domingo, junho 12, 2005

MARIZA E O FADO

A música é uma das dimensões culturais emergentes da Língua Portuguesa no Mundo. O português é uma língua literária e científica, mas é também a língua em que são cantadas as canções de Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Betânia, Milton Nascimento, Adriana Calcanhoto, Amália, José Afonso, os Madrededeus , Vitorino, Janita Salomé, Mariza e toda a nova geração que tem dado um novo impulso criador ao fado, que engloba, entre outras, vozes como Mafalda Arnauth, Cristina Branco, Camané, Ana Moura, Kátia Guerreiro e Mísia.
O fado deverá vir, aliás, a ser consagrado como património cultural da humanidade. O anúncio da apresentação da candidatura foi feito há muito pelo Município de Lisboa, mas nada de sério parece ter sido feito no sentido de a promover.
Ressalva-se o trabalho notável de divulgação do fado promovido pelo jornal Público, com os “100 Anos do Fado” (1904-2004), e em que merece ser sublinhada a acção da Rui Vieira Nery.
A força do fado está, decerto, nas letras e nas músicas, mas as vozes tornam inesquecíveis muitos fados, susceptíveis de diferentes interpretações.
Como escreveu Mariza referindo-se ao fado “A expressão cultural de um povo é intemporal e evolutiva”. O fado é expressão da nossa mestiçagem cultural. A guitarra portuguesa combina-se com melodias que mergulham as suas raízes nas nossas raízes africanas e mediterrâneas.
Não é, por acaso, que “A Canção do Mar” um dos mais internacionais dos nossos fados, interpretado de forma igualmente magnífica por Amália, Dulce Pontes ou Mariza, tem por base uma melodia tunisina.
Tudo isto vem a propósito da edição por Mariza do álbum “Transparente”. O impacto que está a ter ultrapassa as fronteiras portuguesas e projecta ainda mais o fado a nível internacional.
O jornal Le Monde, em textos, republicados na magnífica edição portuguesa do Courrier Internacional n.5, dá conta da vitalidade do fado e do papel que Mariza tem desempenhado na sua revitalização, contribuindo para “uma reflexão profunda sobre o fado e a lusofonia”. Ao afirmar o fado como património cultural da humanidade, há que sublinhar o seu parentesco com outras sonoridades desde alguma música do Magrebe, a morna de Cabo Verde, e segundo tem sido afirmado alguma música da costa ocidental africana.
Seja qual for o grau de parentesco que lhe seja possível reconstituir, o fado é uma realidade viva, na diversidade dos seus caminhos, de vozes e de intérpretes. Mas é uma realidade viva não apenas porque há vozes como a de Mariza que ganham merecida projecção internacional, mas porque há muita gente anónima que o canta e o ouve com entusiasmo. Quem não teve ainda oportunidade de o ouvir cantar nos mais improváveis locais, levado por amigos e descobriu vozes magníficas que eram e continuaram anónimas, ainda não descobriu donde vem esta vitalidade.
Esta semana ao homenagear Mariza e o fado, não ignoro o contributo que outras vozes, outras músicas e outras canções em português dão para afirmar a Língua portuguesa no Mundo.
Há um tempo para tudo, hoje é a vez de Mariza e do fado.

2 comentários:

jomanros disse...

Até na música somos demasiado brandos. Mariza é um fenómeno mas o fado é uma música demasiado triste, uma música de dor e resignação e não um meio de marcarmos um ritmo de despertar para um futuro diferente. Não são os ritmos que levantam um país da fossa, senão o Brasil era uma superpotência. Mas pelo ritmo do fado ningém se sente acelerado - lembro-me de uma vez ter ouvido umas belas turistas escandinavas a gozar com o som que vinha de uma casa de fados, riam à gargalhada enquanto uma fingia chorar ou mesmo ganir. Ainda continuo a pensar que Carlos Paredes é que deveria ter sido mais divulgado porque nas mãos desse fenómeno até o fado tinha um ritmo alucinante...

Unknown disse...

No passado dia 17 tive o privilégio de poder assistir a um concerto da Mariza em Viena e foi muito bonito ver como conseguiu conquistar o público com a sua voz, postura e personalidade, quando o número de portugueses a assistir era muito reduzido. ´Foi de facto um concerto magnífico!