que não deixem de associar-se às iniciativas promovidas em sua homenagem.
É um acto de pedagogia democrática e socialista dar a conhecer às novas gerações socialistas o seu combate pelo socialismo democrático.

segunda-feira, junho 14, 2010

AGENDA CULTURAL (38)

O General António Ramalho Eanes, primeiro Presidente da República eleito depois do 25 de Abril , apresenta o livro
TUDO O QUE SEMPRE QUIS SABER SOBRE A PRIMEIRA REPÚBLICA
EM 37 MIL PALAVRAS
AS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS PORTUGUESAS

DO 5 DE OUTUBRO DE 1910 AO 28 DE MAIO DE 1926

de Luís Salgado Matos
Na mesa estarão presentes: Artur Santos Silva, Presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República.
Presidirá o director do Instituto de Defesa Nacional,Major-General ,Vítor Rodrigues Viana.

O livro foi editado pela Imprensa de Ciências Sociais, dirigida pela Doutora Cristina Bastos e a apresentação terá lugar na próxima quinta-feira, 17 de Junho, às 18horas, no Instituto de Defesa Nacional.

domingo, junho 13, 2010

ESTADO-NAÇÃO E MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS

O livro Estado-Nação e Migrações Internacionais, coordenado por M. Margarida Marques, é um livro imprescindível para todos os que se interessam pelas migrações internacionais, nomeadamente, responsáveis dos diferentes serviços da Administração Pública que trabalham com os imigrantes, profissionais da comunicação social que querem perceber o que está para além das aparências, associações de imigrantes e cidadãos atentos a uma realidade que marca dada vez mais o seu quotidiano.
M. Margarida Marques, para além dos importantes estudos publicados em revistas de referência a nível internacional, tem estado associada à divulgação em Portugal de autores fundamentais para a compreensão das migrações internacionais como Alejandro Portes e Stephen Castles, bem como ao Mestrado sobre Migrações, Inter-Etnicidades e Transnacionalismo da Universidade Nova de Lisboa.
A introdução referente aos Estados-Nação perante os desafios das populações em movimento é um ensaio particularmente claro e clarificador de M. Margarida Marques. Se as migrações internacionais são um fenómeno que ultrapassa os Estados, é um erro pensar que os Estado-Nação não continuam a ter um papel imprescindivel a desempenhar relativamente ás migrações, designadamente, no que se refere à incorporação dos imigrantes. Os Estados democráticos têm, vindo a promover a inclusão dos imigrantes sob a alçada do welfere e promovido novas práticas providenciais, como refere M. Margarida Marques.
Nesta colectânea, publicam-se em português, textos da Peggy-Levitt e Nina Glick Schiller, Alejandro Portes, Cristina Escobar e Alexandria W. Radford, Sophie Body-Gendrot, Rinus Penninx, Marco Martiniello e Wayne A. Cornelius.
São textos que ajudam a ler criticamente a forma como as migrações têm vindo a ser reguladas e geridas não apenas em Portugal, mas no quadro da União Europeia.
Os textos de Peggy-Levitt e Nina Glick Schiller, Alejandro Portes, Cristina Escobar e Alexandria W. Radford ajudam a perceber os limites do Estado-Nação como quadro de análise conceptual para entender os fenómenos migratórios e para analisar o que se convencionou chamar como transnacionalismo.
Sophie Body-Gendrot a partir da análise dos guetos norte-americanos e dos subúrbios franceses evidencia as dificuldades dos poderes públicos para lidar no primeiro caso com jovens de minorias segregadas e no outro com jovens de ascendência imigrante.
É particularmente interessante para avaliar a importância da escala local das políticas de integração o estudo de Rinnus Pennix e, Marco Martiniello que tem por base a experiência de incorporação das populações migrantes em dezassete cidades europeias.
O estudo de Wayne A. Cornelius sobre a forma como os Estados Unidos têm procurado combater a imigração irregular com uma estratégia centrada na fronteira (1993-2004) ilustra bem como não têm qualquer apoio científico os discursos de políticos populistas que a este propósito insistem em estereótipos sobre a robustez ou a fragilidade dos Estados nos controlos das fronteiras e em propor medidas que não visam resolver problemas, mas apenas jogar com estereótipos difundidos na opinião pública.
Este livro está incluído na colecção de Estudos Políticos dirigida por Pedro Tavares de Almeida .
Apoiada pelo Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova (CESNOVA) esta é uma edição muito bem cuidada, sendo os textos escritos originariamente em inglês e francês, traduzidos com a qualidade das traduções de Frederico Ágoas, que organizou também o índice, bem revistos por Alice Araújo e com a qualidade com que a editora Livros Horizonte, agora sobre a direcção de Cláudia Moura, põe nos livros que edita.
Este é um livro assumidamente aberto, que deixa inúmeras pistas para novos estudos. Como refere M. Margarida Marques: «Para além da progressiva dissociação da componente universal da intervenção dos Estados, relativamente à matriz particular da nação, importa indagar de forma sistemática como se reflecte esta mudança nas práticas de acomodação e na arquitectura institucional das sociedades contemporâneas».

terça-feira, junho 08, 2010

AGENDA CULTURAL (37)

um documentário de MARGARIDA LEITÃO
Sessões comentadas em Lisboa, às 19h, no City Alvalade
Dia 14-Guilherme d'Oliveira Martins (Presidente do Tribunal de Contas)
Dia 15-Afonso de Albuquerque (Psiquiatra)
Dia 16-Paulo Ferreira (Economista e responsável de economia da RTP)
Dia 17- José Tolentino de Mendonça (Padre e Poeta)
Dia 18-Helena Roseta (Vereadora do Pelouro da Habitação da CML)
Dia 19-Pedro Vasconcelos (Sociólogo)

sábado, junho 05, 2010

REGISTO

MARIA JOSÉ MORGADO EVOCA JOSÉ LUÍS SALDANHA SANCHES

As palavras ditas por Maria José Morgado relativamente ao seu marido José Luís Saldanha Sanches, que podem ler aqui no seu blogue, são de uma imensa ternura e saudade, que nos levam a pensar silenciosamente como se pode fazer da vida um combate pela justiça e pela liberdade e um lugar de beleza.

Estas palavras interrogam-nos, inquietam-nos, despertam-nos para a necessidade de continuar a lutar contra a corrupção, por um País decente.

sexta-feira, junho 04, 2010

MORREU O PADRE JOÃO RESINA

O Padre João Resina morreu hoje, após ter estado vários meses em coma, após uma queda que viria a ser fatal. Era um padre que falava de Deus e da Física Quântica, como pode ler no Público aqui.
Recordo a presença do Padre João Resina nos Campos de Férias da JUC (Juventude Universitária Católica) nos Remédios, em Peniche, no início dos anos 70 do século passado, um momento alto na nossa formação cristã, cultural e cívica, em que, nos falava com profundidade e naturalidade da experiência profunda de Deus, dos limites do conhecimento e de Wittgenstein, que tanto entusiasmava o Germano Cleto.
Recordo a sua participação em debates discretos sobre marxismo e cristianismo na sede da JUC, junto a Entrecampos, debates em que também participaram, em momentos diferentes, o Padre Manuel Antunes e Mário Sottomayor Cardia.
Era um homem bom, sereno, habitado por um profunda experiência de Deus, simultaneamente um homem de Ciência e Padre de quem podem ler várias homílias aqui.
Não posso também deixar de lhe estar grato por ter sido um dos padres, que participou no meu casamento.
O Padre João Resina tinha dado há alguns meses uma notável entrevista a António Marujo, que foi publicada na Pública, que podem ler aqui e que merecia ser republicada em livro juntamente com outros textos seus, como sugeriu Frei Bento Domingues, de modo a que muitos que o não conheceram possam com ele descobrir e amar a Deus. É um livro que faz falta nas teofanias da Assírio & Alvim.
Foi sócio fundador do Centro de Reflexão Cristã, tendo participado em várias das suas iniciativas e na revista Reflexão Cristã.