Boaventura de Sousa Santos
constrói a sua argumentação a partir da constatação de que, por um lado, a
grande maioria da população mundial não é sujeita de direitos humanos e de uma
pergunta “(…) sendo os direitos humanos a
linguagem hegemónica da dignidade humana (..) os grupos sociais oprimidos não
podem deixar de perguntar se os direitos humanos sendo parte da mesma hegemonia que consolida e legitima a opressão, não poderão ser usados para a subverter? (…)
de modo contra-hegemónico?” O que conduz a outras perguntas, nomeadamente,
sobre que outras linguagens de dignidade existem no mundo e se existindo, são compatíveis com a linguagem
dos direitos humanos.
É a partir deste pondo de partida
que se dá o encontro crítico com as teologias políticas inspiradas pelo
cristianismo, islamismo e judaísmo, bem como uma análise sobre as zonas de
contacto dos direitos humanos com as teologias políticas.
Segundo Boaventura de Sousa
Santos “Estes movimentos, crescentemente
globalizados, e as teologias políticas que os sustentam constituem uma
gramática de defesa da dignidade humana que rivaliza com a que subjaz aos
direitos humanos e muitas vezes a contradiz. As conceções e práticas
convencionais ou hegemónicas dos direitos humanos não são capazes de enfrentar
esses desafios nem sequer imaginam que seja necessário fazê-lo.”
São particularmente estimulantes
do debate teológico e político os termos da resposta que procura dar aos
desafios referidos, que designa como uma conceção pós-secularista dos direitos
humanos, e o laço de cumplicidade que considera possível estabelecer entre o
que denomina os direitos humanos contra-hegemónicos e teologias progressistas.
A luta contra o sofrimento humano
injusto, contra a trivialização do sofrimento humano nos nossos dias, parece
poder permitir ligar o retorno de Deus a um humanismo insurgente,
trans-moderno, concreto.
São muitas e contraditórias as
teologias políticas, que se afrontam atualmente, das teologias fundamentalistas
às que denomina teologias progressistas, as quais considera “podem ajudar a recuperar a «humanidade» dos
direitos humanos”.
O seu argumento resume-se nestes
termos.”(…) um diálogo entre os direitos
humanos e as teologias progressistas é não só possível como é provavelmente um
bom caminho para desenvolver práticas verdadeiramente interculturais e
mais eficazmente emancipadoras (…) o resultado será uma ecologia de concepções
de dignidade humana, algumas seculares, outras religiosas(…)”.
Assentando num amplo conhecimento, inclusive, das
teologias de libertação é, pela força das coisas, um livro inacabado. Muitas
páginas estão-lhe a ser acrescentadas, o que é também um elogio, pelas lutas
libertadoras no mundo, designadamente, de hegemonia islâmica, conduzidas por
mulheres e homens animados pela fé islâmica, mas também por outros, igualmente muçulmanos, cristãos, ou agnósticos, que baseiam
o seu combate libertador em leituras seculares do islão, que desconfiam das
teologias políticas islâmicas mesmo as que têm um registo libertador.
É um livro de leitura e de debate incontornável. Pretendemos sinalizar a sua importância, concordando com a linha geral da sua argumentação.
Sem comentários:
Enviar um comentário