domingo, janeiro 04, 2009

SHIRIN EBADI E A LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS NO IRÃO

Na passada semana verificaram-se novas ameaças e provocações contra Shririn Ebadi, a advogada iraniana, a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Paz em 2003 pela sua luta pela democracia e pelos direitos humanos, especialmente das mulheres e das crianças, como foi sublinhado pela Comissão Nobel aqui.
Shirin Ebadi é uma mulher muçulmana e uma advogada corajosa, que podem conhecer melhor aqui e de que recomendo a leitura do livro “O Despertar do Irão”, escrito em colaboração com Azadeh Moaveni, publicadas em português pela Guerra e Paz, em 2007.
Recordo estes factos para situar a escalada de provocações e de repressão, que tem tido como alvo Shirin Ebadi e os defensores dos direitos humanos no Irão, que Marco Oliveira tem denunciado com frequência no blogue Povo de Bahá, como podem ver, designadamente aqui e aqui.
Na passada quinta-feira, a casa de Shirin Ebadi foi atacada por centena e meia de manifestantes, que conseguiram arrancar o placard do seu escritório de advocacia que se localiza no mesmo edifício e escrever provocações nas paredes, antes de dispersarem após a intervenção da polícia.
Aproveitando o clima de emoção gerado pela intervenção israelita em Gaza, que ela, condenou, tem prosseguido a ofensiva que a visa silenciar e a todos os defensores dos direitos humanos. O pretexto é acusá-la de apoiar, contra todas as evidências que demonstram que não é verdade, o que qualificam «crimes cometidos pela América e por Israel».
Estamos perante acções de intimidação programadas, que temos motivos para recear que não fiquem por aqui se não se verificar uma atitude generalizada de denúncia e de repulsa por parte das instituições e da opinião pública internacional. O seu escritório de advocacia tinha sido alvo de buscas três dias antes da verificação da manifestação de que foi alvo. O Círculo de Defesa dos Direitos Humanos (Defenders of Human Rights Center- DHRC), associação filiada na Federação Internacional dos Direitos Humanos, de que é a personalidade mais conhecida internacionalmente, foi objecto de buscas sem mandato judicial e encerrado pela polícia no dia 21 de Dezembro de 2008, como o Observatório para a Protecção dos Direitos Humanos denunciou aqui.
A luta desta mulher e dos seus companheiros iranianos deve merecer a nossa solidariedade. Temos razões para perceber bem o significado dessa luta. Quando penso nas pressões e dificuldades com que Shirin Ebadi se confronta para defender cidadãos injustamente perseguidos, recordo-me da profunda emoção que senti, quando era um jovem advogado estagiário, e pude assistir à defesa de um grupo de jovens no Tribunal Plenário, pelo advogado Francisco Salgado Zenha, perante a parcialidade dos juízes e a omnipresença dos agentes da PIDE /DGS na sala.
A FIDH já tinha denunciado em Setembro de 2007 a repressão da sociedade civil na República Islâmica do Irão e que se tem traduzido em inúmeras violações dos direitos humanos dos defensores dos direitos das mulheres, de sindicalistas, de estudantes e de jornalistas, bem como na aplicação da pena de morte por motivos políticos e por crimes sexuais, incluindo execuções por lapidação, como podem ver aqui.
Os direitos humanos são espezinhados no Irão e é por esse motivo que se verificou o encerramento do Círculo de Defesa dos Direitos Humanos (Defenders of Human Rights Center - DHRC), a única ONG independente no Irão que se batia pelos direitos humanos.
A União Europeia deve continuar a pressionar o Irão, como fez a presidência francesa nos seus últimos dias, manifestando ao embaixador do Irão a sua reprovação face às ameaças inaceitáveis que pesam sobre Shirin Ebadi e responsabilizando as autoridades iranianas pela sua segurança.
Cabe-nos, como cidadãos, denunciar a violação dos direitos humanos no Irão e continuar atentos e informados sobre a evolução desta situação.
Quando Shirin Ebadi e os membros do Círculo de Defesa dos Direitos Humanos lutam pelos direitos humanos, não estão apenas a lutar pelos direitos dos iranianos, estão também a lutar pelos nossos direitos. Os direitos humanos são universais e os avanços e os recuos no respeito pelos direitos humanos num país com a importância política e estratégica do Irão, têm fatalmente reflexos nos países europeus.
Imgem retirada do sítio da FIDH (Federação Internacional dos Direitos do Homem) aqui.

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