domingo, novembro 04, 2007

A II CIMEIRA UE-ÁFRICA-UM NOVO RELACIONAMENTO A PARTIR DE 2008

Na semana passada foram dados passos decisivos para o sucesso da II cimeira UE-África. Na reunião realizada no Gana com a participação do Ministro Luís Amado, ficaram delineados os documentos relativos à Parceria Estratégica e ao Plano de Acção, segundo “O Público” de 3 de Novembro de 2007, que afirma ter tido acesso ao esboço desses documentos.
O sucesso desta reunião tem o significado de que está a decorrer bem a preparação da Cimeira, já que o mais difícil do trabalho de negociação é feito antes da sua realização.
As duas organizações UE e União Africana terão, segundo a mesma fonte definido como acções prioritárias: «Paz e Segurança, Governação Democrática e Direitos Humanos, Comércio e Integração Regional, a criação de condições para os países africanos atingirem os objectivos relativos ao acesso à saúde e educação, definidos pela ONU como Objectivos do Milénio, o Ambiente, a Energia, ou a Imigração entre outras».
Num mundo cada vez mais perigoso, é muito positivo que a UE e a União Africana se proponham juntas «promover e apoiar um sistema de multilateralismo efectivo e instituições multilaterais legítimas e fortes». Este poderá ser um contributo muito importante para reduzir e prevenir conflitos.
Existe uma vontade de passar das palavras aos actos e esta Cimeira irá contribuir positivamente não apenas para um melhor relacionamento entre os dois continentes, ligados desde sempre, mas que ensaiam, pela primeira vez na história, um relacionamento assente na igualdade e na definição de objectivos comuns livremente assumidos.
Esta Cimeira vai ocorrer num momento em que, além dos Estados Unidos da América, todas as grandes potências emergentes China, Brasil e Índia mostram um interesse acrescido por uma maior presença em África. Seria totalmente insensato a UE fazer tábua rasa dos laços históricos, culturais, económicos e humanos que unem os dois continentes e não dar um salto qualitativo na relação entre os dois continentes.
Já referi aqui as razões pelas quais considero fundamental a realização desta Cimeira e a construção de uma Parceria Estratégica UE-África. É muito positivo que a Presidência portuguesa tenha persistido, com determinação, na preparação cuidadosa desta Cimeira, apesar de alguma opinião publicada, que tem criticado a sua realização, tomando como pretexto a presença de Robert Mugabe.
Nesta crítica, confundem-se duas posições: a dos que aproveitam essa eventual presença para atacar a realização de uma Cimeira que no seu eurocentrismo arcaico e pré-globalização consideram dispensável; a daqueles que estão sinceramente indignados com a sistemática violação dos direitos humanos por parte de Robert Mugabe.
Não há dúvidas que as críticas a Robert Mugabe são justificadas, mas o que está em causa não é a legitimação do seu governo, mas sim o compromisso dos dois continentes de promoverem os direitos humanos e a governação democrática. Depois de Mugabe ser levado a aprovar os textos da Cimeira, a oposição a Robert Mugabe passará a ter uma legitimação acrescida para o acusar de não respeitar os direitos humanos, nem as regras da governação democrática, nem sequer os compromissos assumidos perante a UE e a União Africana.
Mugabe não é, aliás, o único dirigente que poderá ser acusado de violar os direitos humanos e de não assegurar uma governação democrática, que irá estar presente, mas o mesmo argumento vale para a presença dos restantes.
Falemos claro, o mundo está cheio de graves violações aos direitos humanos, mas não creio que ao contrário do que pensa a nova direita americana, a solução seja esperar que a força das armas e as invasões, como a do Iraque, criem novas democracias. Tem que se dar oportunidade à diplomacia para que possa contribuir para o progresso do respeito pelos direitos humanos e das regras de governação democrática, sem deixar de apoiar todos os que se batem pela democracia e pelos direitos humanos.
À medida que se aproxima a data da realização da Cimeira, para muitos europeus e africanos, cresce a esperança de que seja possível iniciar um novo relacionamento a partir de 2008.

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