Cabo Verde conseguiu um grande sucesso diplomático com a aprovação pela Comissão Europeia de uma parceria especial, sem precedentes, com a União Europeia.
Defendi aqui o processo de aproximação entre Cabo Verde e a União Europeia e não podia deixar de manifestar a minha satisfação por este passo fundamental e de me congratular por ter sido concretizado durante a Presidência Portuguesa da União Europeia.
A comunicação da Comissão ao Conselho e ao Parlamento sobre o futuro das relações entre a União Europeia e a República de Cabo Verde, datada de 24 de Outubro de 2007, considera que «a parceria especial destina-se a reforçar a concertação e a convergência das políticas entre ambas as partes, permitindo acrescentar um quadro de interesses comuns à relação tradicional dador-beneficiário».
A União Europeia sublinha a aproximação crescente que se tem verificado com as suas regiões ultraperiféricas no Atlântico Norte. Como refere o documento: «Cabo Verde, constitui juntamente com as ilhas europeias dos Açores, Madeira e Canárias, o conjunto designado Macaronésia, onde desde sempre se foram tecendo ligações históricas, culturais, linguísticas e de complementaridade que caracterizam ainda hoje as suas relações e a sua cooperação».
Este acordo ocorre num momento muito especial para Cabo Verde, quando passa a ser considerado um país mediamente desenvolvido, o que é uma comprovação do sucesso das políticas de desenvolvimento seguidas, mas ao mesmo tempo fica privado de ajudas internacionais, que a anterior situação justificava.
O plano de acção para a parceria especial articula-se em torno de seis pilares: boa governação; segurança/estabilidade, integração regional, convergência técnica e normativa, sociedade do conhecimento, luta contra a pobreza e desenvolvimento. Esta parceria especial inclui o financiamento do plano de acção, que irá permitir avançar nos diferentes pilares.
O documento que estabelece a parceria especial vai ser enviado ao Parlamento Europeu para ratificação e será, em princípio, definitivamente aprovado na próxima reunião do Conselho de Assuntos Gerais e Relações Externas, que terá lugar nos dias 19 e 20 de Novembro de 2007.
Esta comunicação da União Europeia é um novo começo, que poderá ir mais longe do que muitos hoje imaginam ou ousam esperar, se nos empenharmos em explorar as potencialidades desta parceria, com rigor e competência política e diplomática.
Como afirmou recentemente à BBC para África, o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, João Gomes Cravinho, Cabo Verde faz parte da fronteira externa da União Europeia. Se assim é, há que ir retirando as consequências práticas do reconhecimento desse facto.
Como se refere na comunicação: «A parceria especial é um processo de que o plano de acção constitui o quadro e o instrumento que permite a sua concretização. O plano de acção terá uma duração indeterminada e será revisto periodicamente segundo modalidades estabelecidas de comum acordo».
Está em curso uma dinâmica em que Portugal deverá desempenhar um papel insubstituível pelos nós e os laços existentes com Cabo Verde.
domingo, outubro 28, 2007
domingo, outubro 21, 2007
LISBOA TERRA DE HARMONIA
O poeta Carlos de Oliveira no belíssimo poema “Canto” do seu livro «Terra de harmonia» escreveu “Cantar é empurrar o tempo ao encontro das cidades futuras/fique embora mais breve a nossa vida».
Este, como muitos outros poemas, de Carlos de Oliveira, tem manifestas ressonâncias bíblicas.
Tenho recordado este poema, ao reflectir sobre a profanação no passado dia 25 de Setembro de vinte túmulos no Cemitério Judaico de Lisboa, conforme pode ver aqui.
Este acto foi um acto de barbárie que irá, estou confiante, ter a resposta adequada em termos penais, já que foi possível identificar os responsáveis.
Para além de diversas manifestações de repúdio, designadamente, por parte da Assembleia da República, realizou-se no passado dia 7 de Outubro de 2007, uma cerimónia religiosa, na qual para além de membros da Comunidade Israelita, participaram membros de outras comunidades religiosas, de representantes de partidos representados na Assembleia da República, cidadãos que se quiseram associar, o ACIDI, os Ministros da Administração Interna e da Justiça, o Embaixador de Israel.
Todos foram unânimes em condenar com vigor esta profanação, que como afirmara desde o início a Comunidade Israelita de Lisboa «constituiu um crime contra a Comunidade Judaica, bem como uma ofensa à sociedade civil Portuguesa; à democracia e ao Estado de Direito».
Foi uma cerimónia de grande dignidade, em que o Estado português representado pelos ministros, reafirmaram a confiança no Estado de Direito e na responsabilização dos responsáveis. O Ministro da Justiça, Alberto Costa, deixou, contudo, a advertência: «Nunca poderemos dar os sinais da barbárie como definitivamente extintos. Lutar contra ela é um trabalho infindável que o céu cometeu à condição humana».
Assim sendo, creio que deveríamos fazer mais alguma coisa para criar cidades futuras que sejam terra de harmonia.
O Padre Peter Stilwell, em nome da Igreja Católica em Lisboa, afirmou, nomeadamente: «O respeito pelos antepassados, nossos e dos outros; o cuidado com que rodeamos as suas sepulturas, é um traço que distingue a emergência da humanidade de entre os demais seres vivos sobre a terra. A profanação de um cemitério atesta, portanto da degradação humana de quem a pratica e da ideologia que lhe dá cobertura». E acrescentou: «Mas, no caso, a questão não é tão simples. O gesto evoca um demónio que dorme no coração da Europa, e que nem o horror da Shoa saciou. A profanação deste lugar de repouso foi um acto de culto que lhe foi prestado».
Peter Silwell considerou que era necessário ir mais longe no repúdio deste acto, dizendo: «Seria bom, neste contexto, retomar a proposta da Comunidade Israelita de Lisboa, secundada pela Igreja Católica, de fixar no centro de Lisboa, de preferência na Praça de São Domingos, um monumento que evocasse simultaneamente a violência passada contra os judeus residentes nesta cidade e o memorável gesto aí realizado no ano dois mil de conversão e reconciliação da comunidade católica com a comunidade judaica, sua irmã mais velha».
Deve concretizar-se esta proposta nesta cidade de Lisboa, em que os judeus foram vítimas da Inquisição e de massacres como o ocorrido em 19 de Abril de 1506. Vale a pena evocar essa violência intolerável e o gesto de reconciliação do Cardeal D. José Policarpo, em 26 de Setembro de 2000, que afirmou, designadamente: «Este centro histórico de Lisboa, onde solenemente nos abraçamos, foi no passado palco de violências intoleráveis contra o povo hebreu. Nem devemos esquecer, neste lugar, a triste sorte dos “cristão-novos”, as pressões para se converterem, os motins, as suspeitas, as delações, os processos temíveis da Inquisição.
Como comunidade maioritária nesta cidade, há perto de mil anos a Igreja Católica reconhece profundamente manchada a sua memória por esses gestos e palavras, tantas vezes praticados em seu nome, indignos da pessoa humana e do Evangelho que ela anuncia…».
Lisboa tem-se afirmado nas últimas décadas como uma das cidades de Europa onde mais se tem desenvolvido o diálogo inter-religioso, como uma grande metrópole cosmopolita.
Como cidadão só posso dizer que considero que devemos trabalhar para concretizar este projecto, que representa um contributo insubstituível para construir uma Lisboa futura que seja uma terra de harmonia.
Este, como muitos outros poemas, de Carlos de Oliveira, tem manifestas ressonâncias bíblicas.
Tenho recordado este poema, ao reflectir sobre a profanação no passado dia 25 de Setembro de vinte túmulos no Cemitério Judaico de Lisboa, conforme pode ver aqui.
Este acto foi um acto de barbárie que irá, estou confiante, ter a resposta adequada em termos penais, já que foi possível identificar os responsáveis.
Para além de diversas manifestações de repúdio, designadamente, por parte da Assembleia da República, realizou-se no passado dia 7 de Outubro de 2007, uma cerimónia religiosa, na qual para além de membros da Comunidade Israelita, participaram membros de outras comunidades religiosas, de representantes de partidos representados na Assembleia da República, cidadãos que se quiseram associar, o ACIDI, os Ministros da Administração Interna e da Justiça, o Embaixador de Israel.
Todos foram unânimes em condenar com vigor esta profanação, que como afirmara desde o início a Comunidade Israelita de Lisboa «constituiu um crime contra a Comunidade Judaica, bem como uma ofensa à sociedade civil Portuguesa; à democracia e ao Estado de Direito».
Foi uma cerimónia de grande dignidade, em que o Estado português representado pelos ministros, reafirmaram a confiança no Estado de Direito e na responsabilização dos responsáveis. O Ministro da Justiça, Alberto Costa, deixou, contudo, a advertência: «Nunca poderemos dar os sinais da barbárie como definitivamente extintos. Lutar contra ela é um trabalho infindável que o céu cometeu à condição humana».
Assim sendo, creio que deveríamos fazer mais alguma coisa para criar cidades futuras que sejam terra de harmonia.
O Padre Peter Stilwell, em nome da Igreja Católica em Lisboa, afirmou, nomeadamente: «O respeito pelos antepassados, nossos e dos outros; o cuidado com que rodeamos as suas sepulturas, é um traço que distingue a emergência da humanidade de entre os demais seres vivos sobre a terra. A profanação de um cemitério atesta, portanto da degradação humana de quem a pratica e da ideologia que lhe dá cobertura». E acrescentou: «Mas, no caso, a questão não é tão simples. O gesto evoca um demónio que dorme no coração da Europa, e que nem o horror da Shoa saciou. A profanação deste lugar de repouso foi um acto de culto que lhe foi prestado».
Peter Silwell considerou que era necessário ir mais longe no repúdio deste acto, dizendo: «Seria bom, neste contexto, retomar a proposta da Comunidade Israelita de Lisboa, secundada pela Igreja Católica, de fixar no centro de Lisboa, de preferência na Praça de São Domingos, um monumento que evocasse simultaneamente a violência passada contra os judeus residentes nesta cidade e o memorável gesto aí realizado no ano dois mil de conversão e reconciliação da comunidade católica com a comunidade judaica, sua irmã mais velha».
Deve concretizar-se esta proposta nesta cidade de Lisboa, em que os judeus foram vítimas da Inquisição e de massacres como o ocorrido em 19 de Abril de 1506. Vale a pena evocar essa violência intolerável e o gesto de reconciliação do Cardeal D. José Policarpo, em 26 de Setembro de 2000, que afirmou, designadamente: «Este centro histórico de Lisboa, onde solenemente nos abraçamos, foi no passado palco de violências intoleráveis contra o povo hebreu. Nem devemos esquecer, neste lugar, a triste sorte dos “cristão-novos”, as pressões para se converterem, os motins, as suspeitas, as delações, os processos temíveis da Inquisição.
Como comunidade maioritária nesta cidade, há perto de mil anos a Igreja Católica reconhece profundamente manchada a sua memória por esses gestos e palavras, tantas vezes praticados em seu nome, indignos da pessoa humana e do Evangelho que ela anuncia…».
Lisboa tem-se afirmado nas últimas décadas como uma das cidades de Europa onde mais se tem desenvolvido o diálogo inter-religioso, como uma grande metrópole cosmopolita.
Como cidadão só posso dizer que considero que devemos trabalhar para concretizar este projecto, que representa um contributo insubstituível para construir uma Lisboa futura que seja uma terra de harmonia.
domingo, outubro 14, 2007
DIA MUNDIAL PARA A ERRADICAÇÃO DA POBREZA
CONVITE
Caras (os) Amigas (os)
No próximo dia 17 de Outubro, Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, a CIVITAS - Associação para a promoção dos direitos dos cidadãos e a Associação ATD- QUARTO MUNDO promovem, em conjunto, uma iniciativa de luta contra a pobreza.
Vimos convidar-vos a que se reúnam connosco e com pessoas que recusam a situação de exclusão de que são vítimas, junto à Laje em granito preto sob o Arco da Rua Augusta, em Lisboa, pelas 12 horas do dia 17 de Outubro. Esta Laje, que aí colocámos em 1994, assinala a nossa solidariedade com a luta contra a pobreza levada a efeito pela ATD/Quarto Mundo, associação fundada em 1957 pelo padre Joseph Wresinski. Como nela se lê: «Onde os homens estão condenados a viver na miséria / aí os direitos humanos estão violados. /Unir-se para os fazer respeitar é um dever sagrado».
Daremos a voz a pessoas que lutam contra a situação de exclusão e de pobreza e reafirmaremos a nossa determinação em continuar a luta pela dignidade e pelos direitos de todos os seres humanos. Apelamos à unidade de todos nesta luta, em espírito de fraternidade.
CONTAMOS COM A SUA PRESENÇA
CIVITAS – Associação para a promoção dos direitos dos cidadãos
Associação ATD-QUARTO MUNDO
Caras (os) Amigas (os)
No próximo dia 17 de Outubro, Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, a CIVITAS - Associação para a promoção dos direitos dos cidadãos e a Associação ATD- QUARTO MUNDO promovem, em conjunto, uma iniciativa de luta contra a pobreza.
Vimos convidar-vos a que se reúnam connosco e com pessoas que recusam a situação de exclusão de que são vítimas, junto à Laje em granito preto sob o Arco da Rua Augusta, em Lisboa, pelas 12 horas do dia 17 de Outubro. Esta Laje, que aí colocámos em 1994, assinala a nossa solidariedade com a luta contra a pobreza levada a efeito pela ATD/Quarto Mundo, associação fundada em 1957 pelo padre Joseph Wresinski. Como nela se lê: «Onde os homens estão condenados a viver na miséria / aí os direitos humanos estão violados. /Unir-se para os fazer respeitar é um dever sagrado».
Daremos a voz a pessoas que lutam contra a situação de exclusão e de pobreza e reafirmaremos a nossa determinação em continuar a luta pela dignidade e pelos direitos de todos os seres humanos. Apelamos à unidade de todos nesta luta, em espírito de fraternidade.
CONTAMOS COM A SUA PRESENÇA
CIVITAS – Associação para a promoção dos direitos dos cidadãos
Associação ATD-QUARTO MUNDO
domingo, outubro 07, 2007
FADOS DE CARLOS SAURA
O Fado é uma expressão musical que está profundamente enraizada em Lisboa e em Portugal, a partir do primeiro quartel do século XIX, que merece ser reconhecido como fazendo parte do património cultural imaterial da humanidade pela UNESCO.
O filme «Fados» de Carlos Saura, que contou com excelentes assessores como Carlos do Carmo e Rui Vieira Nery, é um contributo positivo para suportar essa candidatura, que é fundamental levar para a frente com inteligência e determinação.
É um olhar informado, interessado e interessante sobre o Fado na sua pluralidade, tendo o cuidado de o relacionar com outras músicas lusófonas e inclusive de o colocar em diálogo com o flamenco.
A ligação de Portugal a África e ao Brasil foi muito bem entendida por Carlos Saura, que a sublinha quer no que se refere às raízes do próprio género Fado, quer às ligações e múltiplas contaminações que podem estabelecer produtivamente com alguma música que se faz no mundo lusófono.
É preciso uma grande atenção à génese do Fado para incluir o lundum brasileiro e uma grande valorização das ligações a outras músicas lusófonas como a morna de Cabo Verde, com Lura, nascida em Lisboa e o Kola Son Jon, interpretado por um grupo do bairro da Cova da Moura (Amadora).
Há alguns achados como é, por exemplo, a evocação da Severa através de um romance de cordel ou a homenagem a Alfredo Marceneiro pelo grupo de hip-hop NBC e SP& Wilson.
Resulta interessante a forma como se presta homenagem a Amália através da recuperação de imagens de um ensaio e como se liga com a interpretação por Caetano Veloso do fado Estranha Forma de Vida.
A cena da casa de fado com Vicente da Câmara, rodeado de um conjunto de jovens fadistas resulta também muito bem.
A montagem das imagens do 25 de Abril, da saída dos presos políticos de Caxias e do 1 de Maio de 1974, foi bem conseguida, começando com umas estrofes da Grândola, Vila Morena e terminando, de forma algo irónica, com o Fado Tropical de Chico Buarque.
Carlos do Carmo, que foi um dos inspiradores do filme, constitui com Camané e Mariza o núcleo duro dos fadistas, mas todos os outros merecem referência positiva desde os mais experientes como Argentina Santos, até aos mais jovens.
O diálogo musical que se estabelece entre Marisa e o cantor de flamenco Miguel Poveda com base no Meu Fado Meu é um momento alto do filme.
Poder-se-á discutir a forma como o filme foi construído, como uma sucessão de quadros, a inserção da dança, mas temos de reconhecer que mostra o Fado como realidade musical viva, como um rio musical que extravasa para além das margens em que o querem limitar.
O facto de outras aproximações serem possíveis, de haver sempre omissões de acordo com os critérios de cada um, em nada diminui o filme de Carlos Saura.
Este filme irá levar muita gente a começar a interessar-se pelo Fado ou ouvi-lo com uma atenção nova e poderá inspirar novas iniciativas de divulgação que tenham em conta, não só a história do Fado, mas também a consciência de que qualquer género musical vive não apenas das tradições, mas também das contradições e do diálogo que estabelece com outros géneros musicais.
Os que quiserem conhecer a música de que é feito este filme dispõe da edição da banda sonora de Fados, já nos circuitos comerciais.
Este filme merece ser visto, ouvido e discutido, e estou certo que será um êxito.
Espero que seja utilizado como mais uma alavanca para a ofensiva necessária para consagrar o Fado como património cultural imaterial da humanidade.
O filme «Fados» de Carlos Saura, que contou com excelentes assessores como Carlos do Carmo e Rui Vieira Nery, é um contributo positivo para suportar essa candidatura, que é fundamental levar para a frente com inteligência e determinação.
É um olhar informado, interessado e interessante sobre o Fado na sua pluralidade, tendo o cuidado de o relacionar com outras músicas lusófonas e inclusive de o colocar em diálogo com o flamenco.
A ligação de Portugal a África e ao Brasil foi muito bem entendida por Carlos Saura, que a sublinha quer no que se refere às raízes do próprio género Fado, quer às ligações e múltiplas contaminações que podem estabelecer produtivamente com alguma música que se faz no mundo lusófono.
É preciso uma grande atenção à génese do Fado para incluir o lundum brasileiro e uma grande valorização das ligações a outras músicas lusófonas como a morna de Cabo Verde, com Lura, nascida em Lisboa e o Kola Son Jon, interpretado por um grupo do bairro da Cova da Moura (Amadora).
Há alguns achados como é, por exemplo, a evocação da Severa através de um romance de cordel ou a homenagem a Alfredo Marceneiro pelo grupo de hip-hop NBC e SP& Wilson.
Resulta interessante a forma como se presta homenagem a Amália através da recuperação de imagens de um ensaio e como se liga com a interpretação por Caetano Veloso do fado Estranha Forma de Vida.
A cena da casa de fado com Vicente da Câmara, rodeado de um conjunto de jovens fadistas resulta também muito bem.
A montagem das imagens do 25 de Abril, da saída dos presos políticos de Caxias e do 1 de Maio de 1974, foi bem conseguida, começando com umas estrofes da Grândola, Vila Morena e terminando, de forma algo irónica, com o Fado Tropical de Chico Buarque.
Carlos do Carmo, que foi um dos inspiradores do filme, constitui com Camané e Mariza o núcleo duro dos fadistas, mas todos os outros merecem referência positiva desde os mais experientes como Argentina Santos, até aos mais jovens.
O diálogo musical que se estabelece entre Marisa e o cantor de flamenco Miguel Poveda com base no Meu Fado Meu é um momento alto do filme.
Poder-se-á discutir a forma como o filme foi construído, como uma sucessão de quadros, a inserção da dança, mas temos de reconhecer que mostra o Fado como realidade musical viva, como um rio musical que extravasa para além das margens em que o querem limitar.
O facto de outras aproximações serem possíveis, de haver sempre omissões de acordo com os critérios de cada um, em nada diminui o filme de Carlos Saura.
Este filme irá levar muita gente a começar a interessar-se pelo Fado ou ouvi-lo com uma atenção nova e poderá inspirar novas iniciativas de divulgação que tenham em conta, não só a história do Fado, mas também a consciência de que qualquer género musical vive não apenas das tradições, mas também das contradições e do diálogo que estabelece com outros géneros musicais.
Os que quiserem conhecer a música de que é feito este filme dispõe da edição da banda sonora de Fados, já nos circuitos comerciais.
Este filme merece ser visto, ouvido e discutido, e estou certo que será um êxito.
Espero que seja utilizado como mais uma alavanca para a ofensiva necessária para consagrar o Fado como património cultural imaterial da humanidade.
Subscrever:
Mensagens (Atom)